quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O LUAR DE SAPUCAIA: A HERDEIRA - MINI NOVELA





* Republicando novamente para quem ainda não leu, ter essa oportunidade. Jane é uma das personagens do meu livro: 
A TRILOGIA DO "CÍRCULO", que começa exatamente com essa trama:


Acabava de chegar ao lugar, repassava em sua mente, os acontecimentos que a levaram até ali...
Um homem baixo, atarracado, de óculos fundo de garrafa e uma gravata que nada combinava como terno, chegou ao seu escritório pela manhã, dois dias antes.
Procurava com olhos atentos quem viesse lhe atender, tocou a campainha...
Jane, que estava no lavabo, respondeu lá de dentro:

_ Já vou, aguarde apenas um momento!

O homem se sentou em uma das cadeiras de couro preto, perto do bebedouro de garrafão. Estava com calor, bebeu um pouco d´água geladinha, e no seu pensamento, reclamava do calor do Rio de Janeiro já aquelas horas da manhã...
Jane apareceu então, e ele se levantou num salto.
Disse então com a voz trêmula:

_ Srta Jane?
_ Sim, eu mesma. O que deseja?
_ O assunto que me traz aqui, é delicado. Sou Jorge Britto, advogado.
A srta é agora herdeira de um primo distante, que não tinha esposa, filhos, nem sobrinhos,
chamava-se Patrick Alves Lima. Um solitário, que Deus o tenha...
_ Ah, sim? Desconhecia esse primo, mas prossiga, por favor.
_ Ele vivia até a sua morte brusca, na pequena Sapucaia, no interior do estado. Pediu-me como seu advogado, que buscasse algum parente vivo ainda, para deixar seu patrimônio. Pesquisando, cheguei até seu nome. E aqui estou, cumprindo meu dever.
_ Sim, é verdade que lamentavelmente a família foi se acabando, morriam na maioria do coração e agora ninguém me resta... Mas me responda: Como foi a morte "brusca" desse meu primo?
_ Bem, o que se sabe que ele andava sem falar com ninguém cerca de uma semana antes do acontecido, inclusive o celular dele foi encontrado desligado, dentro do carro, que estava totalmente aberto.
O corpo boiava no rio, perto de seu sítio. A polícia local investiga o caso. Mas isso fica com os
peritos... A minha parte é deixar com a srta, esses papéis, e leia com muita calma. O resto terá de
ser feito em Sapucaia mesmo, no cartório. A srta terá de ir até lá, para assim poder dar entrada nos trâmites e receber tudo que lhe é de direito.
_ O senhor estará lá, para me orientar?
_ De certo que sim. Deixo meu cartão para tirar qualquer dúvida. Quando poderá ir até Sapucaia?
_ Depois de amanhã, porque terei que deixar tudo certo aqui, arrumar alguém para cuidar de minhas coisas até meu retorno.
_ Claro, claro... Então nos encontramos na praça central da cidadezinha, às 11:30h depois de amanhã, está bem para a srta?
_ Ok, estarei lá. Tenha um bom dia!
_ O mesmo, srta Jane...

Ele respondeu pensando:
" E quem tem um bom dia, nesse calor de 40 graus?"

*******************************************************************************

Jorge Britto fechou a porta atrás de si e Jane ainda olhou por um momento para os papéis que
estavam em suas mãos.
Pensou para si:
"Depois eu cuido de ler tudo isso. Agora ao trabalho, Jane! Você tem muito o que fazer até viajar para Sapucaia..."
Há mais ou menos 2 anos, investiu no seu escritório. Era um negócio pouco conhecido:
Gerenciava uma firma de prestação de serviços, e ao seu comando, estavam empregadas
domésticas, eletricistas, bombeiros hidráulicos, jardineiros, motoristas particulares, etc...
Teria que deixar alguém de sua confiança para cuidar da firma, e ainda alimentar seus peixinhos no aquário de sua casa. Ao fim do dia, já havia conseguido:
Lembrou da antiga vizinha, que conhecia desde os tempos de menina, para cuidar dos peixinhos e deixar a luz de fora da casa acesa, durante a noite.
Para gerenciar a firma no seu lugar, chamou sua amiga íntima: Lorraine. Elas eram como unha e carne, dividiam até seus pensamentos, se isso fosse uma coisa possível!
Respirou fundo, tudo certo...
Sapucaia aí vou eu! Pensou, enquanto escolhia a roupa para a sua pequena mala.


A praça era bem agradável. Jane percorreu com os olhos tudo à sua volta. Era muito limpinha a cidade... Ah, se o Rio fosse como nas pequenas cidades do interior, pensou...
Deu uma voltinha pelo lugar, e achou bonita a fachada da prefeitura.
Olhou para o relógio, e verificou que já estava quase na hora marcada, para o encontro com Jorge Britto.
Procurou um lugar para sentar, reconheceria de onde estivesse, aquele homem...
Já para o advogado, a lembrança dos olhos encantadores de Jane, não era fácil esquecer...
Reparou que ela era uma bela morena de trinta anos. Corpo razoável, dedos curtos, cabelos cacheados que faziam de seu rosto uma moldura perfeita!
Mas sabia, dentro de si: Jamais tal mulher olharia para ele com outros olhos, sua figura era realmente sem graça...
Mesmo assim, também era ele um homem muito bem casado, por sinal...


Jane estava vestida com um bonito conjunto de blusa e saia, azul anil.
O homem chegou e pareceu bem suado, como se tivesse corrido para estar ali a tempo.
Enxugou com um lenço que tirou da calça, o suor que descia pela testa.
Disse para Jane:
_ Bom dia, srta Jane. Apesar desse calor... Como vai?
_ Bem obrigada, sr Britto. Vamos cuidar das coisas pendentes então?
_ Sim, a caminho do cartório vou lhe falando sobre seus novos bens.
Jane ficou surpresa em saber que agora além de ter uma nova casa de 4 quartos, varanda e quintal
imensos e ser dona de um pequeno sítio, ainda teria uma boa quantia em dinheiro transferida para sua conta, que seu primo deixara no banco.
Parecia que tudo estava indo bem demais para ser verdade, embora teve uma ponta de
arrependimento de pensar dessa forma:
Afinal, era pela morte do primo que estava ali tomando posse de tais bens...
Não sabia o quanto isso mudaria sua vida, daquele momento em diante...


Jane foi atendida rapidamente no cartório, afinal, o sr Jorge Britto era um advogado muito conhecido no lugar, sendo assim, tudo foi resolvido. Ao sair dali ele a convidou para um almoço, já passava de 12:30h, e Jane estava com muita fome aquelas alturas...
Jorge Britto a levou em um dos restaurantes que almoçava sempre, e Jane achou muito agradável e limpo, o lugar. Conversavam sobre a cidade e coisas corriqueiras...
A certa altura da conversa, ele perguntou o que ela faria de agora em diante, com os bens que acabara de herdar.

_ Desculpe a curiosidade, srta Jane, mas é que eu cuidei do caso para meu amigo Patrick, então...
_ Não há problema nenhum na sua pergunta. Apenas ainda não me decidi, terei que estudar como vou conciliar meu escritório no Rio, com as coisas daqui de Sapucaia... Mas me diga: Era amigo de meu primo, há muitos anos?
_ Sim. Desde a escola secundária. Depois cursamos a mesma Universidade, em cursos diferentes:
Ele, Biologia e eu Direito, mas sempre estávamos juntos. Era um ótimo amigo...
_ E como ele era na vida social?
_ Tinha uma meia dúzia de amigos, não tanto como nossa amizade, porque éramos como irmãos...
_ Ah, como eu e Lorraine.
Ao ouvir esse nome, Britto ficou atento, e perguntou:
_ Lorraine, é sua melhor amiga, de onde ela é?
_ Sim, ela é. Mas acho que ela é catarinense, pelo menos a mãe dela eu sei que era... Na verdade, nunca perguntei de onde ela era...
Nos conhecemos pouco mais de 3 anos, antes de abrir minha firma, mas é como se estivéssemos sempre juntas desde a infância. Sabe que até os nossos pensamentos são parecidos?
E ALÉM DISSO, TODA AQUELA SENSAÇÃO DE FAMILIARIDADE DESDE QUE FOMOS APRESENTADAS A
PRIMEIRA VEZ... Pensou Jane...
Um amigo em comum nos apresentou, chamava-se Breno. Continuou...

_ Chamava-se, morreu então?
_ Sim, uma pena! Era uma boa pessoa. Faz um ano da morte dele. Aparentemente era bem
saudável, mas de um momento para o outro um ataque cardíaco, o levou...
O advogado ainda filosofou:
_ A morte não escolhe, ela simplesmente chega para todos!
E Jane assentiu com a cabeça, terminando seu almoço e pedindo um café ao garçom.
Saíram do recinto e Jane apertou a mão de Britto agradecendo. Mas de súbito, perguntou:
_ Sr Britto, devo alguma coisa? Quem paga seus honorários?
_ De forma nenhuma. Não se preocupe, Patrick me pagou muito bem pelo serviço, antes de sua morte... Aqui estão suas chaves, da residência na cidade e a do sítio. E quanto ao dinheiro: Será transferido para sua conta, o mais rápido possível. Então até outra hora, srta Jane...

_ Sim, até logo, e mais uma vez obrigada.

O advogado seguiu rapidamente tal como chegara antes, na praça.
Jane se perguntou se ele era sempre apressado assim...


Jane tomou um táxi na praça e rumou para sua nova propriedade.
Levou um susto ao perceber como era grande, de portões gigantescos... Pagou o táxi e abriu os portões, havia uma calçada cimentada ladeada por uma grama bem cuidada, árvores frutíferas,
um poço antigo que dava ao lugar um "que" de nostalgia...
Abriu a porta da casa, que era de madeira maciça, bem talhada.
Ao entrar, percebeu que ali havia objetos de Arte de grande valor de um lado, e potes de vidro com cobras no formol, de outro...
‘Natural’, pensou... Meu primo era biólogo...
Andou pela casa explorando, deu então no escritório de Patrick. Lá as paredes eram revestidas de tábuas corridas e o chão também. Numa das paredes, viu um retrato pintado à óleo de uma bela mulher loira, que repentinamente lembrava alguém...
Reparou também que havia alguns porta retratos de seu primo com amigos, presumiu...
Mas uma foto lhe chamou a atenção instantaneamente:
Era Lorraine e ele, abraçados!
Como poderia ser isso? Ela nunca havia mencionado que o conhecia, nem o seu nome! Muito estranho...
Pegou o celular da bolsa e ligou:

_ Alô, Lorraine? Tudo bem por aí, amiga?
_ Oi, tudo ok, Jane. E você, já resolveu tudo, quando volta?
_ Sim, tudo acertado aqui. Voltarei amanhã pela manhã. Agora estou dentro da casa, conhecendo tudo de meu primo Patrick. E sabe de uma coisa? Ele tinha muitas fotos com seus amigos, apesar de ser solitário!
_ É mesmo?
_ Sim, e numa delas está você!

Um silêncio de segundos pairou no ar.
Lorraine pensou rápido:

_ Amiga, deve ser alguém bem semelhante. Eu não o conhecia.
_ Não! Era você na foto, tenho certeza! Por que não admite, o que está escondendo?
_ Quando você voltar, Jane... Quando você voltar...

Desligou o telefone.
Lorraine achou tudo muito estranho, ela nunca agira assim antes...
‘Há um mistério aí, e eu vou descobrir amanhã’.


Jane olhou pela janela do quarto que escolhera para dormir naquela primeira vez em Sapucaia.
O luar era lindo! Nunca vira a lua daquela forma tão brilhante, cheia e próxima..
Parecia que estava apenas a 1 km da Terra! Isso a magnetizou.
"O luar de Sapucaia, é o mais lindo que já vi, acho que me encantei com essa cidade, quem sabe, abro uma filial aqui e me estabeleço de vez? Mas antes, tenho que saber de algumas coisas sobre
Lorraine. Ela estava muito diferente, e nunca havia dado com o telefone sem se despedir de mim..."
Pensava, enquanto admirava aquele luar singular..
.

E no Rio, Lorraine estava preocupada, uma nuvem cinza passava por sua mente calculista:
"E se ela descobrir tudo, o que faço? O que vou dizer amanhã para ela?
Tenho que procurar Rubens, ele me dirá o que fazer."

Ligou para ele, disse que era muito importante, marcando um encontro no bar da mãe Rubens.
Saiu em disparada para o bairro onde ele morava: Era um lugar feio, ruas escuras, quase sem iluminação, pessoas estranhas que pareciam ladrões... Não gostava dali, mas era ali que ele vivia, e teria que lhe falar o mais rápido possível, ainda aquela noite.
Ali estava Rubens no bar, sentado, mexendo com seu baralho. Lorraine chegou e foi direto ao assunto:

_ Jane está desconfiada de mim. Viu uma foto minha e de Patrick, na casa de Sapucaia.
_ Bem sendo assim, temos que agir com cuidado, inventando uma desculpa: Diga para ela que não se lembrava dessa foto. Mas que uma vez, esteve naquela cidade com um grupo da faculdade, e ali foram apresentados... E como ele tirava muitas fotos com os colegas, a convidou para também tirar
uma, com ele. Ela "engolirá"!
_ Não sei, ela é muito esperta... Mas é o que me resta fazer... Se ela descobrir a verdade será nosso fim!
_ Sim, sim... Agora vai já ocupou muito meu tempo.
_ Ok. Te ligo depois.
_ Vai! Não escutou ainda?
_ Tá, tá...

Lorraine ficou pensando como suportava o mau humor de Rubens, talvez porque ele era ótimo amante. E seu físico bem malhado a atraía... Além do segredo, é claro, que os envolvia.
Saiu a passos largos, detestava estar ali. E pensar que tudo foi tramado em uma mesa daquele bar!


Jane ainda digeria tudo em sua mente, quando pegou o ônibus de volta ao Rio, pela manhã.
Ao chegar em casa, encontrou D. Matilde dando comida aos seus peixinhos. Deu um cordial " bom dia".
E ela respondeu:

_ Aqui correu tudo bem ontem, Jane. Bom dia para você também, vou embora, já que está de volta.
Olha, um sujeito andou rondando a vizinhança de noite. Tome cuidado, minha filha, porque ele não é conhecido daqui da região.
_ Ah, foi? Nossa! Eu agradeço ter cuidado da minha casa, D. Matilde.
_ Não agradeça Jane. Faço com gosto, afinal eu e sua falecida mãe, éramos amigas de longa data!
Te vi crescer, menina!
_ Eu sei.

D. Matilde entregou o vidrinho da comida de peixes nas mãos de Jane, que deu um beijo no rosto vermelho da senhora, enquanto fechava a porta da sala.

Jane lembrava agora do quadro pintado na parede do escritório de Patrick: Uma bela mulher loira que se parecia com alguém que conhecia...
Puxou pela memória fotográfica... Sim, era isso: Parecia com Lorraine, sendo um pouco mais velha, seria sua mãe?


Cristina Pires era muito bonita. Tanto, que naquele ano concorria a miss pelo estado de Santa Catarina. Tinha um lindo corpo e olhos verdes graúdos. Giovani Lima era o Relações Públicas do concurso.
Já havia um certo interesse no ar de ambas as partes. Ele resolveu chamar Cristina para jantar, queria impressionar.
Ela, de sua parte achava Giovani bem atraente e bem relacionado. Talvez lhe fosse bem útil no futuro. Queria ingressar na carreira de modelo fotográfico, ele poderia lhe ajudar nessa empreitada...
Aceitou o convite.
Lá pelas 21:00h estavam no restaurante muito bem escolhido por Giovani. Era adorável aquele ambiente, pensava Cristina...
O homem puxava os mais variados assuntos com ela, até que chegou na pergunta principal:

_ Cristina, o que fará se não for a nova miss Sta Catarina? Quais seus planos?
_ Sabe Giovani, penso em tentar carreira de modelo no Rio ou em São Paulo. Lá é que as coisas acontecem!
_ Sim, é verdade. Boa escolha, afinal você é linda!
_ Obrigada, você é gentil.
_ Eu vou para o Rio, tão logo acabe o concurso, quer ir comigo, se não conseguir ganhar?
_ Ora, não esperava por isso, esse convite de sua parte... Mas aqui não tenho ninguém, nada me prende em Srta Catarina. Se não conseguir me tornar miss, vou com você!
_ Certo. Brindemos então!

Os dias se passaram e ela não ganhou o concurso.  As malas já estavam prontas e ela partiu para a sua nova vida no Rio, ao lado de Giovani Lima.
Nunca chegou a ser modelo fotográfico, em vez disso, tornara-se a sra Lima. Dois anos e meio depois do casamento, ela dava a luz à uma linda loirinha:
Lorraine Pires de Lima!


A vida de Cristina foi ceifada por um trágico acidente de carro, quando ia do Rio para sua casa em Sapucaia. Giovani passara muitos momentos alegres com ela ali, quando resolveram comprar uma casa no interior do estado.
Agora a casa estava grande para ele e sua pequenina filha. Tomou coragem de assumir então, o seu caso com Adriana Alves, uma morena que havia conhecido ali mesmo em Sapucaia. Mesmo amando Cristina, tinha o sangue quente dos italianos, e de vez em quando "pulava a cerca"...

Um ano antes, Adriana também dava à luz um filho seu: Patrick. Ele ficou orgulhoso com a chegada de um filho homem, então o assumiu de vez. Trouxe Adriana e Patrick bebê, para morar na casa de
Sapucaia, junto com sua filha e ele.
As crianças cresciam juntas, mas algo incomodava Lorraine:
A preferência do pai pelo filho homem!
Ficava irritada com a diferença de tratamento que ele fazia. E ao longo dos anos, isso se tornou um tormento que ela não suportava mais. Nessa época, Giovani veio à falecer de um ataque cardíaco, assim como todos os seus parentes antes, inclusive seu jovem sobrinho Breno, tempos depois
dele...
Com a morte súbita de Giovani, Adriana fez de tudo para tornar cada dia de Lorraine, um verdadeiro caos, naquela casa. Ela queria ficar só com seu filho ali, dispensava a presença de Lorraine...
Tanto fez que ela saiu, mas antes de ir embora, procurou desesperada as jóias que tinham sido de sua mãe Cristina, em vão... Não achou, e disse em tom de vingança:

_ Um dia eu volto, acho as jóias e tomo o que é meu de direito!

Dito isso, deu as costas. E nunca mais ninguém soube de Lorraine, em Sapucaia.
Não levou muito tempo arquitetando sua vingança, meses depois Adriana também morria...


Naquela tarde Adriana recebeu um telefonema de alguém que conhecia Patrick. Dizia que Patrick estava em uma trilha, quando uma cobra o mordeu. O veneno era rápido. Ela teria de procurar no quarto dele, nas coisas da universidade, o soro anti ofídico. Mas precisava agir muito rápido, o tempo dele se esgotava...
Saiu em disparada com o carro, a estrada era muito ruim, ladeada por um barranco. Não
raciocinava direito, o coração acelerava...
Seu único filho! Não poderia viver sem ele!
Um carro a perseguia, ela não havia notado, mas em uma manobra, jogava o carro de Adriana, barranco a baixo...
Um homem parou o carro, e observava com um sorriso sarcástico nos lábios: Era Rubens. Pensou em segundos:
"Mais um bom trabalho feito!"


Uma voz do outro lado da linha, relatava os fatos...
Lorraine estava contente, porque a primeira parte de sua vingança começara... Desligou o telefone, já sabia agora da morte de Adriana.
Agora a segunda parte seria se aproximar de sua priminha distante: Jane!
Precisava um jeito... Procurou seu primo Breno no Rio, queria que ele indicasse uma boa firma de prestação de serviços. Ela sabia que Breno conhecia Jane, sem nunca adivinhar que também faziam parte da mesma árvore genealógica... Uma dessas coisas do destino!

Ele apresentou-as cerca de 3 anos antes, Lorraine contratou os serviços da firma, e aparentava interesse nas coisas de Jane... Ficaram muito amigas. "Amigas demais", pensou Breno...
O primo tornara-se um problema para Lorraine:
Era difícil ficar com Jane sem ele estar por perto o tempo todo, e isso não estava em seus planos.
Decidiu eliminá-lo. Ligou mais uma vez para Rubens...

_ Oi, sou eu. Tenho mais um ‘trabalhinho ’para você:
Acabe com meu primo Breno, antes que ele me atrapalhe... Não quero saber como, faça parecer um ataque cardíaco, afinal, todos morrem na família dessa forma... Ninguém estranhará...
_ Ok, mas sua conta só cresce comigo...

Rubens desligou o telefone e já sabia como dar um fim em Breno. Afinal eram amantes também...
Bastava uma bebidinha preparada, e não deixaria vestígios... Seria um parada cardíaca rápida.
"Uma pena, pensou... Breno era um bom amante!"


O nome de Lorraine não saía da cabeça de Jorge Britto...
"Seria a irmã de Patrick? Pelo que disse Jane, a mãe dela era catarinense, confere...
Mas se fosse ela, porque não mencionara que era prima, mesmo distante haviam laços...
Estranho, muito intrigante tudo isso".
Pensou em ligar para Jane, e fazer algumas perguntas para averiguar, porque se Lorraine estivesse viva, a herança teria de ser repartida entre elas, porque Jane era favorecida e Lorraine, irmã de Patrick...

_ Alô, srta Jane?
_ Sim, e pela voz é o sr Britto. Como vai?
_ Bem obrigado. Estou lhe incomodando?
_ De forma alguma, do que se trata?
_ Estou curioso com uma coisa: A sua amiga Lorraine... Qual o sobrenome dela?
_ O nome dela é Lorraine Pires de Lima, mas qual o interesse? Diga-me por favor, porque encontrei uma foto dela com meu primo na casa de Sapucaia...
_ Então é mesmo ela! A filha desaparecida de Giovani e Cristina...

As coisas ficaram claras agora: O retrato da parede, era a mãe de Lorraine, e a foto dela com Patrick...
Mas, ainda havia um grande mistério aí:
Por que Lorraine nunca mencionou tal parentesco?
Jane permanecia calada, e longe ouviu a voz de Britto lhe chamando de volta:

_ Srta Jane? Não me escuta?
_ Ah, sim... Obrigada por tudo sr Britto foi de grande valia essa nossa pequena conversa.
_ Quero lhe pedir que me mantenha informado, srta Jane. Afinal pode ser que ela recorra na Justiça os direitos de irmã. Antes, ela tinha sido dada como desaparecida, a srta entende minha situação?
_ Mas claro! Eu mesma vou tentar conversar com ela sobre isso... Depois ligo, ok?
_ Ok, obrigado.

Jane pousou o celular devagar no colo... Mas que coisa! Lorraine tinha muito que lhe explicar...


Depois da eliminação de Breno e de Adriana, restava apenas para Lorraine completar sua vingança, acabar com seu meio irmão, sem deixar dúvidas que fora mais uma fatalidade...
Precisava arquitetar bem seus planos dali para frente, cada passo muito bem pensado...
Enquanto ela pensava, Rubens já sabia como fazer:

_ Vamos fazer um guerrinha de nervos com ele, Lorraine:
Passo como seu sequestrador, ele "engolirá" isso, porque faz tempo que não dá notícias, e até acham que você morreu. Soube que ele pediu a um advogado amigo dele, um tal de Jorge Britto, para procurá-la ou algum parente ainda vivo. Porque tem medo que o patrimônio não fique para ninguém...
Voltando ao plano: Exigimos que ele vá até o rio perto do sítio, para entregar o seu resgate.
Daremos uma semana de prazo, para que você seja "entregue" na troca pelo dinheiro.
Ele ficará sem falar com ninguém durante essa semana de espera. Direi que nem celular ele atenderá, a menos que veja o meu número, que é claro, vai ser de um celular clonado...
Depois, farei com que ele corra para te salvar de dentro do rio, porque ele imaginará que você está se afogando...
E então, eu chego por trás, e o afogo. Não acha um bom plano?
_ Sim, é. Sua mente realmente é de um bandido... Tem vezes que até eu, tenho medo de você.
_ Isso só me deixa como ego lá em cima... Mas não se preocupe, não tenciono te matar, afinal você
é minha amante.
_ Ainda bem!
_ Agora vou por em prática, farei minha primeira ligação de ameaça para seu irmãozinho Patrick...
_ Ok, mas mantenha contato. Quero saber de tudo.

Ela lhe deu um beijo bem acalorado, e saiu apressada.


Foi assim que tudo se deu... Numa manhã, o carro de Patrick foi encontrado perto do rio, todo aberto, o celular desligado.
O corpo boiava, a expressão do rosto parecia ter ficado marcada por intenso terror.
A polícia investigava o caso: As chamadas anteriores no celular, seriam a primeira coisa a procurar, mas não deu em nada essa linha de raciocínio, porque foi descoberto que o número das chamadas eram de um celular clonado...
Haviam pegadas de pés número 42/43 talvez, seria então um homem!
Dificilmente uma mulher teria tais números de calçados, mesmo as mais altas!
O delegado começaria procurando então pela lista de homens que Patrick conhecia, desde a universidade até os dias atuais.
Ele poderia ter alguém que o tivesse ameaçado, uma briga, uma vingança prometida por um desses homens, depois de algum tempo esquecida por parte de Patrick..
.

Lorraine, finalmente ficara livre do irmão indesejado, que tantos anos teve que tolerar a convivência, em nome do amor que nutria pelo seu pai.
Agora o resto era fácil:
Cada dia mais ganharia a confiança da priminha e depois de conquistá-la, faria com ela o mesmo.
Ninguém acreditaria que Lorraine seria capaz de matar sua melhor amiga,
E ficaria como única herdeira do patrimônio deixado.
Sem brigas na Justiça, sem ter que se explicar por ter sido dada como desaparecida. Apenas surgiria do nada, e reclamaria ao juiz sua herança. Pois dessa vez, não teria mais nenhuma pedra no seu caminho...
Rubens ficaria sempre com ela, eram amantes e cúmplices em toda trama.
Viveriam muito bem dali em diante, era só questão de mais uns dois ou três meses...


Jane estava preocupada teria de ir com jeito para não provocar uma ataque de ira em Lorraine, pois
mesmo sendo amigas, sempre notava uma certa agressividade da parte de Lorraine com as
pessoas a sua volta. Tinha vezes que presenciava um jeito de olhar estranho, quase vil, sem falar em momentos que também mostrava estar insatisfeita com isso ou aquilo... Tinha dores de cabeça muito fortes, e agora sim entendia uma coisa que antes não havia notado:
Depois dessas dores de cabeça, Lorraine mudava sempre de comportamento, como se fosse outra pessoa ou até quem sabe, uma dupla personalidade...
Como tinha sido ingênua, pensou Jane! Mas é claro que é isso:
Lorraine tem dupla personalidade,
está explicado, ela não nunca ter mencionado algum parentesco... Seu outro EU se negava a isso!


A porta do escritório foi aberta, e um caloroso " Oi, amiga!", foi dito por Lorraine, ao abraçar Jane.
Um instinto dizia à Jane: " CUIDADO"...

_ Oi, Lorraine. Tudo bem por aqui? Como foram as coisas desde ontem?
_ Nada de mais, despachei uns encanadores para um condomínio no Recreio, e 2 eletricistas para Jacarepaguá. Ah, e precisamos contratar também uma personal organizer, porque é um ramo que está sendo muito procurado no momento.
_ Sim, eu sei. Agora amiga, me diz uma coisa: Disse no telefone que me explicaria sobre a foto, aquela em que estavam você e meu primo Patrick.
_ Ah, é verdade... Tinha até me esquecido... Foi uma das minhas idas com meu grupo da faculdade.
No outro grupo estava seu primo, que tirava fotos com todos lá, fomos apresentados e aí ele me convidou para também tirar um retrato com ele. Foi só isso. Uma única vez o vi, por isso não lembrava do seu nome, quando você mencionou que herdou tudo dele.
_ Sim, entendi. Ok, então vamos dar continuidade ao que foi começado no dia de ontem, não é mesmo? Ao trabalho!

Lorraine esperou Jane virar de costas, e fez uma careta como se fosse uma criança levada.
Mas, Jane agora tinha certeza: Ela mentia!
Sua amiga/prima, escondia muito mais coisas de sua vida anterior. Dia após dia saberia de muito mais ...
"Era só ter calma, muita calma"...


Os dias passavam lentos na opinião de Lorraine, era ansiosa demais.
Seu problema era mais do que dupla personalidade como suspeitava Jane, a amiga Lorraine, era uma verdadeira esquizofrênica...
Teria de ser tratada. Mas ela não sabia, seu pai desconfiava e Adriana tinha certeza, mas ela, achava-se uma pessoa perfeitamente normal.
Lorraine achava que Jane tinha acreditado na sua mentira, mal sabia da conversa dela com Jorge Britto... Jane não mencionou nem iria falar...
Queria descobrir sem "cutucar a onça com vara curta".


Jorge Britto sabia das desavenças entre Adriana e sua enteada Lorraine.
Porque mesmo gostando da irmã e sem suspeitar que ela intimamente o odiava, Patrick sempre comentava com seu melhor amigo sobre o caos dentro de casa, das brigas entre elas. Ele apenas se limitava a acalmar os ânimos...
Até que um dia sua irmã foi embora sem se despedir dele. Estava com seu grupo de pesquisa em algum lugar da Mata Atlântica, foi isso que disse para mãe antes de sair na excursão:

_ Mãe, não se preocupe, estarei em algum lugar da Mata Atlântica, agora é só imaginar onde...
_ Meu filho, não faz assim, me diz certinho onde você vai, para alguma eventualidade, uma emergência com você ou comigo. E também mantenha o celular ligado. Pensei que depois que você terminasse a universidade diminuiria essas trilhas... Mas vejo que só aumentam mais!
_ Mãe, agora além de biólogo, professor, faço turismo ecológico, é minha vida mãe, aceite por favor...
_ É difícil, Patrick, só tenho você, meu único filho!
_ Fique tranquila não há perigo. Temos muitos equipamentos, provisões, etc e tal...
_ Então vá meu filho, e que Deus te abençoe e guarde!

Ela não era uma mulher religiosa, mas de uma coisa sabia: A bênção de uma mãe, realmente protege seus filhos dos perigos!
Dias depois, quando Patrick voltou dessa excursão, soube que a irmã havia deixado a casa subitamente... Foi isso que disse Adriana para ele, sem mencionar uma grande briga entre elas, antes de sair "de mala e cuia"...
O irmão lamentou, ao contrário de Lorraine, ele gostava dela... Mas Lorraine era dona do próprio
destino, faria o que quisesse então...


Depois de meses sem notícias eles presumiram que ela desaparecera, ou até que tivesse morrido, porque sendo da família Lima, o estigma da doença cardíaca era uma sombra....
Mas no Rio ela estava bem escondida e pronta para dar o "bote", tal como cobra que era...
O resto, foi tudo dando como ela queria até aquele momento.
Agora, uma nova etapa: Matar sua prima Jane!


Jorge Britto resolveu repensar tudo com muita cautela. Teria de dizer ao delegado do caso, que tomara conhecimento de um fato novo: A irmã de Patrick estava viva, e que ela tinha indícios de problemas mentais, desaparecera por 3 anos, sem nunca dar uma notícia. Teria de ser ouvida em depoimento também, como parente mais próximo do falecido amigo e forte candidata à uma vingança familiar...
Ligou para o delegado. Ele ficou atento a tudo que Britto disse, e respondeu:

_ Ótimo, obrigado pela informação. É uma nova linha de investigação, já que de outras formas não chegamos a lugar algum até agora.
_ Espero que tudo seja esclarecido. Peço que me informe ao final da investigação. Patrick era como meu irmão...
_ Pode deixar Britto, eu te digo quando isso chegar ao fim.

Britto desligou o telefone, e um sorriso "amarelo" surgiu em seu lábios.


Fim de semana seguinte à chegada de Jane em casa, Lorraine convidou-a para dar um passeio à Santa Teresa. O bairro dos artistas plásticos, onde reúne ateliês de portas abertas. Mesmo nascida no Rio, Jane nunca tinha ido à Santa Teresa.
Resolveu aceitar o convite de Lorraine. Até porque, seria uma boa chance para especular de forma que ela fosse soltando aos poucos. Jane faria com que ela bebesse mais do que o normal...
Lembrou que o pessoal do escritório mencionou que quando Lorraine bebia, não tinha controle nenhum de si..
Jane não gostaria de usar tal artifício, embebedar a amiga, mas era só assim que arrancaria alguma coisa dela, sobre o passado...


Santa Teresa no verão é cheia de turistas, visitantes do Brasil e muitos, muitos estrangeiros... É também o local de maior número de artistas plásticos, com muitos ateliês. Tem os bondes, que aliás, só se encontram ali e se tornaram o cartão postal do bairro carioca.

_ Muitos barzinhos na beira da calçada, Jane. Vamos escolher um, e sentar para tomar uma cervejinha?
_ Sim, está muito calor, mas prefiro pedir uma cerveja escura. Questão de gosto...
_ Ok, eu vou de loirinha gelada mesmo.

Chamou o garçom e pediram as cervejas com uma porção generosa de batatas fritas.
Entre uma e outra conversa, Jane foi pedindo mais cervejas para a amiga, mal ela acabava, o copo estava estranhamente cheio de novo...
Assim em meia hora, Lorraine já estava bem tonta, e "no ponto", pensava Jane.
Não demorou muito ela já respondia a qualquer pergunta que Jane fazia.
E com o calor intenso e as revelações do passado de Lorraine, Jane até se sentiu mal.
Em um momento ela falou de Rubens. Jane ficou atenta. Perguntou:

_ Esse Rubens, é seu amante?
_ Só amante não, é meu cúmplice!
_ Como é, cúmplice, de quê?
_ De uma trama, ora!
_ Mas e qual foi essa trama?
_ Mandei ele matar Adriana, Breno e Patrick.

Jane quase desfaleceu ali mesmo. O choque que levou quando ficou sabendo da verdade...
Então ela era pior do que imaginava. Não era um caso de dupla personalidade, ela era má mesmo, uma assassina!
Jane lembrou do seu instinto aguçado de novo: "CUIDADO".
À essa altura ela queria desconversar para Lorraine esquecer o que tinha revelado. E disse então, recobrando a calma:

_ Amiga, esquecemos de visitar os ateliês, vamos agora? Adoro Artes.
_ Pensei que íamos ficar mais um pouco aqui no barzinho.
_ Vamos sim, Lorraine. Anda, eu ajudo você a levantar daí...

Ela estava trocando as pernas de tão bêbada! Jane mal conseguia mantê-la de pé.
Jane desistiu de conhecer qualquer ateliê naquele dia. Pediu a ajuda para um dos garçons, que pediu um táxi.
Estavam de volta agora, ao Centro da cidade. E pediu ao porteiro do prédio de Lorraine que a ajudasse a subir com a amiga, pois ela sozinha não poderia.
Quem visse a cena acharia uma vergonha! Uma mulher bonita, loira, bem vestida, naquele estado!


Jane pegou a chave dentro da bolsa de Lorraine e abriu o apartamento. Nunca havia entrado no apartamento dela, constatou. Curioso, isso, pensou...
Sempre ela vinha à minha casa, mas nunca me trouxe aqui.
Por que será, o que ela esconde aqui?
Agradeceu ao porteiro e fechou a porta atrás de si, logo depois de deixar Lorraine deitada no sofá da espaçosa sala que ela dividira muito bem, fazendo uma parte como escritório.
Jane resolveu fuxicar, aliás agora para ela era questão de sobrevivência.
Fácil saber que seria a próxima da lista de assassinatos de Lorraine, já que era a herdeira.


Remexia aqui e ali, dentro da escrivaninha, das gavetas dos armários, até que parou
abruptamente:
Encontrou o que menos esperava:
Uma foto de Breno com um homem ao seu lado, abraçados de uma forma que revelava uma certa intimidade, então era assim que se parecia Rubens!
Melhor guardar bem esse rosto, ele pode aparecer a qualquer momento.
Sua memória fotográfica firmou bem os traços de Rubens: Sujeito forte, corpulento mesmo, branco, rosto quadrado, cabelos crespos e castanhos, uma tatoo de um ninja no braço. Pronto! Agora não tem mais como esquecer.
Jane fechou a porta do apartamento e desceu pelo elevador o mais rápido que pode, ficou com medo dele aparecer por ali, afinal, Lorraine lhe disse em meio a bebedeira que ele tinha a chave.


Jane ligou para Jorge Britto, assim que chegou em sua casa:

_ Alô, sr Jorge Britto, por favor?
Uma voz trêmula disse:
_ Ele não pode atender a ninguém agora.
_ Mas diga que é importante, que é a Jane, do Rio.
_ Você não entende. Ele não pode responder porque acaba de morrer.

Jane não acreditava no que ouvia... Ele também? Meu Deus!
Seria como "pisar em ovos", todo cuidado agora, é pouco...
Ela voltou à conversa e perguntou:

_ A sra é a esposa dele? Quando será o enterro?
_ Sim, sou. O enterro amanhã, será às 11:30h, no cemitério da cidade mesmo.

Por instantes Jane lembrou que tinha sido nesse mesmo horário que ele a encontrou, na praça de Sapucaia...

_ Estarei lá, precisa de alguma ajuda financeira sra?
_ Não, obrigada mesmo assim.
_ Então até amanhã. E meus sentimentos...

Jane não entendia o porquê da morte de Britto. Afinal, era ela com certeza a próxima da lista de Lorraine!
"Amanhã será um longo dia"...

A notícia da morte de Jorge Britto pareceu surpreender Lorraine, quando Jane deixou uma mensagem no celular:

´Não abriremos o escritório hoje. Vou à Sapucaia, ao enterro de Jorge Britto.´

Estranha esse morte do Britto. De certo deve ter sido algum acidente.
A cabeça dela doía intensamente, além da ressaca do dia anterior. O que agravava seu transtorno mental.
Achou melhor dormir o dia inteiro...


As pessoas se mostravam realmente tristes, com a morte súbita de Jorge Britto. Ele era um advogado querido, e amigo de muitos no lugar.
Jane percorreu com os olhos para descobrir a viúva de Jorge Britto.
Deveria ser uma mulher de seus 28/29 anos.  Mais ou menos regulando com ele que tinha 30.
Não demorou e viu alguém que estava cercada de pessoas. Sim, com certeza era ela.
Foi até lá e se apresentou.
Deu os pêsames, mas tinha ido ali não só para o enterro, como também para saber em que circunstâncias Jorge Britto havia morrido.
Iria com calma. Não perguntaria assim, teria de especular com os vizinhos, parentes, amigos.
Perguntar diretamente à viúva estava fora de questão, já era grande seu tormento...


O delegado investigava a morte de Jorge Britto, teria sido suicídio? Ele foi encontrado pela esposa caído no chão do quarto, em uma poça de sangue, os pulsos cortados...

Essa era a opção mais óbvia, entretanto, alguma coisa não se encaixava, ele não tinha motivos para isso, Jorge Britto era bem relacionado na cidade, tinha muitos amigos, os vizinhos gostavam muito dele, a sua vida familiar também sempre foi das melhores, todos sabiam como ele se dava bem com a esposa, e planejavam ter filhos...
Não poderia ser suicídio, alguém fizera aquilo com ele, para que se fosse pensado nessa hipótese.
De qualquer forma, estaria investigado o mais rápido possível, porque alguma coisa lhe dizia que isso tinha um certo laço com a morte de Patrick...


A campainha do apartamento de Lorraine tocou. Ela olhou no "olho mágico" e viu que era uma mulher a quem não conhecia. Abriu a porta e disse:

_ Sim, o que deseja?
_ Você não me conhece, mas posso te dizer que o delegado de Sapucaia está de olho em você.
Tome cuidado!
_ Entre aqui. Mas o que está me dizendo? Quem é você, primeiramente?
_ Não quero me identificar, mas vim como sua amiga. Tome cuidado a partir de agora!

A mulher olhou bem tudo que tinha na sala de Lorraine, percebeu na parte do escritório uma foto na escrivaninha:
Parecia Rubens e outro homem, mas estava longe, teria que se aproximar para averiguar...

_ Poderia me dar um copo de água? Está muito calor, e depois disso eu vou embora...

Lorraine, foi até a cozinha e enquanto isso, a mulher sorrateiramente confirmou que era mesmo Rubens no retrato da escrivaninha.
Lorraine voltou, mas a mulher já havia saído.
"Estranho, muito estranho tudo isso"...


Jane estava com medo de voltar a encontrar Lorraine, não queria chamar a polícia, pois não tinha provas concretas, apenas a confissão dela no barzinho de Santa Teresa não era o suficiente, não havia gravado. Como não pensou nisso naquele dia?
Deveria ter colocado seu celular para gravar enquanto conversavam...
Foi para seu escritório, agiria como se nada soubesse, teria cuidado, e assim que houvesse outra chance, ela gravaria uma nova conversa, teria de embebedá-la mais uma vez.
 Lorraine chegou pouco depois de Jane. Estava estranha, parecia que o olhar estava perdido em algum lugar... Deixou-se cair em uma das cadeiras de couro da recepção.
Nada dizia, apenas o olhar perdido...
Jane não quis se aproximar, fingia não perceber nada.


Rubens estava no bar de sua mãe, quando ela chegou.
A mulher era muito mais bonita que Jane e Lorraine juntas!
Era de estatura mediana, cabelos castanhos que caíam pelos ombros. Olhos de uma cor que não se sabia se era cor de mel ou amarelo esverdeados...
Tinha um leve bronzeado, as marquinhas do biquíni apareciam na blusa "tomara que caia" que vestia...
A saia era um palmo acima do joelho, um belo conjunto verde água.
Ele se virou e disse assustado:

_ Você, por aqui?
_ Isso mesmo. E acabo de conhecer o apartamento dos dois pombinhos...
_ Você conheceu Lorraine?
_ Sim, acabo de vir de lá. É uma loira bonita. "Pena ser tão doente da cabeça", pensava...
_ E o que foi fazer lá? Me diz...
_ Fui alertar sobre o delegado de Sapucaia.
_ Ele desconfia dela?
_ Sim, e muito...

A conversa parou subitamente. Ele teria de repensar todo esquema, não poderia eliminar Jane tão cedo.
As suspeitas se levantariam contra Lorraine, agora que estava sendo visada.

_ Volte para casa, no fim de semana te vejo.
_ Eu vou sim. Te espero no mesmo local de sempre. Até lá...
_ Vai, vai...

A linda mulher se virou, deu um tchauzinho, e foi embora dali.


Jane estava desconcertada, alguma coisa tinha deixado Lorraine naquele estado. Mas o que seria?
A água do galão escorria no copo plástico de Lorraine, ela não percebia...
Jane desligou a torneirinha do galão, e se virando para Lorraine perguntou finalmente:

_ Mas o que houve hoje com você amiga?

Amiga... isso agora soava incrivelmente falso, ela refletia...

_ O quê? Não estava prestando atenção, estou com dor de cabeça.
_ Nada, nada... Se é assim, vai para seu apartamento descansar. Não trabalhe hoje.
_ Ah, vou sim. Acho que não tenho condições de ficar. Tchau Jane.
_ Tchau, "amiga"...


O fim de semana chegou e Rubens foi até o pequeno sítio onde se encontrava com ela.
A mulher já estava lá desde cedinho. Cozinhando alguma coisa para o almoço.
"É muito linda", pensou Rubens quando a abraçou, enlaçando a cintura bem feita dela.

_ Ah, chegou amor? Não havia escutado o barulho do carro. É que estou com a música no volume máximo. Deixa eu abaixar agora.

Ela foi até a copa, e abaixou o volume do som. Ele havia dado aquele som de presente para ela, depois de Lorraine o pagar pela morte de Adriana...

_ Vamos para cama, estou com saudades de você...
_ Ah, mas nos vimos naquele dia, como pode estar com saudades?
_ Você sabe de que saudades, estou falando...

Ela riu, sabia sim...
Eles se davam muito bem na cama.
Apagou o fogo da comida e foram para o quarto.


O delegado colocou um detetive da polícia no encalço de Lorraine, cada passo que ela desse seria bem observado.
Lorraine não tinha desenvolvido a síndrome do pânico, mas estava quase à beira disso. Sentia-se vigiada desde que aquela mulher chegou a seu apartamento durante a semana, quando disse que o delegado suspeitava dela...
Olhava para os lados desconfiada, mas ao mesmo tempo nada percebia, parecia que estava alheia a tudo, numa dessas, não viu um caminhão que vinha na sua direção.
FOI APENAS UM MOMENTO, E TUDO FICOU NEGRO...
Era o fim de uma assassina.


Jane recebeu a notícia cerca de duas horas depois.
Mesmo sabendo que não deveria fazer nada por ela, pois a intenção de Lorraine era matar Jane, o seu coração fez com que providenciasse todo o enterro.
E depois na saída do cemitério, ela voltou-se mais uma vez e disse baixinho:

_ Adeus, Lorraine. Poderia ter sido tudo diferente...


A campainha da porta de Jane tocava disparada.
Era D. Matilde. Jane atendeu, com muita paciência com aquela senhora, apesar de detestar que as pessoas façam esse tipo de coisa...

_ Bom dia, D. Matilde, o que houve?
_ Jane, minha filha, leu o jornal hoje?
_ Não ainda não. Só compro no caminho para o escritório.
_ É que tem uma notícia que vai lhe deixar triste, olhe.
O jornal que trazia consigo, D. Matilde entregava nas mãos de Jane.
Ela se espantou com o que a manchete dizia:

MULHER É ATROPELADA POR CAMINHÃO NA TARDE DE QUARTA FEIRA, ESTAVA GRÁVIDA.

Ah, então ela estava grávida! Que pena... Ou seria, melhor assim? Uma mulher que era assassina, não daria uma boa mãe.
Mas D. Matilde desconhecia tudo. Natural que quisesse mostrar a notícia, sabia que eram amigas como irmãs...

_ Obrigada por me mostrar D. Matilde.

Dito isso, entregou o jornal de volta à senhora.
D. Matilde ficou meio surpresa com a reação de Jane.
Mas nada perguntou. Foi embora.
Jane entrou em seu quarto e se arrumou bem calmamente. Agora não teria medo. Rubens nada faria para ela. Lorraine, sua fonte de dinheiro, estava morta e enterrada.


A notícia no jornal pegou Rubens de surpresa. Grávida!
Ela estava grávida de um filho seu!
Ele deixou a mulher apressadamente. Disse que teria de ir embora de volta para o Rio, porque Lorraine morrera.
Ela não escondeu um sorriso de satisfação:
Menos uma rival!
Ao abrir o apartamento de Lorraine, estava ali, alguém muito interessado em toda trama:
O delegado de Sapucaia.
Conseguiu uma permissão para entrar no apartamento de Lorraine para averiguações.
Rubens ficou por um minuto sem cor nos lábios, empalidecera como vela...
O delegado dirigiu-se para ele e disse:

_ Sou o delegado de Sapucaia. E o senhor, quem é? Como entra em um apartamento que não é seu?
_ É que éramos namorados, eu tinha a chave.
_ Ah, sim? Então poderá ir comigo prestar depoimento na delegacia de Sapucaia, pois não?
_ Posso sim. Não tenho nada com esse caso mesmo. Ela morreu atropelada.
_ Não me refiro à Lorraine Pires de Lima. Mas ao caso em que ela era investigada.
_ Era? Não sabia de nada. Então vamos, estou a sua disposição delegado.

Os dois homens pegaram o elevador, mas as mentes tinham um único pensamento:
Onde isso tudo vai levar...


Jane se sentia aliviada. Parecia que tudo voltava ao normal em sua vida. Podia andar na rua sem medo agora...
Na delegacia de Sapucaia, o delegado fazia perguntas à Rubens:

_ Então sr Rubens, o senhor era " namorado" de Lorraine. Não notava algum comportamento diferente do normal?
_ Sim, algumas vezes.
_ E isso não lhe deixava preocupado? Se ela fosse uma assassina, por exemplo?
_ Não, ela não chegaria a tanto. Era apenas uma mulher amargurada pelos "fantasmas" do seu passado.
_ Ah, era? E pode me falar disso?
_ Tinha ciúmes do irmão. Não vivia bem com Adriana também. Resolveu ir embora de Sapucaia, e aí foi que a conheci no Rio.
_ Sim, entendo. E ela tinha parentes no Rio?
_ Apenas um primo chamado Breno. Que também já morreu.
_ Hum... Bem, e o senhor o conheceu também?
_ Sim, fomos apresentados por Lorraine. De vez em quando, saíamos os três.
_ Bem, por hoje é só. Mas aguarde notícias minhas, pretendo lhe chamar de novo.
_ Sim, estarei pronto quando me chamar. Até logo.
_ Até logo.

O delegado sabia que ele escondia muitas coisas, e já começava achar que ele seria o cúmplice de Lorraine.


Jane recebeu um bilhete por debaixo da porta do escritório. Abriu curiosa. Por que alguém faria isso? Era só entregar em suas mãos...
O bilhete dizia:

´Jane, sei quem matou Britto, se quiser maiores detalhes, vá até Sapucaia. Deixarei um envelope relatando tudo, embaixo de um dos bancos da praça.
O envelope será azul
ASS: Um amigo.´

‘ Muito intrigante isso. Se a pessoa sabe, porque não vai direto ao delegado do caso? Isso está cheirando a uma armadilha. Será Rubens? Mas, que interesse ele teria agora em me eliminar, se Lorraine está morta e não pode reclamar a herança?
Vou direto para quem isso interessa: A polícia. Levarei o bilhete.’
Determinada, tomou um banho e trocou de roupa.
Saiu e pegou mais uma vez o rumo de Sapucaia...


Aquela praça já estava se tornando parte de sua vida. Observava Jane...
Dirigiu-se para a delegacia. Foi anunciada por um ajudante do delegado.
O delegado ficou surpreso com a visita:

_ Srta Jane, a herdeira de Patrick Lima? Pode mandar entrar sim.

Ela não gostaria de estar em uma delegacia, mas era isso que tinha de fazer. Foi direto ao assunto:

_ Sr delegado, obrigada por me receber. Estou com um bilhete que foi deixado embaixo de minha
porta. Leia, por favor.

Ela entregou ao delegado, aguardou instantes, ansiosa para que ele dissesse alguma coisa.

_ Srta Jane, pode ir até lá? Seria como isca. A pessoa que escreveu esse bilhete, com certeza vai
estar lá escondida em alguma parte, ou mesmo sentada normalmente em um dos bancos da praça, para se certificar que apanhará o envelope azul.
_ Mas vou ficar visada se fizer isso. Corro risco sabendo a verdade. Prefiro sinceramente não saber de nada.
_ Ajude na investigação, por favor srta Jane. É nossa chance, os assassinatos podem estar todos interligados.
_ Ok, delegado. Mas digo-lhe com certeza que não foi Lorraine quem matou ou mandou matar Jorge Britto.
_ E como sabe?
_ Ela me confessou ser a mandante do assassinato de 3 pessoas quando estava bêbada: Adriana, Breno e Patrick. Rubens seu amante, cuidou de tudo para ela.

Lorraine não tinha interesse nenhum em matar o advogado, até porque, cedo ou tarde teria de entrar em contato com ele, para reclamar a herança.

_ Isso faz sentido. Ainda assim, preciso que faça o favor de ir até lá pegar o envelope.
_ Está bem, mas quero que um policial esteja sempre por perto, cuidando da minha segurança tanto aqui, como no Rio.
_ Será como deseja, fique tranquila.

Ela foi apresentada ao policial que estaria a paisana, cuidando para que nada acontecesse com ela.
Saíram da delegacia, em direção à praça.
Não demorou muito e Jane achou o envelope debaixo de um dos bancos.
Uma pessoa observava atrás de uma árvore frondosa, e sorria com satisfação:
" Pronto. Está feito. Acabo de vez com a única pedra no meu sapato".
Jane abriu o envelope, e ficou de boca aberta quando soube finalmente quem matara o advogado.
Guardou na bolsa e dirigiu-se de novo para delegacia, seguida do policial que a escoltava discretamente...


Ao entrar na delegacia, Jane foi direto ao delegado, desta vez sem ser anunciada. Ele a esperava mesmo...
Entregou o envelope, ele abriu. Sua reação parecia de incredulidade.

"MAS TUDO É POSSÍVEL NESSE MUNDO"...

Jane foi dizendo com a calma que lhe era peculiar:

_ Uma coisa dessas não pode ser dada como certa. Alguém poderia querer incriminar essa pessoa.
_ Pode até ser isso srta Jane. Mas também pode ser verdade o que diz aqui. Terei de investigar.
_ Bem, acho que minha participação acaba aqui. Gostaria da segurança do policial pelo menos por
duas semanas, pois volto para o Rio agora e quero me sentir segura lá também.
_ Sem problemas, srta Jane. A srta foi muito útil nessa investigação, eu agradeço.
Apertaram as mãos e Jane seguiu de volta ao Rio.


Dias depois, o delegado tinha a certeza que a pessoa tinha mesmo assassinado Jorge Britto.
Bastava agora pedir a prisão preventiva, para que não "sumisse do mapa".
E Rubens também seria preso, pelos outros assassinatos...


Rubens estava eufórico. ‘Como sou inteligente! ‘Pensava...
Uma viatura cuidava de levar alguém para a delegacia.
´Finalmente estou livre desse caso todo. Nunca mais volto aqui!´
Pegou sua inseparável mochila, e deu adeus à Sapucaia. Não imaginava que o delegado já sabia de toda verdade...


Jane sentia uma sensação estranha... Seu sexto sentido lhe dizia mais uma vez: " CUIDADO".
Mas, quem lhe faria mal? Não, definitivamente estava imaginando coisas! Trataria de se acalmar.
O silêncio da noite não fazia com que ela dormisse. Pensava que aquelas alturas alguém estaria pagando pela morte de Britto. Olhava pela janela de seu quarto a lua, como sempre gostava de fazer em noites insones.
MAS, NÃO ERA O LUAR DE SAPUCAIA... LÁ ERA MÁGICO!

Mergulhada em seus pensamentos, não percebeu que alguém entrara de mansinho, forçando a porta dos fundos, onde era a cozinha.
Ela voltava para a cama agora, tentava o sono novamente. Se remexia, e nada do sono aparecer.
Resolveu tomar um copo de leite morno. Traria sono e mataria a fome, porque seu estômago já reclamava. Tinha o hábito de tomar leite de madrugada desde criança.
Acendeu a luz da cozinha.

ARREGALOU OS OLHOS QUANDO O VIU EM SUA FRENTE: ERA RUBENS!

Ele segurou os braços dela dominando-a. Jane gritou pedindo ajuda. Mas o guarda costas estava nocauteado, no chão da varanda da frente.
Ele lacrou a boca de Jane com uma mordaça.
Disse então, com a voz bem grossa:

_ Pensou que sairia dessa, sem que eu completasse meu último trabalhinho  para Lorraine?

Ele ria com o desespero que os olhos dela mostravam...
Ele ainda não tinha pensado como matá-la.

" NÃO DEIXARIA DE SER NAQUELA MADRUGADA."

Que lugar melhor para vingar Lorraine, do que a casa da priminha?
Ela teria de morrer ali mesmo. Deu vários socos em Jane, e o rosto dela já começava a ficar inchado... Se apanhasse mais um pouco estaria morta!
Foi quando o ruído das sirenes, tornaram-se bem fortes. A polícia estava ali! Mas como? Ele nocauteara o policial!
Jane já estava sem forças, lutando para sobreviver, as dores estavam mais fortes agora...
Ele teria de escapar dali, pulou para a casa da vizinha, a de D. Matilde.
Escondeu-se no quintal
escuro. Mas não contava com o cão que estava solto, vigiando a casa...
Foi praticamente mutilado
pelo cão, da raça pitbull. Seus gritos de socorro acordaram toda a vizinhança.
Não foi difícil prender o sujeito, estava em carne viva! Entretanto, um dos tiros para afastar o cão, pegou em cheio. O cão caiu morto.

Jane estava presa na cozinha ainda, ouvia o barulho de tudo que acontecia do lado de fora, na vizinhança. Mas e o segurança, onde estava? Alguém teria que se lembrar dela.
A polícia entrou na casa de Jane, depois que viram o segurança caído, tonto, ainda no chão...
Encontraram-na finalmente... Agradecia silenciosamente à Deus.
O guarda quando fora nocauteado, ainda teve tempo, antes de cair no chão, para apertar o celular na chamada automática de emergência. E foi rastreada a chamada de socorro...


Na delegacia de Sapucaia, dias depois, duas pessoas faziam uma acareação:
Rubens e a esposa de Britto.
Ela era a mulher que matara o advogado.
Aconteceu assim:
Depois de tomar uma droga imperceptível na bebida, (que Rubens usara no caso de Breno) ela o deixou no chão, cortando os pulsos dele, para parecer suicídio.
O resto foi encenação...

Rubens havia persuadido Susane, (era esse o nome dela) a matar o marido, pois se metia muito no caso de Lorraine. Inclusive avisando ao delegado antes, que ela estava viva.
Se Lorraine fosse presa, fatalmente Rubens seria também. Pois ela o levaria junto...
Além do mais, estando viúva, eles poderiam se encontrar sem correr o risco de ser dada como adultera. Uma viúva poderia se relacionar com quem quisesse...

Assim, depois de tudo explicado, e um julgamento, os dois pagaram por seus crimes.Terminando assim, com a série de assassinatos que começara com a mente doentia de Lorraine, seguida dos instintos assassinos de Rubens e a cabeça fraca, guiada apenas pela luxúria de amante, da linda mulher de Jorge Britto.
Jane pode voltar à sua vida tranquila no Rio, passando os finais de semana em Sapucaia, principalmente quando a lua estava cheia e brilhante...
"Luar de Sapucaia, não tem igual", pensava observando da janela...
Na casa que um dia, foi palco de tantas tramas e desarmonias...
Afinal, Jane pode dizer:

"FIM DO JOGO"

Fátima Abreu







PERCEPÇÃO





Hum...se aquela história que você ouviu na sua infância, tivesse sido contada erroneamente?
e se Branca de Neve, não fosse assim tão inocente?

E por trás de uma suposta rainha perversa, se escondesse apenas uma mulher carente de atenção?
Reveja certas histórias no decorrer de sua vida...
Não acredite no que somente seus olhos enxergam.
Vá além da sua percepção...

FÁTIMA ABREU
FATUQUINHA

ALMA (POEMA ESPIRITUALISTA) REPUBLICADA

TEMOS MUITAS VIDAS PARA VIVER, MAS APENAS UMA ALMA PARA EVOLUIR...

ALMA

Alma que passeia por várias encarnações
Não perde o que sente na essência
Mas evolui passo a passo, em cada existência...

Alma que foi rainha e escrava,
Esteve presente em várias etapas da Terra.
Foi de qualquer raça.

Sofreu, foi feliz...
Da vida,
Simples aprendiz.

Alma doce e branda agora
Mas já foi agressiva, voluptuosa
Rica, poderosa...

Alma azul, translúcida...
Espera mais um passo na sua evolução.
Vestimenta nova, de carne:
Qual será sua próxima encarnação?

Fátima Abreu


PARA QUEM AINDA NÃO LEU AS POSTAGENS DA MINHA PÁGINA DE AUTORA, ESSA É UMA DELAS:
Evolução

Anjos habitam dentro de nós
Mas, 'outros' também.
Somos a dualidade.
Lutaremos para sermos unos na Luz.
O nosso destino é crescer, evoluir
E deixar de lado de vez,
A escura mancha
Que nos primórdios do mundo, se fez...


A Carne- republicado


Tempos de escravidão feminina
quando a mulher era  um pedaço de carne exposto
aos olhos gulosos de outros...

Ansiosos por provar
do corpo daquela mulher,
faziam seus lances...

Triste e sem salvação,
a moça ficava nua na praça ou ambiente preparado,
para ser comprada
por quem fizesse agrado.

Tantos olhos sobre seu corpo,
como caça recém abatida,
quase um troféu 
de quem lhe fez escrava
e a levaria para um bordel...

Temerosa desse destino,
escondia o rosto...

Talvez sem vê-lo, não a quisessem
para meretriz...
Como serva, seria para ela, bem melhor
do que passar de mão em mão,
sem nenhum dó.

Fátima Abreu


VITRINE NÃO, LIVRO SIM- REPUBLICO

 


VITRINE NÃO, LIVRO SIM

Não sou uma vitrine.
Exponho-me mas não sou.
Um livro aberto, prefiro assim.
Uma vitrine tem que estar bem cuidada, pronta para vender a qualquer momento. É apenas uma transação comercial.
Um livro não. Ele espera a oportunidade de ser aberto, desejado, lido e desvendado.
Sou assim. Quero ser lida.
Não quero que comprem meus livros só por comprar ( óbvio que preciso das vendas)...
Entretanto, que comprem porque gostam do que escrevo.
Sabe leitor(a), isso é o impulso do escritor.
Saber que é apreciado e que a mensagem que traça em suas linhas, toca nas pessoas.
Fico imensamente feliz quando leio alguns comentários que as pessoas dizem que perceberam o cenário, a época, os sentimentos ali contidos em uma poesia ou conto meu...

Sou um livro de 52 anos.
Nascida sob o signo de Touro.
Sensível demais.  Uma taça de cristal.
Que se quebra facilmente como a minha personagem Serena.
Entretanto, corajosa e guerreira, como 'Diana', além de avoada esquecida, tanto quanto a minha personagem. Que na verdade, é a minha personalidade mais predominante.
Melancólica e boa cozinheira como Rebeca.
Com o gosto pela sensualidade como Lana.
Sem o dinheiro farto de Cecília, mas com os sonhos de Jane.
Aqui, você leitor descobre o meu segredo:
Lendo-me, perceberá que sou todas elas em uma só.

Fátima Abreu


http://www.clubedeautores.com.br/authors/32550
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NAU & LENDA


 NAU


A NAU VAGAVA PELOS MARES QUE SE DIVIDIAM ENTRE VERDE ESMERALDA E AZUL COMO O CÉU QUE A ENCOBRIA...
UM BALANÇO DE LÁ PARA CÁ, MAS, SEM SAIR DO LUGAR
COMO ÂNCORA  SEGURA, ELA PERMANECIA ALI...
 
NÃO QUE ESTIVESSE PRESA A UMA...
DE CERTO QUE NÃO...
E SIM, A UM PASSADO LONGÍNQUO DE PIRATARIA
UMA NAU FANTASMA, NUMA NOITE FRIA...

FÁTIMA ABREU FATUQUINHA













LENDA


Ela era a própria lenda.
Uma Fênix renascida não do fogo, mas das águas!
Numa noite quando os raios da lua se encontraram tocando o limite das águas, no horizonte, ela enfim aparecia...
Do mais profundo do oceano, como a deusa Vênus, ela surgiu.
Um capricho dos deuses antigos?
Talvez...
Muito embora, ela na sua linda vestimenta, não fosse para aquele reino:
Fora criada para o ar, não para viver sobre as ondas do mar...
No céu estaria em seu meio:
Pássaro encantado que alça voo distante, e que alcançando as nuvens de algodão, pode renascer em qualquer situação...


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A LÁGRIMA CAIU

A LÁGRIMA CAIU


Não era para ser de raiva, tampouco de mágoa.
Mas o pranto desceu.
Embora os sentimentos fossem ambíguos.
Razão & emoção...
E a certeza que a decisão foi correta
Deus nos mostra a hora certa...

Fatuquinha

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O TREM DA ÚLTIMA ESTAÇÃO- republicado


O TREM DA ÚLTIMA ESTAÇÃO

A última estação que ele agora vislumbrava
Terminal de sua invernada...
O trem estava nos trilhos das nuvens
Sem problemas de descarrilamento
Ele era o último naquele dia
Na nova estação
Para seu próximo mundo:
Uma nova morada
Sem saber ao certo, onde o trem levaria...
Não adiantava olhar para trás
O mundo a que pertencia
Já para ele, não mais existia...


Fátima Abreu


A Vida & O Trem- republicado



O trem segue adiante e vai deixando toda paisagem anterior
Aos nossos olhos, simples borrões coloridos passando pela janela...
Como a vida, depois de instantes passados.
O combustível do nosso trem interior é o amor.
Para onde vá seu trem, ou na estação que ele parar momentaneamente,
Esse sentimento, terá que estar.

Caso isso não aconteça, você estará incrivelmente só,
Nessa jornada chamada VIDA.
E a solidão leva até a dor.
Pela dor ou pelo amor,
Seu trem continuará passando...

Até um dia, ele chegar na última estação.
Mas, daí para frente, subirá em outro trem, um pouco diferente...
A paisagem será bem parecida, entretanto, não mais as imagens passarão como borrões.
Será coberta de azul como os olhos de alguém, e nuvens tão brancas quanto o algodão.

Fátima Abreu

domingo, 25 de setembro de 2016

O BOM RECOMEÇO (reeditado)






CONTO SURREAL




O dia se aproximava, fora passado de geração em geração desde o início dos tempos...
O 'Juízo Final', era assim que as religiões o chamavam... Na verdade era apenas um acerto de contas da Humanidade com o CRIADOR e a mãe Terra.
Gaia estava abalada desde o último século, o homem castigou seus recursos naturais, poluiu seu oceanos e rios, devastou suas florestas...
Ela aguentou o quanto pode, mas a 'revolta' se tornou visível com seus abalos sísmicos, tsunamis, enchentes, nevascas, etc.
Gaia estava doente. O CRIADOR sabia e finalmente achou que  aquela data seria a gota d'água, para decidir o que faria com todos nesse orbe terrestre...

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Amanheceu um dia diferente, o céu não tinha pássaros e a cor era alaranjada, diferente do azul costumeiro... Como se fosse um fim de tarde, quando o sol deixa esse tom no céu...
As borboletas também sumiram. Os cães não latiram na vizinhança, pareciam esperar alguma coisa, quietinhos.
Eva tomou seu café da manhã. Ligou a TV, prestou atenção nas notícias.
Uma 'turbulência' pelo mundo: Parecia que todos enlouqueceram de uma só vez: incêndios, saques, violência... Sem falar nos acidentes naturais: as geleiras começaram a derreter, os oceanos aumentavam de tamanho em minutos, as enchentes eram iminentes...
Ela desligou o aparelho de TV. Recolheu-se em uma prece.
Depois, fechou as janelas e portas.
O dia havia chegado, ela sabia!
Falou ao telefone com alguns amigos e parentes que ainda atendiam, pois não tinham sido 'infectados' pela tormenta. Despediram-se.
Apertou o retrato dos filhos no peito. Aguardou...

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O céu escureceu, tornou-se cinza. Trovões assustadores, raios rasgavam a atmosfera.
A rebelião das hordas nefastas seguia pelas ruas, faziam alarde, gritavam, fingiam vozes amigas para que os desavisados, abrissem as portas...
Mas ela sabia: nunca abrir! Por mais triste que fosse o apelo do lado de fora...
Pousou uma vela acesa na janela principal da casa. Aquilo faria com que eles não chegassem perto. A luz doía-lhes os olhos, eram seres malévolos, viveram na escuridão até ali...
Ela continuava suas preces, até que finalmente um sono tomara conta de seus olhos: As pálpebras pesadas fechavam mesmo contra sua vontade.
O sono durou 3 dias. Assim como Eva, alguns seres humanos também caíram nesse sono profundo, em vários lugares do planeta. Assim foi até o terceiro dia.
Eva abriu as janelas, pois ao acordar percebeu que o ruído das hordas havia terminado, e a luz do novo dia, passava pelas frestas das portas e janelas de sua casa. O sol estava de volta!
Respirou fundo, percebeu que até o ar era leve, um aroma primaveril de flores!
Saiu porta a fora, para olhar o 'novo mundo', sabia que haveria essa mudança: As coisas nunca mais seriam como antes...
Uma Nova Era, tão anunciada e que muitos duvidaram que aconteceria!

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Eva viu que algumas pessoas despertavam também, aquelas que estavam caídas pela rua, quando houve a mudança da escuridão para a LUZ.
Todos estavam ainda desnorteados, a adaptação ao novo sistema, teria de ser gradual e isso seria garantido pelos mentores responsáveis pela Nova Era.
As memórias anteriores, foram apagadas com a finalidade de não causar dor, pelos parentes que já não estavam mais entre eles.
Todo sofrimento humano: guerras, violência, fome, moléstias, fora retirado também da Terra.
O mal havia sido combatido por 3 dias, e derrotado, foi levado com tudo que isso acarretava.

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Curiosamente, Eva se lembrava do passado, de antes do sono profundo que passara... Ela percebia que os outros, nada sabiam o que havia acontecido, nem mesmo quem eram! Apenas despertaram para um mundo novo. Teriam nomes novos, uma nova Humanidade surgia, para os que ficaram pelo merecimento, foram escolhidos e poupados pelo Criador.
Eva seguia olhando tudo de novo ao seu redor:
No lugar de avenidas, agora haviam campos verdejantes!
Nada de carros,  de máquinas, nada que lembrasse a tecnologia que o homem produziu nos séculos anteriores.
Apenas as pessoas, os animais, juntos, para viverem de mãos dadas com 'Gaia' renovada.
Eva lembrava do seu nome e significado: A 'primeira mulher'.
Os demais não sabiam, e escolheriam o nome que  quisessem, a partir daquela data.
Caminhou até a beira de um rio e sentou-se ali.
Fechou os olhos, respirou fundo...
Percebeu que ainda não comera nada desde que saiu de sua casa. Sentiu um toque em seu ombro:
_ Bom dia, Eva. Sou seu mentor. Sei que você está se perguntando porque não esqueceu o mundo anterior como os demais. A resposta, é apenas uma: Recebeu o nome da primeira mulher, e assim como ela foi encarregada de um dia povoar a Terra, você também terá uma missão: Cuidar de todos que estariam sob sua guarda, como uma grande mãe,  e não deixar que eles voltem a cometer os mesmos erros.
 Terá minha ajuda e de outros mentores, para que aprenda mais sobre a nova Ordem, e como lutar contra isso... Talvez se torne mentora também.
E pegando uma de suas mãos, ajudando-a se levantar, ele completou:
Muito prazer, me chamo Adão.

Fátima Abreu