quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

SEGREDOS DA ALMA




Queria poder falar  de coisas lindas hoje.
Mas, meu espírito não está para isso.
A sensação de impotência e fracasso, novamente 'ronda' meu espaço.

É triste não ter com quem compartilhar os sentimentos. Pois não estão interessados.
Mais triste ainda saber, que mesmo que quisessem ouvir, nem tudo poderia ser dito.
São segredos da alma.

Detalhes que só eu sei, e ninguém mais.
Um grão de areia no deserto ou uma estrela perdida entre milhões de outras.
Solidão.

Para quem eu diria algo?
Todos se acham juízes dos outros.
Diriam: Está assim por suas escolhas.
Nada mais certo!

Porém, nessas horas precisamos apenas que nos ouçam em silêncio.
A alma da pessoa, não quer críticas, pois já está fragilizada pelo sofrimento.
Quer sim, que a nuvem cinza se dissipe e se torne algo mais colorido.
Azul, de preferência.

Fátima Abreu






quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

FOTOS DE HOJE 19/02/2014 - Poesia "FIGURA"


FIGURA

En la figura me condiciono.
En esta foto que tomé.
Son moldes, contornos de un rostro,  
Poeta que transforma.

La escritura de la pluma de una edad temprana.
Sobre el papel, cuaderno.
Tuve que mostrarle ...
Sólo con la llegada de la tecnología informática,
Yo podría, una vez más ponerme en ...

El ama de casa ocupada,
Para el autor que lee,
En esta rueda de la vida,
Todos los días una sorpresa!

¿Quién sabía "Pingo de Gente"
Yo siempre estaba, hubiera publicado libros,
Aunque de manera independiente ...

Pero para mí,
Se llevó a cabo la niña mayor sueño
Ver mi nombre en la portada,
Y dirás: ¿Fue mi destino ... 

Fátima Abreu





FIGURE

In figure condiciono me.
In this photo I took.
Are molds, contours of a face,
The poet who transformed.

The pen writing from an early age.
On paper, notebook.
I had to show you ...
Only with the advent of computer technology,
I could once again turn me ...

The busy housewife,
To the author you read,
In this wheel of life,
Every day a surprise!

Who knew "Pingo de Gente"
I always was, would have published books,
Although an independent manner ...

But for me,
The biggest dream girl was conducted
See my name on the cover,
And say: Was it my fate ...

Fatima Abreu Fatuquinha




FIGURA

Numa figura me condiciono.
Nessa foto que tirei.
São moldes, contornos de uma face,
Da poeta que me transformei.

A caneta escrevia desde a mais tenra idade.
Sobre o papel, no caderno.
Não tive como te mostrar...
Apenas com o advento da informática,
Pude mais uma vez me transformar...

Da dona de casa ocupada,
À autora que você lê,
Nessa roda da vida,
Cada dia uma surpresa!

Quem diria que a "Pingo de Gente"
Que sempre fui, teria livros publicados,
Ainda que de uma maneira independente...

Mas que para mim,
Foi realizado o maior sonho de menina,
Ver meu nome numa capa,
E dizer: Valeu a minha sina...

Fátima Abreu 

Fatuquinha

 ************

 

FIGURA

Nella figura mi condiciono.
In questa foto che ho scattato.
Sono muffe, contorni di un volto,
Il poeta che ha trasformato.

La scrittura della penna dalla più tenera età.
Sulla carta, notebook.
Ho dovuto mostrare ...
Solo con l'avvento della tecnologia informatica,
Potrei ancora una volta mi girare ...

La casalinga occupato,
Per l'autore di leggere,
In questa ruota della vita,
Ogni giorno una sorpresa!

Chi sapeva "Pingo de Gente"
Ho sempre stato, avrei pubblicato libri,
Sebbene maniera indipendente ...

Ma per me,
Il più grande sogno ragazza è stata condotta
Vedere il mio nome sulla copertina,
E dire: Era il mio destino ...

Fatima Abreu Fatuquinha

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

DE 'BRAÇOS SEMPRE ABERTOS'...

O que significa  a mensagem do quadrinho abaixo?
 Foto
Que todos vamos para o mesmo lugar. Não há ricos e pobres.
Não existem raças diferenciadas.
Não há deficientes e "perfeitinhos"...

O que há é a única verdade suprema: Todos somos feitos de uma centelha divina e cabe a nós fazermos jus de voltar a sermos. Como? Tentando primeiramente fazer o BEM.
De que forma? Caridade, Fraternidade, Tolerância, Perdão. E as não menos importantes: Compreensão, Igualdade, promoção da PAZ e dos bons sentimentos.
Fiquei horrorizada com os episódios que assisti ontem na TV, sobre 2 casos de racismo.
Pelo amor de Deus! Nos dias de hoje, em pleno século XXI, ainda acontecer esse tipo de coisa!
Inadmissível...
Como as pessoas não se enxergam?

Vou falar sobre a que mais me chocou:
A australiana que escolheu viver no Brasil há 5 anos, aprendeu nossa língua (aliás, pelo que notei, até sem sotaque), e não percebeu em nenhum momento que aqui todos somos miscigenados? Então, porque veio morar exatamente em um país que existem misturas étnicas?
Santo PAI DO CÉU! Não viesse!
Em que ela pode ser melhor que qualquer um de nós; é feita de carne e osso, ou ouro maciço?
Tratou a manicure do salão de beleza, como se fosse um ser qualquer  e não quis pagar o serviço, mesmo depois que trocou de manicure, porque disse que o salão estava cheio de gente da "cor ruim"... 
Se alguém não dissesse na reportagem, que era aquela mulher de rosto arredondado a tal australiana, eu pensaria que era alguma descendente de nordestinos, assim como eu.
Aliás, não tenho problema nenhum em dizer isso:
Tenho raízes indígenas, pelo meu avô paterno, nordestinas, pela minha mãe, portuguesa pela minha avó paterna, uma raiz longe, mas ainda assim, holandesa...
Percebem? Nosso país foi feito pelos 3 elementos: Branco, negro e índio. Isso, sem contar ainda com os imigrantes que vieram de outras partes depois, como os árabes que escolheram o sul do país para morar e os chineses e japoneses que atualmente se espalharam.
Dois de meus netinhos, são mestiços de nipônicos e brasileiros. Acho a coisinha mais linda!
Imagine se o Brasil não tivesse recebido todos os povos que para aqui migraram: Seríamos um povo sem a cultura linda e vasta, que temos atualmente.
Como o nosso Cristo Redentor, estamos de braços abertos, mesmo para uma australiana que não sabe o que diz. Vai para o mesmo buraco um dia, que qualquer um de nós, como peões e reis na gaveta do jogo de xadrez.

FÁTIMA ABREU


                                                   LUANA AZUMI & GABRIEL HIROSHI:
MEUS NETINHOS, FILHOS DO MEU FILHO FELIPE PAULO.





quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

ENCONTRO CASUAL- CAPT 6

Duas semanas se passaram e Micaela, Mirthes e Corine, ficaram cada vez mais próximas.  As funcionárias da grife, acharam isso um pouco estranho... Claro, inveja e comentários indiscretos, existem em toda parte do mundo.
Uma tarde, já totalmente integrada dos seus afazeres no atelier, Micaela finalmente ouviu seu celular tocar com uma chamada de Jordan.
Mirthes percebeu que ela aceitava um encontro na cafeteria (a mesma em que haviam se conhecido). Desta vez, do lado de dentro, com uma mesa já reservada por Jordan.

Depois de desligar o celular, timidamente Micaela olhou para sua chefe e disse:
_ É um rapaz que conheci no mesmo dia em que estive aqui, na primeira vez...
_ Ah, sim? Que interessante, mas não precisava me dizer, querida. Sua vida particular deve ser preservada. A menos que, queira partilhar comigo ou com Corine...
_ Sim, vocês tem sido como uma família para mim, nessas últimas duas semanas que estou aqui. Pagaram médico, deram local para morar, comer...até roupas e calçados novos, além dos acessórios e maquiagem!
Nunca tive atenção dessa maneira. Confesso até que fico sem jeito, são tão boas para mim. Não há nada demais em compartilhar um pouco da minha vida: Esse rapaz, Jordan, tem minha idade. É bonito, e pelo que percebi, bem posto na vida... Nos conhecemos numa cafeteria bem perto daqui, aquela muito frequentada, na esquina. Combinamos de nos reencontrar assim que ele tivesse um tempo livre. Parece que finalmente ele teve...
_ Isso é ótimo, Micaela. Dessa forma, pode se distrair um pouco. Porque está sempre cuidando do trabalho, e não a vejo sair com alguma companhia, nem aos fins de semana!
_ Sim, madame Mirthes.  Eu sempre fui uma pessoa solitária. Tive pouquíssimas amizades na vida. Acho que se conta nos dedos de uma mão...
_ Ah, mas agora ponha nessa cabecinha que não é mais: Aqui tem Corine e eu; agora o Jordan...
_ É verdade, não sou mais uma solitária na vida!
_ Quem sabe, até namoram?
_ Não sei... Ele tem uma classe social melhor do que a minha. Acho que seremos bons amigos, disso tenho certeza, porque nos entendemos em pouco tempo. Parece até que ele já me conhecia... Nos afinamos tanto!
_ Hum, parece que de sua parte, existe um interesse maior do que amizade...
_ Confesso que ele me impressionou e que torci para que ele ligasse. Mas seria muito difícil, porque acho que ele quer ser apenas meu amigo.
_ Bem, o tempo dirá. Agora apronte-se para esse encontro, vá com uma de suas roupas novas, aproveite para ficar bem bonita, isso além do que já é...
_ Sim, obrigada pela força, madame Mirthes.
_ Posso te pedir para não me chamar assim, quando estamos somente eu, você e Corine? Apenas na frente das outras funcionárias, certo? Chame apenas de Mirthes.
_ Se prefere assim...
_ Sim, acho que Corine também!
Essa, que a tudo ouvia de sua mesa, fez que sim com a cabeça.

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Jordan ainda não havia chegado ao Café.
Micaela sentou-se diretamente na mesa que estava reservada com seu nome e o dele, ficando à espera.
Ela estranhou como um britânico poderia se atrasar.
Cerca de 5 minutos depois que ela havia chegado, ele apontou na entrada da porta. Micaela virou-se para que Jordan a visse.
Ele então, dirigiu-se até onde ela estava sentada aguardando...

Desculpou-se pela pequena demora. Micaela riu e respondeu:
_ Estranhei um inglês se atrasar!
Ele disse também sorrindo:
_ Não sou inglês, deve ser por isso...
_ Não é? Pensei que fosse, com esse sotaque britânico! Onde nasceu então?
_ Nasci em Montmatre, na França, como você. Somos conterrâneos.
_ Por que não me disse antes?
_ Não quis atrapalhar seu relato, no dia em que nos conhecemos.
_ E como e quando veio para cá, me conte agora.
_ Ah, isso foi há muito tempo atrás, quando era apenas um bebê: Fui adotado por um casal que estava na França para uma férias. Visitaram o orfanato, gostaram de mim, me adotaram e sou feliz com eles.
Não poderiam ter pais melhores!
_ Sorte sua!
_ Sim, realmente...  Pena que você não teve tanta assim, depois que ficou órfã...
_ Nem me fale! Mas agora as coisas estão melhores. Estou trabalhando numa famosa grife: Rêver de la Belle. 
_ Conheço. Minha mãe compra sempre lá. Algumas vezes vou até lhe acompanhando...
_ Ah, sim? Que ótimo. Numa dessas idas, me procure: Farei questão de conhecê-la.
_ Ora, não precisa esperar por isso: Pode almoçar conosco no sábado, que tal? Convide também as madames Mirthes e Corine. Minha mãe gosta muito delas. Se conhecem pelo menos há uns 8, 9 anos...
_ Nossa, como esse mundo é pequeno! Hoje mesmo, falei sobre você com madame. Como não disse o sobrenome que estava no seu cartão, ela deve ter pensado que seria outro Jordan...
_  Certamente. Então, está combinado?
_ Sim, de minha parte irei. Vou convidá-las também.
_ Faça isso. Mamãe ficará contente coma a presença de todas. Agora vamos pedir? Conversamos e ainda não comemos  e bebemos nada!
_ É verdade! Quero um café expresso com bolo inglês, torradas, queijo cremoso e geleia de morango.  E você?
_ Engraçado... Vou pedir exatamente o mesmo, parece que leu meu pensamento!

********************

Aqui termina minha mostra desse conto. De agora em diante, se tornará meu novo livro.
Quem quiser continuar a ler, terá com certeza de comprar quando eu terminar de escrever.
Pretendo fazer pelo menos, mais 14 capts... Se a inspiração for boa!
Agradeço quem acompanhou até agora.
Beijinhos.

Fátima Abreu
Parisian Style

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Conselho 2


ASPIRAÇÕES...


NÃO, NEM TUDO QUE ASPIRAMOS CONSEGUIMOS! FIQUEMOS CERTOS DISSO.
ENTRETANTO, O SER HUMANO É PERSISTENTE!
ALGUMAS VEZES ATÉ CRIA EXPECTATIVAS QUE PODEM SER NÃO CORRESPONDIDAS.
EM OUTROS MOMENTOS, DÁ-SE POR VENCIDO.
NOVAMENTE  LEVANTA, SACODE A POEIRA E DÁ A VOLTA POR CIMA

MELHOR É SEMPRE BUSCAR O EQUILÍBRIO: O MEIO TERMO EM TUDO...
NÃO ACHE QUE VAI MELHORAR DE VIDA RAPIDAMENTE:
ISSO SÓ ACONTECE EM FILMES, NOVELAS DE TV E NOS LIVROS!
TAMPOUCO SE DÊ POR UMA PESSOA DERROTADA.
O AMANHÃ NOS RESERVA AQUILO QUE REALMENTE MERECERMOS.
TENHA EM MENTE A DETERMINAÇÃO, O ESFORÇO PARA BUSCAR COISAS NOVAS QUE CONTRIBUAM PARA O MELHOR DE SI, ALÉM DA ESPERANÇA.
ESSA, NUNCA DEVE MORRER.
UM SER HUMANO SEM ESPERANÇA, É UM VASO SEM  FLORES.


FÁTIMA ABREU

EM RESPOSTA A PERGUNTA:

" Por que nada dá certo comigo, amiga?"
 Mònica Castanys

ENCONTRO CASUAL- CAPT 5


 Fashion illustration
Micaela voltava para o atelier de Mirthes com suas coisas, mas antes, dera uma passada na cafeteria onde encontrara Jordan. Quem sabe encontraria aquele rapaz por ali novamente?
Certo, haviam combinado de se encontrarem para um bate papo na semana seguinte, quando Jordan estaria mais 'folgado' de suas atividades...
Foi quando Micaela percebeu que falara de si o tempo todo e nada sabia direito sobre ele... Que atividades seriam essas, afinal?

Pegou um café para "viagem" naqueles copos que achava horrorosos de isopor, mas que o mantinham bem quentinho, e seguiu em frente, afinal Jordan não estava ali...
Teria de esperar mesmo por um telefonema marcando...

Quando entrou na loja novamente, Corine estava conversando com Mirthes e ao vê-la, as duas irmãs calaram-se por um momento. Deu para notar que estavam falando dela. O que seria óbvio, dadas as circunstâncias de uma novata ir morar no atelier da cobertura!

Corine, fez sinal para que Micaela se aproximasse.
Meio timidamente (em relação às outras funcionárias), ela foi até onde as novas patroas estavam.
Mirthes pegou sua mão e pediu para a gerente que estava perto, marcasse no final do expediente, uma reunião bem rápida no salão principal, onde aconteciam os desfiles da loja, para a apresentação da PROMOTER  Micaela Carmello, francesa descendente de espanhóis.
Lilly, a gerente, fez que sim com a cabeça.
As duas irmãs então, acompanhadas por Micaela, subiram para a cobertura. Ali ficariam até o fim do horário de atendimento ao público.

A essas alturas, é claro que Mirthes havia contado tudo que descobrira sobre Micaela para Corine.
Que de certa forma, ficou contente em saber que também estava certa, quando viu algo que lembrava a irmã, na novata...
Conversavam animadas e Micaela estranhou aquela receptividade toda: Nunca antes havia recebido tanta atenção em um emprego!
Quando Mirthes finalmente lhe disse quanto ela iria receber, foi um susto total!
O copo de café que ainda estava em sua mão, caiu de imediato no chão.
Ficou embaraçada, não sabia o que dizer.

Corine riu e lhe disse:
_ Bem se vê que não está acostumada  a um bom salário, Micaela!
_ Não madame. Nunca recebi uma quantia semelhante.

Foi a vez de Mirthes falar:
_Conte sobre você: O que a levou a vir para Londres e deixar Montmatre?
_ Bem, senhora... Tive que fugir da França, para não ser levada para um orfanato, depois da morte de meus pais em um acidente de carro... Tinha 15 anos e foi muito difícil até hoje para mim. Eles me fazem falta... Tratavam-me como uma princesa! Já o mundo aí fora não: É cruel. Fui violentada aos 17 anos, por um dos  filhos dos meus patrões. Depois, com pena, deram-me dinheiro para ir embora. Vim então para Londres. Aqui, fiquei em empregos temporários e essa é toda minha história.

Mirthes não pode deixar de ficar emocionada com o relato da filha. Ficou satisfeita de saber que pelo menos enquanto o casal era vivo, cuidou muito bem de Micaela. Sua escolha então fora acertada.
Corine que era mais emotiva, deixou cair algumas lágrimas...
Pensava também no sobrinho que deixara no orfanato: Será que teve melhor sorte que Micaela, ou pior?

Micaela ao notar que Corine estava muito sensibilizada, disse:
_ Madame, não precisa ficar assim... Minha vida é como de tantas pessoas que ficam órfãs muito cedo. Eu mesma repeti isso várias vezes! Sim, para me conformar quando comia apenas uma vez por dia, depois que cheguei a Londres...

Ao ouvir isso, Mirthes desmoronou. Só de pensar que ela poderia estar fraca, anêmica ou coisa pior, porque comia apenas uma vez ao dia, a sua consciência doeu. Ela agora cercada de luxo, comendo em bons cafés  e restaurantes e a filha até aquele dia, nessa situação! Era imperdoável. Faria de tudo para  compensar o tempo perdido: A começar para lhe mandar ao médico e fazer todos os exames básicos. Claro, tudo seria 'por conta' da grife.

(continua)

Fátima Abreu

 










segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ENCONTRO CASUAL- CAPT 4


Na sala para onde Micaela seguia a mando de Corine, uma lembrança passava na cabeça da mãe que ela não conhecia...
Mirthes fechou os olhos e relembrou uma imagem do passado distante:
Estava em Montmatre, ainda na França, seis anos de idade.
 Mostrando para o artista que expunha seus trabalhos nas ruas da cidade, seus rabiscos infantis, mas que mostravam seu talento para os desenhos...


street artist in Montmatre, France

Ela agora olhava ao seu redor e via o quanto tinha progredido:
Uma atelier para suas criações, uma cadeia de lojas de sua grife:  Rêver de la Belle.
Sim, agradecia também a  ajuda de Corine, pois se não fosse por ela, nada disso seria possível!
Perdida nos pensamentos foi chamada ao presente, pela batida na porta.
_ Entre!
  Micaela pediu licença e apresentou-se à Mirthes:
_ Olá, sou Micaela. A senhora Corine, disse para que eu me apresentasse aqui, Madame Mirthes.
_ Sente-se Micaela. Bem, bem... Parece-me familiar... Eu a conheci antes? Em algum de nossos desfiles, esteve presente?
_ Não, imagine, senhora! Eu até aqui, só vivi de empregos temporários e nunca fui modelo.
_ Engraçado... parece que te conheço, é uma sensação estranha! De onde vem?
_ Venho de Montmatre, na França. Preferi morar aqui na Inglaterra, desde que fiquei órfã, ainda adolescente.
_ Então devo ter te visto por lá, pois também sou dessa cidade! Quantos anos tem?
_ Tenho 21anos, na verdade, quase 22. Faço em maio.

Mirthes, olhou com mais atenção para Micaela e apenas em um momento, reconheceu-se naquele rosto...
Sim, era ela: A filha que ela havia doado para o casal que perdera a menina!
_ Como se chamavam seus pais, Micaela?
_ O nome deles está na ficha no DP, senhora. Pois consta em minha identidade.
_ Quero ouvir de você.
_ Valentín e  Moira Carmello. Eram espanhóis, que migraram para a França.

 Era a confirmação de que Mirthes precisava... Era esse mesmo casal.
Estava diante de sua filha! Depois de tantos anos, um encontro casual  as aproximava novamente!
Não podia dizer-lhe por certo. O casal disse-lhe ao receber de braços abertos a bebezinha, que nunca contariam que era adotiva. Pediram também para que Mirthes nunca a procurasse, mesmo morando na cidade. 
Assim ela fizera, pois também lhe convinha não saber o que acontecia... A vida já era bem difícil trocando de emprego a todo momento! Quanto ao filho, nunca soube absolutamente nada. Deveria ter sido adotado por algum casal mesmo, estava bem, com certeza...

Mirthes tentou disfarçar o estranho sentimento que tudo isso lhe causava... Disse então para Micaela:
_ Seja muito bem vinda ao nosso local de trabalho, Micaela! Hoje mesmo darei todas as instruções para que comece e saiba que terá um bom salário. Outra coisa: Onde mora?
_ Bem perto, senhora. Não se preocupe, serei sempre pontual, como todos aqui em Londres.
_ Quero saber se é um apartamento, casa...
_ Até que seria bom... Não, madame: Moro de aluguel em um quartinho com banheiro. 
_ Não. De agora em diante mude-se para meu atelier. Aqui você terá tudo que precisar.
_ Mas senhora, isso é um pouco incomum, não acha? O que dirão as outras funcionárias? Uma novata morando aqui no seu atelier... Na cobertura do prédio!
_ Quem manda sou eu. Elas não tem que ter opinião sobre isso. Para todos os efeitos, não gerar inveja e comentários que cheguem aos seus ouvidos, quando perguntada, diga que é uma promoter da França. Estará tudo bem. Não será estranho então.
_ A recepcionista sabe que eu queria a vaga de balconista... Ela pode comentar sobre isso.
_ Não se preocupe com Gertrudes. Ela é discretíssima!  A chamarei até aqui e pronto!
_ Bem, se é assim, aceito sua proposta e mudo para cá  com minhas poucas coisas: Não dão mais do que duas malas.
_ Faça isso ainda hoje. Quero que depois do almoço, vá buscar suas coisas. Vou apresentá-la para toda nossa equipe.
_ Aqui tem algum refeitório para almoçar?
_ Claro, menina! Acabei de dizer que aqui terá tudo que precisa! Também as refeições, não se preocupe. Além do mais, aqui na cobertura, tem frigobar com sucos, água... sempre tem um vinhozinho também e micro ondas, se quiser fazer uma refeição de noite, quando a cozinha do segundo andar estiver fechada.
Agora venha, vou te mostrar pessoalmente todo o resto do nosso prédio.

Dentro de si,  Mirthes pensou que aquele "nosso" soava como estar apresentando para Micaela o que lhe era de direito...

(continua)

Fátima Abreu



sábado, 8 de fevereiro de 2014

ENCONTRO CASUAL -CAPT 3



Acontecera havia tanto tempo... Mirthes também relembrava quando entregou a menina recém nascida, ao casal que havia perdido a única filha, em acidente trágico:  A menina de então 9 anos, atravessava a rua distraidamente, lendo uma revistinha em quadrinhos, quando aquele ônibus sem freios a pegou.
Foi com alegria que receberam a bebezinha, no lar, acreditando que Deus havia lhes dado novamente a mesma menina perdida, uma ano antes: Eram franceses espiritualistas e acreditavam na reencarnação.
Até os olhos e a testinha da criança relembravam a filha! Resolveram então dar-lhe o mesmo nome da falecida, passando a bebezinha a ser chamada de Micaela.

O destino se escreve  sozinho, e puderam acompanhar a nova filha até os 15 anos. Entretanto, um acidente de carro, pois fim à  felicidade que havia encontrado com  Micaela. Numa estrada, que estava coberta por neve, o carro deslizou e bateu numa árvore. O casal morreu na hora, mas Micaela que estava no banco de trás, conseguiu sobreviver, saindo do acidente com pequenas escoriações apenas.
Agora era uma filha que ficava sem os pais. Depois que saiu do Hospital, pegou suas coisas, entregou a casa ao senhorio e foi embora pedindo carona pela rodovia. Seu objetivo era ir para bem longe para que ninguém viesse procurá-la para colocar numa instituição até a maioridade. Ouvira falar que as meninas sofriam abusos de funcionários, no orfanato de sua cidade. Não estaria disposta a isso: Preferia correr mundo, do que ser violentada!

E essa era a verdadeira história de Micaela.
Mirthes não desconfiava  o tanto que sua filha já havia passado nos últimos anos. Trabalhando em casas de família como arrumadeira, Micaela lutava para sobreviver e depois, já adulta, em empregos temporários que só garantiam uma refeição por dia...
O filho, dera mais sorte, mas também disso, Mirthes não sabia...
Duas vidas que tomaram rumos diferentes!
Agora, um encontro casual os colocara frente a frente...
Mas, os gêmeos não desconfiavam de seu parentesco tão próximo. Muitas coisas teriam que acontecer antes disso ser descoberto...

Apenas duas pessoas poderiam  descortinar a verdade: Mirthes e sua irmã Corine.
Nesses anos, tornaram-se sócias.
Depois de muito bater a cabeça, em empregos onde não chegava a lugar algum, Mirthes pediu ajuda de Corine.
Com a irmã custeando, fizera um curso de figurinista,  e começou a produzir as peças que criava, pois Mirthes costurava bem e Corine bordava também, desde quando eram crianças.
 Juntas, alugaram uma pequena loja. Foi o começo de um grande sucesso. Atualmente estavam com 3 filiais de sua grife.

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Jordi Labanda
Uma moça de cabelos pintados um pouco manchados com restos da tinta anterior, entrou na loja e mostrou o jornal, dizendo estar interessada no emprego de balconista.
 Durante os meses de novembro e dezembro, contratavam mais pessoas, por causa das festas de fim de ano. Eram pelo menos 2 meses garantidos de sobrevivência para Micaela! Se fosse bem, quem sabe poderiam efetivá-la? Acontecia isso quando uma novata se destacava, ela sabia...

A recepcionista a levou ao Departamento Pessoal, onde seria entrevistada.
Corine estava lá.  Apertaram as mãos. Corine pediu que se sentasse.
Apresentou-se como uma das sócias.
Ela então, lhe deu uma folha  para que preenchesse: Continha perguntas a serem respondidas e dados pessoais.
A entrevista era apenas isso: Responder ao questionário e colher informações.
Micaela nunca tinha visto tal procedimento, mas, limitou-se  a pegar o papel e escrever tudo que ali se pedia...
Corine a observava. Notou um suor pelo seu rosto, revelando ansiedade.
Acabando de responder, Micaela entregou o papel de volta para Corine, que leu cada linha muito atenta.

Olhou de volta, bem nos olhos da moça e disse:
_ Bem, está tudo certo. Não há nada que eu discorde nas suas respostas; sua lista de empregos anteriores, mostra que é bem versátil e que pode trabalhar em vários departamentos.
_ Isso quer dizer que estou contratada, senhora? Posso começar hoje mesmo?
_ Sim, está. Agora apenas deixe seus documentos no DP. Em seguida, vá apresentar-se também a minha irmã, Mirthes, para que ela lhe dê instruções, pois sei que não vai querer-lhe como apenas uma balconista: Você é bonita pode ser útil  como uma apresentadora de nossas peças.
_ Modelo?
_ Não é isso... É a pessoa que apresenta as coleções, quando há os desfiles e também divulga nas revistas de moda e afins. Vamos dizer que seja uma 'secretária' para serviços extras.
_ Ah, sim... Bem, então vou fazer o que me mandou já! Obrigada pela chance, madame Corine.
_ Não tem que agradecer. Faça bem seu novo trabalho, estarei observando. Se der bons frutos, poderei dar-lhe um cargo fixo.
 Micaela sorriu ao ouvir isso e apertou mais uma vez a mão estendida.
Corine a observou enquanto fechava a porta.
Pensou então:
" Essa moça me lembra Mirthes, não sei se por ter passado por vários empregos, ou algo mais..."
Voltou ao trabalho. Observaria a novata e com certeza, com o tempo descobriria o que lhe causava aquela sensação...

(continua)

FÁTIMA ABREU



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

SURREAL


E quando ele olhou para o quadro, na parede revestida de papel listrado em tons cinza e cor de rosa, ficou assustado:
Rapidamente teve que esfregar os olhos, pois não acreditava!
A menina Susanne, ali retratada, soltava-se do quadro: Arrumava a toalha de organdi também cor de rosa, sobre o aparador de mármore.
Cuidava para que o vaso com flores não se quebrasse...
Tampouco que as rosas murchassem.
Ele então percebia, que "HÁ MUITO MAIS ENTRE O CÉU E A TERRA, QUE NOSSA VÃ FILOSOFIA"!

FÁTIMA ABREU

domingo, 2 de fevereiro de 2014

ENCONTRO CASUAL- CAPT 2

A conversa continuou. Micaela e Jordan não percebiam o tempo passar. Trocaram então cartões de apresentação.
Ficou uma promessa no ar de um novo encontro, desta vez seria marcado por telefone.
Jordan pagou a conta, mesmo Micaela dizendo que não precisava. Ele leu em seus olhos a necessidade que a moça passava...
Há coisas que não precisam ser ditas, basta uma olhada a mais do observador para serem notadas.
Despediram-se. Cada um seguiu seu caminho naquela tarde. Mas, o pensamento de que aquele 'encontro casual' era obra de alguma força maior, passou por suas mentes...

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No passado...
 newborn twins#Repin By:Pinterest++ for iPad#


Mirthes dava a luz a um casalzinho de gêmeos. Uma cabana no meio da floresta, foi o palco do nascimento. Apenas um instante de felicidade para Mirthes:
Roger seu esposo, havia morrido dias antes dos filhos nascerem. Viúva e chorosa, ela só teve a companhia de sua irmã Corine, nos últimos dias da gestação.
Corine fizera o parto. E também cuidou da irmã deprimida  e dos sobrinhos recém nascidos.
Mas, Mirthes aumentava visivelmente sua depressão. Corine, percebendo isso, disse-lhe certa noite ao embalar o gêmeos no berço:
_ Irmã, você não tem melhorado em nada. Ademais, os bebês precisam de carinho e atenção. Isso você infelizmente não tem dado... Não seria melhor ficar apenas com um deles e doar para uma família que queira um filho, o outro?
_ Sabe Corine, eu já havia pensado nisso. Estava amadurecendo a ideia... Mas se tiver que doar, farei com os dois. Não é justo que dê carinho a apenas um deles. Então, para que nunca se encontrem, você leva o menino para onde quiser: um orfanato, casa de família... A menina, eu me encarrego, pois sei quem vai querê-la: Um casal que perdeu sua única filha no ano passado.Ouvi dizer que estavam pensando em adotar. Farei então a proposta.
_ Está certo. Levarei o pequeno quando você achar melhor. Deixarei no orfanato da cidade. Lá vão se encarregar de lhe dar uma boa família, com certeza.
_ Na semana que vem.
_ Já? Não quer ficar mais um pouco com eles?
_ Quanto mais cedo melhor. Pois não quero correr o risco de me afeiçoar aos bebês.
_ Sim, essa decisão é sua. Então farei isso na próxima semana. Agora vamos banhar as crianças...

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O orfanato era totalmente discreto: Havia ainda o sistema da 'RODA', para que doassem as crianças sem saberem de quem e de onde provinham.
A RODA, ficava do lado de fora, com uma saída/entrada para dentro do orfanato, por uma portinhola.
Uma pessoa trazia a criança, depositava em uma das partes acolchoadas e girava a roda para que ela entrasse no orfanato. E assim, alguém do lado de dentro, recebia a criança e a levava para a direção, onde era feito um registro de chegada.

Foi dessa forma que Jordan chegou ali. Numa fria manhã do comecinho do inverno...
Coberto por mantas e apenas um bilhetinho preso, com os dizeres:
"CUIDEM DE MEU SOBRINHO".

Com lágrimas nos olhos, Corine saiu, perguntando dentro de si, se agira bem, quando deu força para que a irmã tomasse essa decisão... Era necessário, repetia para si mesma.
Afinal, Mirthes estava desequilibrada, e poderia por em risco a segurança dos pequenos, quando Corine voltasse para casa e a deixasse sozinha com os gêmeos.
Além disso, Mirthes não poderia sustentá-los, pois nem a  ela mesma saberia como fazer de início, já que era o falecido marido que trazia o 'pão de cada dia' para casa...
Agora, teria que deixar passar o resguardo e depois sairia procurando um emprego. Pegaria qualquer coisa, estava decidida! Tomou um gole de café, abriu o jornal e começou a procurar...


 Café del Matino - Gianni Strino (Italian, 1953-). Oil on canvas
(continua)

Fátima Abreu