sábado, 12 de novembro de 2016

JOGO DE XADREZ- CONTO REPUBLICADO




CRÔNICA

O Estranho Caso Do Homem Ensacado, Por Um Jogo De Xadrez

Marina viajava de ônibus de um município a outro, como fazia todos os dias, para ir ao seu colégio secundário.
Levava normalmente de 50 minutos a uma hora, conforme o trânsito nas primeiras horas da manhã.
Saía bem cedinho, por volta de 5:30h.
Aquela manhã em particular, estava diferente das outras: Coisas estranhas, que Marina percebeu ao longo de seu trajeto para o colégio. Viajava sempre que possível, na cadeira do canto, para observar a mesma paisagem, que já conhecia com detalhes, por quase dois anos.
Ao olhar ao acaso, viu uma árvore onde antes (tinha certeza), nunca houve uma, naquele local.
Achou bem estranho e continuou olhando pela janela...
 Até que mais à frente, numa região que tinha muitos motéis, pode constatar em frente a um deles, um homem ensacado e morto. Entretanto, parecia que ninguém o percebia ali! Passavam  pessoas ao longo da rodovia, e era como se o fato de um corpo estar estendido no chão, fosse comum como um lata de lixo.
O espanto é, que geralmente nesses casos, sempre existem curiosos em volta, mas ali, nada!

Cerca de um quilômetro depois, viu um porco preto, grande e muito gordo, passando pela beira da estrada.
Marina resolveu pegar o livro que estava dentro da mochila para ler e esquecer um pouco a janela onde estava vendo coisas fora do comum.
Abriu o livro sobre a família Bórgia, de Mario Puzo.
Mais um livro sobre eles! Estava fixada nesse assunto, ultimamente: Mini séries de TV, filmes online, livros e tudo que poderia saber sobre esses personagens históricos. Havia sido assim também no ano anterior, com a família Tudor. Estava uma 'expert' no assunto.
Já era assim também, com os Bórgia...
Mas, incrivelmente o livro não a prendeu na leitura dessa vez, fechou-o e tornou  a olhar para fora da janela do ônibus.
Já estava na Alameda principal da cidade, quando percebeu entre os carros e ônibus que transitavam ali, um cachorro branco, magro e morto, estendido bem no meio da passagem.
Incrivelmente era como se o cão ali não estivesse, porque ninguém aparecia para retirá-lo dali...
Achando que estava imaginando coisas, ela desceu no Terminal e seguiu a passos largos até o colégio.

Ao chegar para assistir duas aulas de Português, (pois a greve dos professores continuava) ela não tirava as imagens da mente. Estaria ficando alucinada?
Algo acontecia com ela ou as pessoas estavam cegas?
Tempos atrás, vira um monge medieval, de traje marrom com capuz, levando em uma da mãos, uma lamparina, também na mesma rodovia, surgido do nada e desaparecendo também diante de seus olhos, pela janela do ônibus...

Depois da aula, voltou para casa... Não vira nada de estranho no caminho de volta.
Marina não sabia, mas havia tido uma experiência inusitada da primeira vez, que se completara nessa manhã:
Presenciou o Tabuleiro de Xadrez da Vida e da Morte:
A árvore era a Torre de ascensão.
O cão branco e o porco preto, eram os Peões do tabuleiro.
O monge era o Bispo.
O corpo do homem ensacado, era o Rei derrubado.


Fátima Abreu


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