sábado, 30 de março de 2013

Um Baile, Uma Vida II

 
CONTINUAÇÃO

Beatrice já estava uma ano e seis meses na casa da fazendinha com seus pais, mas continuava inconformada com aquela vida interiorana. Precisava arquitetar um modo de voltar
à vida social da cidade, mas de forma que todos respeitassem sua família novamente... Para isso teria que enriquecer, mas esse era o atual problema: Como? Aquele café plantado ira demorar muito a dar solução para seus problemas, o mesmo diria do gado leiteiro, que afinal dava apenas para a venda dos queijos feitos ali, nada em grande escala, já as frutas, verduras e legumes eram mesmo para alimentar sua família e a família do caseiro que morava ali há muitos anos, quem sabe por toda sua vida...
Seus pais não quiseram tirar dali, as pessoas que cuidaram com tanto amor e afinco daquela terra, por tanto tempo. Agora então, eram 2 famílias que utilizavam do que a terra dava.
Sua mãe estava enfraquecida, andava muito adoentada desde que saíram da cidade. Os ares do campo em vez de lhe fazer bem, fizeram mal até: Pegara uma espécie de alergia  que  a incomodava muito. Vivia pigarreando, sentia falta de ar de vez em quando ficava afônica... Isso sem falar na depressão que tomara conta de si. Naqueles tempo, não era dado esse nome, mas os sintomas são iguais em qualquer época...
Vivia pelos cantos da casa, chorosa, lamentando pelo futuro da filha, rejeitada pela sociedade, pelo erro do pai. E pela sua própria saúde que estava frágil, disso ela sabia.

Já o pai de Beatrice, ficava alheio à tudo. Sabia-se culpado do que fizera para sua família, mas fingia que estava contente em recomeçar tudo do zero, ali na fazendinha que fora de seus pais antes dele.
Beatrice resoluta, disse para a mãe que arrumaria um emprego de professora particular, na fazenda de algum barão do café na vizinhança, para ajudar nas despesas. 
Ela concordou, mas o pai ficou achando aquilo uma afronta! Como permitir que sua filha, antes uma jovem dama da sociedade, viesse a se tornar uma mera preceptora?
Não, aquilo era o fim!

Mas Beatrice não seu ouvidos ao seu pai, acabara de fazer 21 anos, era  agora uma mulher! Poderia  sim trabalhar onde bem quisesse. Além do que, transformara-se em uma mulher obstinada,  calculista e quem sabe: Logo seria totalmente independente?
Brigada com o pai depois de uma breve discussão, quando ele  quase deu-lhe um tapa no rosto, mas deteve-se a tempo de fazer tal coisa, pegou suas malas e arrumou tudo apressadamente...

A mãe chorosa, não pode conter a resolução da filha, de deixar a casa paterna. 
Beatrice olhou sua mãe bem nos olhos e disse-lhe cheia de carinho (pois sua mãe era a única que a deixava parecida com a jovem amorosa de antes):
_ Não chore, mãezinha. Logo voltarei totalmente refeita de posses e pronta para tirar a senhora daqui e levá-la para a cidade, onde todos nos respeitarão novamente. O dinheiro compra até respeito, quando não, bajulação.
_ Minha filha querida, vou sentir tanto sua falta! Mas já que está decidida, e não consigo argumentar nada que a detenha, então vá com minhas bençãos:

" DEUS ABENÇOE E TE GUARDE, TE PROTEJA E DÊ SAÚDE, E A LIVRE DE TODOS OS PERIGOS, VISÍVEIS E INVISÍVEIS,  TE LEVE E TRAGA BEM, AMÉM "

Feito isso, a mãe deu-lhe um beijinho na testa, como fazia sempre, desde que ela se entendia como gente...
Beatrice retribui o beijo, dando um outro, no rosto de sua mãezinha.
Saiu do quarto com as malas pesadas para colocar na carroça da fazenda. Disse olhando  a mãe na varandinha:
_ Vou deixar a carroça na estação de trem,  aos cuidados da minha amiga da bilheteria, a Diva. Peça  por favor, ao senhor Aquino, que vá pegá-la de volta lá.
_ Sim, filha.  Assim que ele voltar da lida, eu falo com ele, para que vá pegar a carroça.
_ Até breve, mãezinha!
_ Vá com Deus minha filha amada.

Beatrice chegou à cidade grande, cheia de planos. Desceu do coche, na praça principal:
Era ali que tudo acontecia de importante. Uma linda estátua de mármore fazia a beleza no centro da praça arborizada, mas já com as folhas secas pelo outono, que havia chegado...
Vendedoras de flores, pareciam que faziam já parte do lugar, como se fosse um cenário pintado, em que elas eram a parte mais importante.
Muita gente bem vestida, não se via mendigos. Eles eram afastados dos grandes centros urbanos, viviam na periferia. Haviam abrigos que  a prefeitura oferecia, para pernoite e café da manhã, desde que se mantivessem afastados dos ricos.
Lá estavam os 2 teatros: Um para peças e outro para sinfonias. Também havia os grandes cafés, onde se encontravam toda gente rica, bem nascida e de cargos importantes do local.
Uma catedral imponente em estilo gótico chamava atenção; a praça tinha lojas de todos os tipos, desde vestuário, sapatarias e chapelarias,  boticas, até de alimentos em conserva e doces caseiros.
Seu primeiro pensamento fora de cadastrar-se na rede de ensino, como preceptora de filhos de casais ricos. Afinal, entendia bem de etiqueta, tocava muito bem piano, fazia belos bordados e costura, e principalmente, de línguas e aritmética.
Sabia que os ricos preferiam esse tipo de educação em suas residências: Era melhor do que enviar filhos e filhas para colégios em que se podiam ter conhecimento de idéias liberais demais, junto aos outros alunos.

Comprou um jornal do menino que gritava alto, dando as notícias da tarde.  Rapidamente passou os olhos  na capa, mas foi direto para colina dos anúncios de emprego. Achou finalmente o que queria!
Ali estava em destaque:

Precisa-se urgente de preceptora para casal de filhos. 
Procurar a Viscondessa Nadine Santos  de Almeida, no seguinte endereço:

Rua das Esmeraldas, número 23. Alameda Principal, Centro.
Solar dos Santos de Almeida.
Exigimos boa aparência, comprovação do magistério e conhecimento de Etiqueta e Francês.

Beatrice trataria de levar sua bagagem para um hotel ou pousada, para passar a noite. No dia seguinte, logo cedo iria até o Solar dos Santos de Almeida para se apresentar como candidata ao emprego.
Poderia ganhar até um pouco mais, se oferecesse seus conhecimentos de piano, como aula extra independente.
Estava cansada da viagem quando finalmente achou um pensionato para moças que podia pagar com que tinha na bolsa. Não trouxera muito dinheiro, pois o que havia guardado durante meses eram pequenas economias. Mas ainda tinha suas jóias. Isso não fora dado como pagamento das dívidas do pai. Mas infelizmente as de sua mãe, sim. Ao lembrar disso, disse para ela mesma:

Quanta coisa a mãezinha passou, até suas lindas jóias teve que dar, para pagar as dívidas de papai! Mas em breve, vou comprar-lhe muitas. Ser preceptora, é só  uma 'ponte' para o que quero realmente!

Lavou o rosto e as mãos, com a ânfora sobre  a cômoda (que ficava ao lado da cama), colocou um camisola e dormiu sem lembrar que não havia colocado nada no estômago, desde que chegara à cidade...

(continua)

Fátima Abreu

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