sexta-feira, 14 de junho de 2013

Aqueles Vizinhos, Aquela Casa...

 Conto

Aqueles vizinhos eram bem diferentes. Nada tinham de uma vizinhança dita "normal"...
Chegaram há um ano. A casa estava vazia antes, devido as entradas e saídas de pessoas, que nunca ficavam ali: Podia-se dizer até que o domicílio era enfeitiçado. Poucos chegaram a completar seis meses morando naquela casa. Uma senhora entrou inteira e saiu de muletas, pois quebrara o pé e tornozelo, logo no primeiro mês ali: Caíra da escada que levava ao andar de cima. Foi operada e nunca mais andou normalmente.
Outra senhora ainda mais jovem, teve o banheiro todo entupido de um momento para outro, sem explicação: A sujeira vazou pelo vaso sanitário e foi um caos!
Ela desistiu da casa logo depois de uma conversa nada agradável com o senhorio. Não levou nem quatro meses ali.

Ficou vazia um bom tempo, foi então que esses estranhos vizinhos vieram para ocupar a tal casa.
Chegaram do sul do país. Sem mobília: Apenas bagagem de uso pessoal, um colchão de casal amarrado no alto do carro velho, uma TV pequena, um rádio (que colocavam na janela do banheiro) e sabe-se mais o quê...
De inicio, vieram 3 homens de idades distintas e uma moça dos seus 23/24 anos.
O homem  mais velho era de um  branco rosado (com uns 65 anos talvez), cabelos bem loiros e alto.
Assim dava os traços de sua descendência alemã.

O outro, devia ter os seus 50 anos,dizia-se pai do rapaz e da moça. Era calvo, com uns poucos cabelos grisalhos em volta da cabeça, também alto, (mas nem tanto quanto o mais velho), branco e um olhar terrivelmente estranho...
Sem saber, foi apelidado pelos vizinhos de GARGAMEL, pois parecia muito com esse personagem do desenho animado dos SMURFS.



O mais novo era irmão da moça. Bem era isso que se dizia... Mas na verdade, ninguém sabe se eles eram mesmo uma família. O rapaz tinha cabelos negros, estatura mediana, esguio, entretanto, relativamente bonito. Já a moça, tinha os seus cabelos também escuros naturais, muito branca, corpo bem distribuído (não sendo magra demais), um rosto normal: Nem feia, nem bonita, e mancava de uma perna.

O que mais chamava a atenção, além do sotaque bem do interior da região sul, eram as entradas e saídas desse grupo de pessoas: Horários absurdos, altas horas da madrugada. O ronco do motor do carro velho, no silêncio da noite, denunciava tudo...
Eles não comiam em casa, porque nem fogão ou geladeira tinham. Via-se de vez em quando jogados no lixo, copos e pratos descartáveis.

 A moça de princípio, tinha um jeito aparentemente inocente, de gente do interior mesmo. Vestia-se normalmente com  bermudas  ou calça jeans, blusas e camisetas.
Certo dia, tudo isso mudou:
Ela saiu de casa  vestida como uma "metaleira": Saia e blusa curtas e pretas, cinto de corrente,  cabelo num penteado diferente, maquiagem forte e botas de cano longo.
Mas, o detalhe mais chamativo era: Incrivelmente, não estava mancando!

Essa gente, ia e vinha a qualquer hora:   Muitas vezes, fechavam a casa e viajavam por quinze dias, outras, levavam mais de um mês para voltar...  Era tudo muito suspeito. Numa das viagens, o mais velho não retornou. Voltaram apenas o pai e os dois filhos.

Era como se essas pessoas, escondessem algo... Como alguém podia pagar um aluguel de uma casa, que quase não usava?
Outra coisa: Que trabalho era esse do pai, que não tinha horário para cumprir? Indo e vindo o tempo todo, e algumas vezes em menos de duas horas que havia partido, já chegava novamente...
Por que a filha mudou repentinamente de atitude, parecendo disfarçada e parara de mancar?

Um dia, ela disse à uma das vizinhas que a vida deles era sempre essa:
Quando o pai decidia partir, eles simplesmente iam embora da cidade em que estavam morando... Como uma vida de ciganos? Não. Era outra coisa...

Outro fato também chamou a atenção: Numa casa onde só existe uma calçada de cimento na entrada, como poderia a moça, tirar baldes de terra molhada e escura, de dentro e jogar portão a fora?
Alguém na vizinhança comentou que eles deveriam ser uma quadrilha e aquilo certamente tinha algo de muito suspeito.
Diziam também, que eles poderiam ser fugitivos de um grande golpe dado em uma empresa do sul, onde houve um desfalque...

 O fato é, que da última viagem não retornaram, deixando o carro azul marinho e velho, na garagem. Foram embora afinal de que, seria ônibus ou avião?  E para que deixar o carro?

Estranhos vizinhos, de olhares vidrados, onde estarão?
Há quem diga que eles eram bandidos ou até mesmo ETs  infiltrados  entre nós(!)
Ou seria  a culpa da tal casa enfeitiçada, que a todos mudava?

Vai se saber...
Fátima Abreu

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