sexta-feira, 26 de setembro de 2014

VÂNIA



Esse texto refere-se a uma pessoa que foi de minha estima, que aqui, troco apenas o nome, mas conto sua vida e as 'voltas' que ela teve que passar...

Vânia era uma jovem pernambucana que conheceu um rapaz que trabalhava na Marinha Mercante: Edson; Gostaram um do outro, em pouco tempo já namoravam.
Edson trabalhava juntamente com seu melhor amigo, Honório.
Honório, já tinha se casado com Conceição. Sempre dizia a Edson que se casasse também, porque aquela vida de viajante pelo mundo, um dia iria acabar...
Teria de arrumar um emprego em terra firme. O ideal seria, ter uma esposa quando voltasse para casa no fim de cada dia, esperando com um bom jantar e o carinho da mulher...
Animado com o incentivo de Honório, Edson pediu Vânia em casamento. Afinal, estavam apaixonados mesmo, por que esperar mais? Ela aceitou.

Rapidamente Conceição e Vânia já eram amigas também.
Os dois marinheiros ficaram em terra de vez, trabalhando agora, na estiva.
Moravam em bairros vizinhos e pelo menos uma vez a cada 10 dias se visitavam.
Conceição teve 2 filhos: Linda e Valter, e Vânia 3: Sérgio, Marina e Nadir.

As famílias durante anos se visitaram, a amizade cada vez mais firme...
Dos filhos de Conceição e Honório, Linda casou-se primeiro, e teve um único filho: Eduardo.
Valter casou-se anos depois com Maria, tiveram 3 filhos. Mas sua primeira filha, Fiona, foi batizada por Vânia e Edson, o casal que já estava na casa dos quarenta e tantos anos, nessa época...

Os filhos de Vânia e Edson já estavam todos casados e também com filhos, menos Nadir, que era estéril... Ou seria o marido?
Anos se passaram, e as visitas de Fiona aos padrinhos era motivo de muita alegria para a menina: Sua madrinha Vânia, sempre fazia o seu bolo preferido: molhado com caldo de laranja ao sair do forno, e depois polvilhado com açúcar e canela.  Além disso, ainda tinham os biscoitinhos de nata,  as brevidades e o café com leite mais gostoso, que em qualquer outro casa: com leite de cabra!
Tudo isso servido com pães e geléia que sua madrinha fazia, numa mesa grande (com toalha bordada e com crochê nas pontas) no centro da copa.
Havia no aparador, um relógio que batia a hora exata, mas fazia um estrondo danado! Mas era muito gostoso para todos, aquelas tardes de domingo!

Fiona, no dia da festa de seus 15 anos, ganhou de sua madrinha uma pulseira cravejada de pedras azuis, a sua cor preferida.
Um ano depois, seus padrinhos foram ao seu casamento: Fiona casara-se grávida, mas eles em nenhum momento fizeram qualquer comentário. Ela adorava seus padrinhos Vânia e Edson, que nesse tempo, já se encontravam na terceira idade...

Quando Fiona já tinha 2 filhos, seu padrinho faleceu. Ela sentiu...
Gostava muito dele.
A madrinha Vânia estava sem seu companheiro de tantos anos agora... Triste e preocupada... Sofria tremendamente.
Dali em diante, a vida de Vânia se transformou:
Naquela época, quando se ficava viúva, os trâmites da pensão eram bem demorados, não havia a tecnologia de hoje, e a burocracia dos papéis em nada ajudava...
Vânia estava sem receber dinheiro, já faziam 6 meses! Quem a ajudou nesse período, foi justamente Valter e Maria, seus compadres.
Vânia vivia outro drama: Quando sua filha Nadir foi largada pelo marido, ficou vivendo com ela, e estava diabética também. Sorte que Nadir não teve filhos com seu marido: era um aproveitador barato, sempre vivendo às custas dos sogros por todos aqueles anos.
Nadir ficou cega pelas complicações do diabetes.
Nesse momento, Vânia já estava recebendo sua pensão e agradecida, quis pagar a Valter, pelos meses de ajuda contínua... Logicamente ele não quis receber, eram compadres, isso era como uma grande família, os laços de amizade eram assim naquela época...

Mas Vânia estava apenas no começo do fim:
Nadir piorava a olhos vistos... As despesas aumentavam, contas, medicação, alimentação...
Vânia tinha se queixado ao seu filho mais velho, Sérgio. Pois não incomodaria seu compadre Valter, mais uma vez.
Aliás, achava uma abuso que seu filho nunca lhe oferecera ajuda, sabendo tudo que passava!
Sérgio tinha planos diferentes: Queria vender a casa enorme de sua mãe, (seria o procurador) alegando que seria melhor para ela e Nadir,  uma casa menor para morar, menos trabalho para cuidar, etc...
Vânia aceitou a proposta do filho; assinou a procuração lhe dando plenos poderes para cuidar disso.
Mas aí veio mais um choque em sua vida:
Sérgio deu-lhe apenas uma pequena parte da venda e ficou com praticamente todo o resto.
Fiona que nessa época estava morando numa casa que pertencia a seu pai, já havia dito que iria se mudar. Vânia lembrou-se disso e ligou para seu compadre Valter:
_ Compadre, Fiona vai mudar de bairro, não vai?
_ Sim Vânia. Por quê?
_ Gostaria de alugar sua casa, se não tiver problema. Quando ela sair, logo em seguida eu entro, o que acha?
_ Por mim tudo bem, comadre. Mas e sua casa?
_ Vendi. Depois lhe conto tudo...
_ Está bem. Na semana que vem, pode vir buscar as chaves, porque Fiona muda no sábado.
_ Obrigada, compadre. Mande lembranças para a comadre Maria. Até logo.
_  Até logo, Vânia.

Depois disso, foi só uma coisa atrás da outra: Nadir faleceu.
Vânia ficou só e seu filho não mais a visitava, talvez fosse remorso, sem coragem de encarar a mãe...
Sua outra filha Marina, morando distante, também não vinha... A depressão tomou conta de seu ser.
Em certa tarde, Vânia pegou um ônibus para ir pagar umas contas no banco.
Teve um mal súbito e caiu. Os passageiros a ampararam e a levaram para o pronto socorro mais próximo, mas de nada valeu: Vânia teve um derrame fulminante e faleceu.
Era o fim de uma vida que havia sido muito feliz, até o dia em que seu marido morreu e tudo se modificou...
Agora devem estar juntos e sossegados.

Fátima Abreu


NOTA: FIZ ESSE TEXTO PORQUE ESTAVA COM  SAUDADES DELA...




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