quarta-feira, 22 de maio de 2013

UM CONTO DO IRAJÁ - CAPT 1: A Falsa Noiva

(UM CONTO DA VIDA REAL) 

 CAPT 1: A Falsa Noiva

O ano era 1958. O local, Irajá, subúrbio do Rio de Janeiro.
A família morava em um conjunto habitacional de casas (construídas pelo antigo IAPC).
Migraram de Valença para o Rio, anos antes...

Eliane, uma jovem que tentava aprender na prática, o ofício de auxiliar de enfermagem, trabalhava na clínica de um doutor que era conhecido e amigo de sua família.  As más línguas falavam do relacionamento que eles tinham: Sempre juntos em toda parte, gerando tais fofocas.
Foi nessa mesma época, que ela conheceu o homem que colocou sua vida 'de pernas para o ar': Josué.
Os comentários sobre ela e o doutor, chegaram aos ouvidos de Josué, que lhe perguntou se eram verdadeiros...
Era óbvio que ela disse que nada tinham, além de uma amizade de anos. Isso é um mistério até hoje! As pessoas envolvidas nessa história, estão mortas e nunca se soube ao certo.

Mas Eliane e Josué começaram a sair juntos e se relacionar intimamente. Ela estava apaixonada pelo homem 17 anos mais velho que ela. Nessa época, ele tinha duas atividades: Era barbeiro e protético.
Ambos ofícios, aprendidos na prática, pois estudo, ele só tinha até o terceiro ano primário (coisa comum na primeira metade do século XX).
Eliane tinha apenas um ano a mais que ele de estudo também: Vítima de fratura de crânio quando criança, sem tratamento adequado na época, ficou acamada durante um ano inteiro sem mover muito a cabeça e perdendo assim, as aulas (o que a fez desistir de vez de estudar).

Desse relacionamento, ela então gerou um fruto. Tentou esconder da família o quanto pode sua gravidez, com uma cinta que apertava cada vez mais até o quinto mês, quando teve que falar a verdade...
Antes porém, tentou várias vezes abortar, tomando remédios e chás. A gota d´água, foi quando tomou uma injeção que se dava em éguas... Nem assim ela perdeu o filho que carregava!
A sua única opção era revelar tudo e ver o que a família faria a respeito disso...

A mãe de Eliane, muito rigorosa nos princípios da época em que viviam, quase teve um colapso nervoso!
O pai era diferente: Poderia vir o mundo abaixo que ele não se incomodava, pois já tinha pequeno 'segredinho' para esconder da família, sua amante.
D. Rosa quis falar o mais rápido possível com o tal homem que "deflorou" sua filha e a engravidou. Pois a princípio Eliane não queria revelar quem era a pessoa. Foi indagada se era o doutor que tantas pessoas imaginavam ter algo com ela... Ela nada disse.

Primeiro, foi falar com Josué da confusão armada em casa com a notícia de sua gravidez. Disse que sua mãe e irmã mais velha, queriam saber quem era o pai da criança.
Josué queria que ela dissesse que era o doutor.  Certamente ele daria um jeito de ajudar a família a resolver o problema, até porque, o doutor era casado havia muitos anos... Não seria bom esse tipo de escândalo.

Eliane ficou com medo da reação do doutor, diante de tal coisa: Ele não era o homem que a engravidara.
Mas Josué ficara com 'um pé atrás' sobre as fofocas em torno de Eliane:  Afinal, ela poderia se relacionar com os dois homens, quem saberia?
Por fim, ela levou Josué a casa e apresentou aos pais, mesmo ele relutando em ir.
Havia um motivo: Era também casado ainda, (mesmo vivendo em outra casa separado da esposa) e tinha uma filhinha.
Isso ele revelou depois ou antes? Não sei na verdade, nunca me disseram esse particular.

Sabendo que não poderia casar com Eliane, por já ser casado, ele finalmente disse isso com todas as letras para os seus pais. D. Rosa surtou e levantou até um canivete (que ela sempre levava em seu bolso) para esfolar o rosto de Josué...  Foi impedida pela mão do marido: Talvez fosse pelo fato, dele viver algo parecido, não podendo casar com a amante, por já ser casado com D. Rosa...

A solução foi armar uma farsa para que a filha não ficasse 'falada' pela vizinhança:
Um falso casamento civil  em um cartório bem longe onde nenhum dos vizinhos pudesse ir, dia de semana.
O vestido para o falso casamento, em um tom de azul, foi feito  por Eliane mesmo e se completava com chapéu e luvas,  ao estilo da época. Estava mais do que apertada por duas cintas, quando o colocou.

Aprendera desde seus 9 anos a costurar com sua mãe D. Rosa, para ajudar nos gastos da família, já que seu pai tinha muitas dívidas para serem pagas, ainda em Valença...
O vizinho que era fotógrafo, ofereceu-se para fazer as fotos de graça, como presente de casamento para a família, pois sabia que seus recursos eram poucos. Eles agradeceram e disseram que já havia quem fizesse isso. Era óbvio que se ele insistisse em ir, descobriria a farsa. Ninguém mesmo, daquela vizinhança toda, poderia ir! Afinal, não havia para onde!

Josué foi pegar a família de Eliane, com uma carro de aluguel para fingir que todos estavam indo para o cartório  e de lá, o novo casal iria direto para sua lua de mel em São Paulo (outra mentira). Assim disseram para o vizinhos que foram para a rua felicitar a "noiva" antes da partida para o "matrimônio."

Eliane estava doida para sair dali, acabando logo com toda a farsa, arquitetada por D. Rosa.
No final dera certo.
Depois de Josué e Eliane levarem suas coisas para morar num cômodo com banheiro, em Morro Agudo, a família dela voltou para Irajá,  fingindo tê-los deixado na rodoviária, para a lua de mel na capital paulistana.

Assim, começa uma nova história, que vou contar em outro capítulo...

Fátima Abreu




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