sábado, 24 de setembro de 2011

O HOMEM QUE VIA ALÉM DOS OLHOS IV

A vida de Januário  era sempre cheia de acontecimentos que para muitos eram inexplicáveis, mas para ele 'simplesmente acontecia',  devido aos seus dons paranormais... Ele estava acostumado com isso desde a mais tenra idade, como comer, dormir...

Certa vez, Januário trabalhou por 6 meses em um hotel 5 estrelas, na zona sul do RJ...
Antes, sempre havia trabalhado no aeroporto internacional, mas eu um corte da empresa que estava naquele momento, ele foi um dos escolhidos e teve que sair, mas como sempre foi o que ele fez, tinha lá seus contatos, para que o chamassem assim que abrisse vaga em alguma das agências de viagens...
Enquanto isso, para não faltar o pão de cada dia em casa, ele aceitou o convite de um conhecido seu, que já havia trabalhado com ele, no aeroporto tempos atrás: Esse rapaz, ligou e o convidou para ir até o hotel, porque lá havia uma vaga para segurança, afinal, mesmo com estatura mediana, Januário tinha porte físico! Naquela época, não precisava ainda, de certificado para uma atividade dessas... Hoje tem que ter curso para aprender defesa pessoal...
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Januário foi até o hotel para se candidatar ao emprego ( mesmo achando temporário, porque  sua vontade era de voltar para o aeroporto ), e logo assim que passou pela entrevista, foi aceito. Começando a trabalhar no dia seguinte.
Já estava há dias por lá trabalhando, sem maiores novidades, até que em uma noite ( pegava das 22:00h até 6:00 h da manhã ) ele foi abordado por um homem de cavanhaque e cabelos escuros, bem aparados, em um corredor  de um dos andares que fazia a 'ronda':
_ Boa noite, como está?
_ Bem, obrigado. É hóspede do hotel, senhor?
_ De certa forma, sim... E você como se chama?
_ Meu nome é Januário, sou o mais novo segurança do hotel.
_ Percebi... Aqui já vi muitos.
Continuaram a conversa  andando pelos corredores, até que em certo ponto, ele se despediu de Januário, dizendo  que na noite seguinte voltava para conversar novamente...
Januário achou meio estranho aquilo, mas continuou sua ronda...
 Na noite seguinte, no mesmo corredor e na mesma hora que Januário passava ali para a ronda,  sentiu alguém bater-lhe no ombro:
_ Boa noite, Januário, como está hoje?
_ Ah, olá! Bem, vou indo sem mais novidades.
E a conversa continuou... Eles, andando juntos pelos corredores, desde simples banalidades, até filosofias de vida...
Até que, ao aproximar-se daquele ponto, ele virou-se para Januário e disse:
_ Vou indo, amigo. Daqui eu não passo, até amanhã então...
_ Boa noite para você, então.
Novamente, no mesmo lugar da noite anterior, ele parou a conversa e não seguiu em frente... Algum mistério tinha nisso.
"Com o tempo  descubro..." Pensou.
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Passaram noites e noites  e ele sempre aparecia, no mesmo corredor e na mesma hora.
A amizade entre eles continuava, falavam sobre qualquer assunto e podiam até debater tantos outros...
Até aquele ponto do andar do hotel, e depois ele voltava...
 Januário então perguntou já desconfiado:
_ Amigo, não me leve a mal a pergunta, mas tenho uma desconfiança e preciso saber: Você ainda é 'gente', ou é espírito?
_ Ora, Januário! Pensei que sabia disso desde a primeira vez! Sou espírito. Morri aqui mesmo, nesse andar do hotel, vítima de um assassino terrível, que matou também a minha esposa, na ocasião.
_ E onde ela está? Em outro plano?
_ Sim, ela tinha uma capacidade de perdoar, maior que a minha. Então seguiu em frente com os 'auxiliares' que vieram buscá-la... Eu fiquei não fui com eles, porque fui incapaz de perdoar esse homem, e aguardo ansioso o dia que ele seja condenado pela Justiça dos homens. Só assim vou ter descanso!
E por esse motivo, fico preso aqui nesse andar,  não passo daquele ponto que você já sabe, porque foi ali que ele me matou com os tiros... É como se fosse uma 'parede invisível' que não me deixa passar!
Mas há mais outro espírito, você conhece, que também não saí do hotel...
_ Quem? Não me lembro de ter visto outro por aqui...
_ Ora, o seu 'conhecido', que te indicou o emprego!
_ Não é possivel, ele me ligou e disse que havia uma vaga, eu vim e realmente consegui...
_ Mas era a vaga dele mesmo. Porque morreu aqui também, pelo mesmo assassino.
 Viu quando o homem nos atirou na porta da suíte, estava fazendo a ronda. Tentou pegá-lo, mas levou 3 tiros na cabeça e rosto, e não resistiu. O assassino, conseguiu fugir pelos fundos do hotel e até hoje nada da polícia prender...
_ Então ele também não foi com os auxiliares, como a sua esposa... Pelo mesmo motivo que você, não é?
_ Sim. Ele também quer vê-lo condenado, pegando anos de prisão.
_ Hum, isso explica muita coisa...
Januário só não entendia porque o 'conhecido', não aparecia para conversar, desde que entrou no emprego nunca esbarrou com ele em nenhum andar...
Lendo seus pensamentos, o amigo respondeu:
_ Acho que não aparece Januário, porque está desfigurado pelos tiros na face, talvez se sinta horrível e não quer que você veja, que guarde apenas a memória dele como era antes...
_ Pode ser isso... Me sinto agradecido por ele ter dado um jeito para ficar na vaga, queria poder dizer..
_ Não se preocupe Januário, ele sabe que você é grato...

 Muitas noites de ronda se passaram depois, muitas conversas, até que finalmente Januário foi chamado para voltar para o aeroporto, numa agência de viagens onde uma conhecida, se tornou gerente.
Estranhamente, o primeiro nome que ela teve na cabeça, para montar a sua equipe, foi o dele...

Ele se despediu do 'amigo' que fizera no hotel, e mentalmente agradecia ao outro, que também por sua ajuda, garantira o sustento de Januário e família, durante aqueles 6 meses...
Mas, mesmo tenho se afastado do hotel e saindo da folha de pagamento, durante mais 6 meses, recebia seu salário que era depositado sempre na mesma data em sua conta...
Um mistério que Januário não conseguia entender, mas que foi de grande ajuda, porque a sua esposa tinha ficado grávida novamente...
Assim, Januário tocava a vida, e sempre quando estava em alguma dificuldade, contava com a ajuda dos planos superiores. Era uma forma de mantê-lo bem, até começar o seu verdadeiro carma:  Uma doença de generativa, que durou por 15 anos, até o dia de sua morte.
Agora, ele deve saber toda a verdade desses mistérios, afinal os espíritos conversam, tanto com os vivos, como entre si...

Fátima Abreu

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