sábado, 12 de outubro de 2024

Um Baile, Uma Vida- REPUBLICADO



CONTO

Beatrice aguardava ansiosa  que a notícia chegasse...
Um mensageiro viria lhe dizer se seria convidada para a recepção, na casa do jovem barão.
Da sacada de sua cobertura, no prédio da cidade, mais conhecido, ela olhava os passantes...
A mãe sabia como era importante garantir o futuro da filha, pois seu marido, estava agora completamente falido... Fora sócio de um grande banco, mas agora pelo vício nos jogos e nas patas dos cavalos, perdera tudo.  Os seus amigos até tinham sido bons:
Pois mesmo tendo que se afastar, ainda compraram  a parte das ações que lhe cabia, com um pouquinho mais do que elas valiam, somente para ajudá-lo à pagar seus cobradores (que não era gente para brincadeiras).
Mas, depois de pagá-los, nada mais restava... E para recomeçar tudo, já estava de certa idade, pouco entusiasmo e nenhum capital para empreendimento, o melhor seria garantir para a filha Beatrice, um bom casamento.
Dessa forma, seria menos um problema em sua vida. O jovem barão seria certamente, uma boa pedida!

Depois de resolvido o caso da filha, ele a esposa, iriam morar na fazendinha que tinham no interior.
Ali ficariam até o fim de seus dias, vivendo do gado leiteiro e da colheita das frutas, poderiam também plantar café. Alguns barões enriqueciam dessa forma, naqueles tempos.

Beatrice e sua mãe, viram então quando o mensageiro, fez sinal lá  de baixo, olhando para a cobertura. Chegara a hora de saber quando seria o baile, pois se o mensageiro estava ali, era certamente porque toda a família havia sido convidada para tal.

Ledo engano... Era justamente o contrário! O mensageiro viera dar-lhe o recado que o jovem barão não os convidaria, baseado no fato da falência da família. Eles não seria bem vindos, pela causa dessa falência:
O vício de jogo de seu pai.
Beatrice totalmente desapontada, ficou catatônica por momentos. Sua mãe leu o bilhete que o mensageiro que dera instantes antes:

" É de certa forma constrangedor dizer-lhes, que não estão convidados ao baile em minha casa, pois é conhecida por todos nessa cidade, a falência de sua família, relativa à causas pouco comuns, como sabemos...
Desta forma, perdoe, mas a sociedade obriga-me a não ter sua presença entre nós.
Grato pelo entendimento da situação.
Barão Agenor Martins de Lima "

Como Cinderela, triste por não ir ao baile, Beatrice chorou por todo aquele dia, que lhe pareceu ser uma eternidade. Estava marcada, sabia agora! Nenhum bom partido daquela cidade iria querer-lhe pelo erro que seu pai havia cometido. A mãe, tentou consolá-la mas foi inútil naquele dia. Deixou-a então liberar as lágrimas que lhe pareceu intermináveis...

Já o pai, tomado de ira, por saber agora, que seu nome circulava pela cidade como um jogador viciado, jurou que mostraria para todos aqueles que estavam lhe difamando, que poderia novamente se reerguer! Quem sabe, até seu um grande barão do café?

A família na mesma semana, vendera a cobertura e seu mobiliário todo. Juntaram tudo que possuíam de uso pessoal, em grandes malas de couro reforçado. Pegaram um trem à vapor,  rumo à sua fazendinha, no interior.
Beatrice mudara de comportamento: De moça casadeira e sonhadora, tornara-se fria e calculista.
Sabia que nunca mais seria  a mesma... 
O mundo era cruel, a sociedade mais ainda!
Encontraria alguma forma de subir na vida, ser alguém, ainda que tivesse que ir contra seus ideais de antes. Depois voltaria aquela cidade que desprezara sua família, dando a volta por cima. 
Com certeza que homens como o barão Agenor e outros, cairiam aos seus pés lhe cortejando... 
Ela os faria de capachos, fazendo com que a desejassem, sem nunca poder tocar!

Brincaria com os sentimentos de todos, como forma de vingança. Compraria uma casa maior do que a cobertura que viviam antes, e daria o seu próprio baile. 
Nesse  "grande baile" faria um discurso sobre  a hipocrisia da sociedade. Tudo isso, depois que investigasse a vida de cada um que difamou sua família pela cidade. 
Sabia de antemão, que só poderiam ter sido os 4 sócios de seu pai.
Quem além deles saberia do fracasso? Era óbvio que comentaram com outras pessoas, e o mexerico espalhou-se pelo lugar...

Estava decidida: Cada lágrima chorada no dia que soube que não iria ao baile, seria chorada também por eles!

(continua em...)
https://www.clubedeautores.com.br/book/161389--Um_Baile_Uma_Vida

Fátima Abreu


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