sábado, 12 de outubro de 2024

O Golpe- Parte 2 - REPUBLICADO

 



Bento se deparou com uma notícia certa manhã, quando tomava café: Alguém no trabalho, contou que Berenice se casaria em breve.

Ele ficou meio estupefado. Como ela iria se casar? Nunca mencionara antes algum namorado, se quer noivo!

Por um momento, lembrou que ela não desgrudava do celular... Sim, talvez fosse um namoro virtual!

Bem, os fatos de certo começaram desse jeito. Mas, evoluíram para um namoro no mundo real. Essa seria a melhor explicação...

Certa tarde, quando ele chegava de sua última viagem, ela o chamou para jantar: Pois, precisava lhe falar sobre algo importante.

Ele aceitou o convite, pois, no íntimo estava curioso mesmo.

Depois de comerem em silêncio profundo, ela enfim falou:

- Sabe, o que tenho importante a te dizer, na verdade é um pedido...

- Ah, é? E qual seria esse pedido?

- Bem, eu não conheço ninguém mais próximo a mim, que você no trabalho, então... Quer ser meu padrinho de casamento?

- Seu padrinho, logo eu?

- E por que não poderia ser? Eu alugo seu terno, gravata, camisa... Você compra apenas uns sapatos, que depois vão te servir mesmo...

- Não se trata disso. Eu nunca fui padrinho de ninguém na vida... Nem sei bem o que um padrinho faz no casamento. Aliás eu nunca fui a um! Não sou a pessoa apropriada para isso.

- Ah, não tem mistério! Vai, aceita... Você só vai assinar o papel que te derem para ser a testemunha. E fazer a presença no dia. Nem precisa comprar presente!

- Não sei... Vou pensar no assunto. 

- Pense até amanhã, pois, eu e meu noivo temos que dar os nomes das testemunhas. E no meu caso, seria você. A dele vai ser um amigo de infância.

- E você também não tem um amigo de infância que possa ser o seu padrinho?

- Não, eu morava em outro estado. Aqui não tenho amizades. 

Ele então, pensou como isso lhe era familiar, a mesma história: Os dois eram solitários na metrópole.

Pensou por um momento e respondeu:

- Então está bem, aceito.

- Ótimo! Te agradeço muito.

Brindaram a isso, comeram a sobremesa e despediram-se cada um tomando seu rumo.

Os dias se passaram e enfim ela o chamou para escolher o terno e todo resto, numa loja de roupas para alugar. Ele ficou meio sem jeito dela estar pagando por isso, contudo, ela mesma havia oferecido e ganhava um pouco a mais do que ele, na verdade.

Berenice  também  alugou seu vestido, nada demais, pois seria um desses casamentos coletivos que não exigiam tanta pompa.

Bento a princípio, não entendia porque ela faria um casamento desse tipo. Falta de dinheiro? Achava que não... Ela deveria ter economizado para quando chegasse esse momento... Enfim, não era da sua conta.

E aqui leitor (a) vão dois finais alternativos para essa história, você decide qual ficaria melhor:

1-)

 Chegara a data esperada por Berenice. O casamento propriamente dito, em um parque de diversões, com mais 10 noivas e noivos; e a festa em um salão coletivo, bem ao lado do parque, onde cada casal formado, receberia seus convidados. 

O bolo e todo o buffet incluindo as bebidas, doces e salgados, era também coletivo, pois a comemoração fora dividida entre todos. 

O pai de Berenice  já com problemas de saúde, cabeça fraca, entregou a  mão da filha ao Bento, dizendo:

- Pronto, moço que eu não conhecia, aqui minha filha para que você viva feliz para sempre com ela.

Bento sem entender nada, disse:

- Não, meu senhor. O senhor está me confundindo, eu não sou o noivo, sou o padrinho!

- Não, a Berê disse para mim, que você é o noivo.

Bento olhou interrogativo para  Berenice, e ela enfim respondeu:

- Eu armei para você, Bento... Se fosse um casamento surpresa, num local bem público, no meio de um monte de gente casando também, você poderia aceitar... Nunca tive coragem de te pedir em casamento.

Você parecia gostar de mim, mas, nunca disse nada à respeito. Então, resolvi tomar uma atitude drástica! Era  isso ou nada.

Por instantes aquele homem perdia o chão. Ficou tonto literalmente. Tomou um copo de água que ela pegou rapidamente e aguardou o desfecho...

Ele então, respirou fundo e disse:

- Não posso te deixar nessa situação, ainda mais com o pessoal do trabalho aqui... Tudo bem, a gente se casa.  Mas, temos muito que conversar depois disso.

- Não se preocupe. Na nova casa que aluguei para vivermos juntos, teremos muito tempo para isso e muito mais...

Ele ficou pasmo! Berenice havia arquitetado tudo às escondidas. Ele nunca pensaria em tal coisa! A astúcia de uma mulher supera a da raposa.


2-)

Enfim, chegara o dia do casamento sonhado por Berenice! O noivo que ninguém conhecia, tampouco o pai dela, seria apresentado na cerimônia finalmente! 

Era um rapaz de seus 30 anos, cabelos encaracolados castanhos, assim como a cor de seus olhos. 

Alto e magro. Sorridente. Mas, algo não se encaixava... Não parecia estar apaixonado, mal segurava a mão de Berenice... Em nenhum momento, pareciam trocar olhares de um casal ansioso para estar junto, depois da festa. Seu nome era Enzo Antonelli. Descendente de família italiana que veio de São Paulo para estabelecer negócios no Rio de Janeiro, e que acabaram ficando.

E lá estava no meio daquele povo todo, também o padrinho alinhado: Bento.

Ele nunca havia colocado uma roupa mais formal na vida, afrouxava a gravata, incomodado. O calor daquela tarde de verão era imenso!  

Depois das cerimônias coletivas, os respectivos parentes e convidados de cada casal, foram cumprimentá-los. Quando Bento foi fazer exatamente isso, o noivo de Berenice havia dado uma sumida no meio daquelas pessoas. Ele então, só cumprimentou a moça pelo casamento desejando felicidades.

Ela agradeceu e piscou para ele. Bento não entendeu aquilo. Enfim, cumprimentou também o pai de Berê, sentando-se junto à ele, e ainda tomaram umas cervejas.

Bento passou mais uma meia hora ali, e depois foi embora pensativo...

O que foi aquela piscadela de Berê?

No dia seguinte, logo de manhã, pelas nove horas, bateram à sua porta. Ele estranhou. Nunca tinha visitas. Não falava com ninguém. Vivia num apartamento comercial, que antes fora uma pequena clínica odontológica. Ele adaptara para seu uso residencial.

Foi atender, poderia ser algum engano. Quando abriu a porta, teve uma surpresa:

Era Berenice com um embrulho nas mãos. Mas, como assim? Ela não deveria estar em sua lua de mel?

Ela então, disse:

- Posso entrar?

-Sim, claro...

Berê colocou o embrulho sobre a única mesa que tinha ali, e foi falando:

- Abra, é um presente para você.

- Um presente, e para mim? Mas, foi você quem casou ontem!

- Meros detalhes... Abra logo, Bento!

Ele desembrulhou o pacote e encontrou uma caixa de copos de vidro.

 Berenice acrescentou:

- Agora você tem copos!

Bento ainda sem muito entender o que fazia uma mulher recém casada, na casa dele, disse:

- E seu marido? Você não deveria estar com ele?

- Ah, isso... Sim, para todos eu estou com ele. Mas, a verdade é que nem eu, nem ele, dormimos juntos.

- Como assim? Vocês são um casal em lua de mel...

- Enzo é meu amigo de internet, gay, e precisava casar para que a família tradicionalíssima, não ficasse no pé dele. E eu, aceitei, mas, só isso. Bem, gosto é de você!

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Berê sentou-se sobre as coxas do homem, e fazendo sinal de calado com o dedo indicador, terminou:

- Agora me beija, e me dá a lua de mel que quero...


Fátima Abreu Fatuquinha





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