segunda-feira, 27 de setembro de 2021

LIVRO 29- ROMANCE DE ÉPOCA: Cartas de Verão

Introdução: 



Resumindo o volume 1 para quem não leu, então possa entender esta continuação: 


 Final do século XIX. 


Dulcina uma jovem ainda na casa dos 20 e poucos anos, era viúva do primeiro marido, morava na Corte do Rio de Janeiro. Nessa época ainda estava no Segundo Reinado. No entanto, algum tempo depois, a República chegava... 


Agora morava a região cacaueira da Bahia, depois de uma breve estada em Taubaté, SP, na zona cafeicultora, onde seus pais tinham uma fazenda. Lá conheceu Valentim, professor de música na mesma escola em que lecionava...   

Encontrava-se agora separada do segundo marido, e vivia maritalmente com Gonçalo, primo de Valentim.  

Seu ex esposo morava em outra cidade com a nova família, que formara com uma de suas amantes que ficara grávida. No entanto, a criança morreu.


Alícia era afilhada de Dulcina e filha legalmente de seu marido Valentim com sua primeira esposa (embora a criança fosse de outro, pois Gabrielle teve um caso com um jovem que veio a falecer, deixando-a grávida, e Valentim assumiu a criança). 


Alícia fora criada por Dulcina diante da morte da mãe da criança (Gabrielle), e no casamento precoce com Valentim, descobriu que amava mesmo a menina como filha. 

Quando soube que o segundo marido a traía, ficou com Alícia, e ele seguiu sua vida... 

Ela refez a vida com Gonçalo que sempre a amparou e deu carinho. Assim, ela engravidou, e teve Mariana, dando uma irmãzinha “emprestada” para Alícia. 


 


 


 


 


 



 Capt 1 


 


 Os anos passam e quando se dá conta, a vida mudou... 

Dulcina agora balzaquiana, tinha duas lindas filhas crescidas, pois, Alícia contava agora 16 para 17 anos, e Mariana 12 anos. 


Os tempos não eram favoráveis para o maior produto da fazenda, pois, a colheita havia sofrido dano pela chamada “vassoura de bruxa”, um fungo que ataca os cacaueiros. 

Gonçalo evitava de falar sobre isso com Dulcina, não queria lhe trazer problemas. Afinal, cuidar das mocinhas já era sua preocupação.  

Chegou aos seus ouvidos que o ex marido, Valentim, havia morrido: 

Como era muito conquistador, engraçou-se para o lado da filha de um fazendeiro, que já tinha a fama de bom pistoleiro. 

A mulher com quem teve o filho que morreu, já não vivia mais com ele.  

Não suportando suas escapulidas, para os bordéis de Salvador, ela o deixou de vez. Claro, temia que pudesse até pegar uma doença venérea, coisa que nunca havia pego antes... Então, antes que isso acontecesse, pegou uma mala e foi embora numa manhã de sábado, quando Valentim ainda dormia. 

Com a saída dessa mulher de sua vida, ele se sentiu novamente apto à novas conquistas e a jovem filha do fazendeiro, para quem ele fazia a contabilidade, foi a sua investida. 


Ela, que se chamava Viviane, lhe garantiu que não era virgem, porque ela mesma havia tirado esse “probleminha” do caminho, com uma vela grossa. Espantado com o ato da jovem, mas, aliviado, ele então teve relações sexuais durante três meses com ela, sem ninguém perceber na fazenda.  


Todavia, numa tarde, uma das antigas mucamas que ainda vivia na fazenda, (mesmo depois da Lei Áurea, quando ganhou a liberdade), os viu deitados sem roupa, às margens de um rio. 

Sem pensar muito, e querendo ganhar umas moedas pela informação, foi direto ao patrão e revelou o que acontecia... 

O pai para defender a honra da filha, montou seu cavalo rapidamente e ao chegar ao rio, conseguiu avistá-los vestindo as roupas.  

Ele não chegou a descer do cavalo, dali mesmo atirou na cabeça de Valentim. Sua pontaria era a melhor da região. 

Viviane olhou ao redor para visualizar de onde havia saído aquele tiro, mas, enquanto ela segurava Valentim nos braços, seu pai já galopava de volta. 


A notícia da morte de Valentim, correu as fazendas de cacau, e até mesmo em Salvador, onde era muito conhecido... 

Dulcina tornara-se viúva então, e assim, depois de 13 anos vivendo com Gonçalo, ela enfim, pode casar-se com ele. 

A festa foi maior do que a primeira confraternização, anos antes... 

Suas filhas foram as damas do casamento, e tudo era festa naquele lindo final de semana! 


Dulcina que sempre pareceu ter menos idade, mesmo passando dos 35 anos, parecia ter uns 28, no máximo. Era uma noiva linda.  

Com um buquê natural de margaridas em suas mãos, ela arremessou no final do jantar, para que as mocinhas casadoiras da região, disputassem quem seria a próxima a se casar. 

O buquê não caiu na mão de nenhuma delas, e sim, na mão de Maria do Céu, a ex escrava tão companheira de Dulcina. 

Ela já achava que nunca se juntaria a alguém, pois, era tão balzaquiana quanto Dulcina... 

Mas, diante de ter caído o buquê em suas mãos, ela sorriu, com a esperança renovada. Era uma bonita representante de seu povo.  


As festividades com música e dança continuaram por toda noite...  

Depois de tudo, na tarde do dia seguinte, Gonçalo teve então coragem de dizer à Dulcina a situação dos cacaueiros. E a perda de dinheiro que se daria por conta disso... 

Dulcina, resoluta respondeu: 


- Não se afobe, meu querido Gonçalo. Tudo tem solução nessa vida. Só a morte é que não. 

Daremos um jeito. Poderemos partir para outro empreendimento... Vou estudar algumas ideias, e me atualizar do que anda acontecendo pelo mundo. 

Ouvi falar da implantação de máquinas para tecelagem aqui na Bahia. Que tal mudarmos os rumos? Quem sabe, de produtores de cacau, para algodão na confecção de tecidos? Afinal, em todo lugar precisam de roupas! 


- Minha querida Dulcina, que ideia mais interessante! Então, tome mais conhecimento desta causa, e me traga algo palpável para que analisemos a possibilidade da compra desse tal maquinário. 


- Exatamente, o que pensei. Vou pedir que me tragam jornais da capital para ler a respeito, e fazer contato com quem precisar... Sei que esse tipo de indústria começou em Santa Catarina, depois em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e aqui na Bahia desde 1844. Podemos seguir esse empreendimento também! 


- Ah, Dulcina! Você é a mulher que todo homem gostaria de ter! Linda, culta e visionária! 


 Ela ficou rubra. Os elogios dele eram constantes em sua vida, mas, quando ele dizia essa frase específica, ela se sentia como uma deusa ou imperatriz, algo bem forte... 


Os dias se passaram... O algodão deu lugar aos cacaueiros. Os meses revelavam nova estação. Mas, até tudo estar no ponto de produção têxtil, demoraria ainda.  

Dulcina então, pegou algumas de suas joias, e investiu na compra do algodão colhido em outras fazendas, para dar o pontapé inicial na confecção de tecidos.   

Gonçalo havia comprado as máquinas com uma reserva de dinheiro que mantinha para possíveis crises.  

A antiga senzala, desabitada há muito tempo, havia sido totalmente reformada para abrigar o maquinário da pequena indústria têxtil que ali começava... 

Mariana e Alícia estavam empolgadas com a nova movimentação na fazenda, e se prontificaram a ajudar no que fosse necessário. Evidente que Gonçalo e Dulcina não queriam tal coisa. Afinal, empregados não faltavam na fazenda. 


Todavia, as jovens não se deram por vencidas, e pediram para ajudar pelo menos na ideia dos modelos de vestidos que poderiam produzir, caso depois fossem expandir para a confecção de roupas... 

Dulcina aceitou isso como uma produção futura, se desse certo o negócio da tecelagem. De qualquer forma, demorariam a tomar um segundo passo, pois, mal começavam com o primeiro... 


 


 


 


 Capt 2 


 


 A produção crescia na fazenda, e também algumas culturas da região, foram assimilando a do algodão. 

A Bahia tinha o dom de se reinventar... O povo era alegre e isso facilitava seguir em frente, vencendo obstáculos pelo caminho. Gonçalo, mesmo espanhol, estava ali fazia tanto tempo, que se considerava um bom baiano. 


Dulcina, a carioca cheia de ideias novas, seguia de mãos dadas, ajudando o marido. 

Passaram-se mais três anos e meio, e Alícia, agora contava 20 anos. Pela sociedade em si, estava mais do que na hora de casar. Mas, ela era diferente. 

Fora criada por Dulcina, e tornara-se um espelho de seus ideais. Interessava-se por Geografia, lugares nunca vistos, invenções, Ciência e Literatura.  


E já ouvia rumores que no Rio de Janeiro, torres de energia que utilizariam como fonte a própria atmosfera (éter), seriam instaladas para a produção de energia elétrica! 

Ela ficou entusiasmada com tantas descobertas novas (que lia nos periódicos), que pediu para que os pais pudessem deixá-la ir para a capital do país. 


Dulcina via nos olhos de Alícia, o mesmo brilho que tinha os seus, no passado, quando lia sobre as grandes novidades daquela Feira na Filadélfia, onde D. Pedro II esteve. 

Sendo assim, Dulcina depois de muito pensar, resolveu deixar que Alícia conhecesse o Rio de Janeiro.  

Pensando melhor, ela viajaria com as duas filhas para ser sua “guia turística”.  

Dessa vez, teria também Gonçalo na viagem.  

Ele, finalmente poderia conhecer a sogra; e as meninas, a avó, pois, desviariam um pouco o itinerário, para passar pelo estado de São Paulo.  

O pai de Dulcina já havia falecido fazia dois anos, e ela não pode vê-lo antes de descer túmulo, pois, não havia como chegar a tempo para o sepultamento. 

Dessa forma, seria agora uma chance de rever sua mãe, e quem sabe, até convencê-la a morar com a família que Dulcina construiu? Ela vivia solitária na fazenda, mesmo rodeada de trabalhadores e da criadagem da casa.


A viagem foi planejada nos mínimos detalhes.  

Gonçalo providenciou que a produção continuasse a todo vapor, deixando tudo nas mãos de pessoas de sua confiança. 

Assim, seguia com a família para o sudeste. Seria a primeira viagem de férias em tantos anos... 







Capt 3




A viagem foi cansativa como era de se esperar. Dulcina corria os olhos pela paisagem relembrando quando fez aquele mesmo caminho tantos anos atrás...

Pensava como foi corajosa em refazer o caminho de D. Pedro I, contudo, era tão jovem naquela época! Ah, o ímpeto da juventude! 

Quando deixara o Rio, ainda estava no segundo Reinado, agora era uma República!

Isso fazia com que novos rumos fossem tomados. Novas expectativas!

Talvez aquelas mesmas ruas que passeou tanto, agora estivessem mais modernizadas... Era um palpite, pois com novos governos, vem as iniciativas também de progresso.


O primeiro local que Dulcina visitou depois que voltou ao Rio de Janeiro com as filhas e o marido, foi o chamado "Chapéu do Sol", no Morro do Corcovado.  Ali as pessoas podiam observar toda a Baía de Guanabara e o explendor das matas daquela época, sem as habitações que vieram posteriormente...

Um dia, aquele Coreto seria substituído pelo Cristo Redentor já no século XX.

Contudo, ali estavam extasiados com tanta beleza!

 





                                 Ilustração do Chapéu do Sol e posteriormente , o Cristo Redentor


E nessa emplogação passearam por toda parte. A família estava estabelecida temporariamente, num hotel.  Claro, a intenção era achar uma casa para alugar por temporada. Depois de muitas visitas aos antigos conhecidos de Dulcina e a contatos que eles lhe forneceram de possíveis moradias, finalmente, acharam onde ficar.

Para comemorar essa temporada no Rio, decidiram dar um baile, convidando todos aqueles a que fizeram visitas antes. Seria aos moldes do Rio, bem diferente das festas que aconteciam nas fazendas da Bahia.

Os jovens de boa reputação que poderiam ser futuros pretendentes das moças, também foram convidados. Quem sabe Alícia se interessaria por algum? Já Mariana, poderia ter mais tempo para isso...

Dentro de si, Dulcina sabia que a jovem Alícia, não ficaria confinada na fazenda: Os seus sonhos eram amplos...Isso ela sempre deixou claro. Alçava voos maiores!

Sendo assim, natural que ficasse morando fixamente no Rio de Janeiro, onde tudo acontecia.

O baile aconteceu numa noite de sábado. Tudo era frescor, pois, flores por todo lado, davam contam disso. Havia um piano num canto da sala maior, onde Alícia fora convidada a tocar pelo menos uma melodia para os convidados.

Como esperado, ela tocou divinamente arrancando aplausos de todos que ali estavam. Uma pessoa, em particular, teve vontade de conhecê-la, ou seja, ser apresentado à jovem Alícia: Era Marques (gostava que o chamassem pelo sobrenome). 

Um homem de seus 30 anos, advogado bem conceituado no Rio de Janeiro, tendo estudado anos antes também na Europa. Aproximou-se de Dulcina, pedindo que esta lhe apresentasse à filha mais velha, pois, ficara imensamente entusiasmado com sua beleza e talento ao piano.

Dulcina vendo uma oportunidade, de quem sabe, um futuro enlace entre os dois, não mediu esforços para apresentá-los rapidamente:

- Filha, já teve o prazer de conhecer o advogado Marques? Ele é muito requisitado aqui, segundo eu soube...

Alícia sem mostrar seu desinteresse, o cumprimentou dando a mão coberta com uma luva delicada, de renda branca. Ele fez uma reverência e beijou a mão estendida, como cavalheiro que era.

- Ah, como vai? Sou Alícia.

- Muito bem. Achei-a ótima pianista, há em sua pessoa, muito talento!

Dulcina sorrindo, então deu uma desculpa para deixá-los conversando à sós:

- Jovens devem ter muito o quê conversar... Vou saber como estão nossos convidados.

Saiu antes que Alícia pudesse dizer uma palavra.

E o advogado retomou a conversa, tentando manter Alícia interessada em suas palavras...

Dulcina olha vez por outra em direção ao casal, para tentar descobrir se havia possibilidades naquele diálogo. No entanto, percebeu que Alícia já estava cansada e conhecendo sua filha adotiva, sabia que fazia apenas a gentileza de ouvir aquele homem.

Dia se passaram depois do baile. Dulcina e Gonçalo já pensavam em voltar para a Bahia. Alícia disse que ficaria no Rio. Quanto à Mariana, ela teria que voltar com os pais, contudo, Alícia propôs aos pais que deixassem sua irmã ficar também. Comprometendo-se a cuidar da caçula, como se fosse a própria mãe, Dulcina.

Os pais entreolharam-se achando aquilo tudo muito inesperado! Não era essa a ideia à princípio. Contudo, Alícia sabia levar uma conversa, sendo muito persuasiva quando queria...

Os pais disseram que iriam pensar e no dia seguinte, dariam a resposta.

Todavia, Alícia já sorria vitoriosa e Mariana também.

Gonçalo e Dulcina partiram sozinhos, mas, deixaram algumas joias como dote para as filhas e uma boa quantia em dinheiro para que pudessem comprar uma casa, e ainda sobrar bastante.


Continua no livro...


                                                                   ********


Meu novo romance de época pode ser comprado nesse link da editora do CDA:

https://clubedeautores.com.br/livro/cartas-de-verao



Sinopse

Esse é um livro que pode ser lido independente do vol 1. É um romance de época. Traz um pouco da história do Rio Antigo e seus costumes, locais, etc. Muito sensível, para pessoas que gostam do gênero.

 Cartas de Verão

Vol 2 de "Pelo Sol do Entardecer"
Código do livro: 397833
Categorias
Amor E Romance, Adoção, Literatura Nacional, Ficção e Romance, Família E Relacionamentos