quinta-feira, 21 de julho de 2016

CHÁ DE BONECAS- republicado

Um conto nostálgico

Tínhamos o mundo inteiro em nossas cabeças infantis: éramos meninotas felizes em nosso tempo, sem maiores tecnologias. Não havia computadores, e a tv era o aparelho mais desejado pelas famílias. Primeiramente em branco e preto e depois vieram as coloridas.



CHÁ DE BONECAS

Uma casa que tivesse televisão, significava certo status, a família que tinha, certamente era de classe média emergente...

Com o tempo, meu pai comprou e foi uma festa para mim.
Poderia assistir os desenhos, filmes e os programas voltados para as crianças pequenas como "O Capitão Furacão e Capitão Asa, além é claro, dos seriados da época: Robô Gigante, Perdidos no Espaço, etc...

Assim, sem muitas coisas novas para brincar, apenas a TV e uma vitrolinha portátil (que eu punha discos de vinil com historinhas de contos de fada e canções de roda), fazia então o meu entretenimento.

Seguia a vida da forma simples das crianças brincarem: inventando as próprias brincadeiras...

Minhas únicas coleguinhas eram: Stella Maria e Wilza Carla.
Porque na nossa rua, não haviam muitas meninas e minha mãe também não deixava que eu brincasse fora do portão de casa.
Então ia brincar com elas em sua casa, ou vice versa...
Wilza Carla recebeu esse nome pela artista de outra época, a quem um de seus pais queria homenagear... Mas acho que ela nunca gostou de ser chamada assim...

Todas nós tínhamos um Chá de Bonecas. Sempre havia quem os desse para as meninas:
Se não fosse seus pais, com certeza seria outro parente ou ainda um vizinho convidado para o aniversário da menina.

Eu mesma, em um aniversário, ganhei três de modelos diferentes, mas sempre de plástico. Muito embora, achasse que não combinava em nada com as 'Cozinhas Americanas' com fogões e panelinhas de ferro que também a maioria das meninas tinham como brinquedo...
Bem, eu apenas tinha o fogão com as devidas panelas, mas eles caíram no poço do quintal um dia, e fiquei sem...
Minhas duas amigas queriam então fazer o Chá de Bonecas, para que usássemos nossos joguinhos novos. Mas as bonecas mesmo eram escassas. Custavam caro. Eu tinha apenas 3 e eram meu tesouro!
As irmãs Stella e Wilza, tinham umas duas, a mais do que eu, afinal quando uma ganhava de algum parente, a outra também recebia, porque já nesses tempos, estavam órfãs de pai (morrera afogado na praia devido a uma cãimbra) e a família agora era chefiada pela mãe que recebia uma pequena pensão que mal dava para nada...
A mãe delas, Deuzith, fazia trabalhos extras para completar a renda e contava com a ajuda das filhas e algumas vezes oferecia a minha também:
Era um trabalho feito em casa, empacotando figurinhas e montando os fardos para serem levados para uma distribuidora de álbuns em bancas de jornais.

O Chá fora marcado, mas não queríamos usar mesmo nossas bonecas, porque poderiam estragar de alguma forma, e isso os pais não perdoavam... Tinha coleguinhas na escola, que contavam que as mães não deixavam que elas tirassem as bonecas da caixa que vinham, apenas ficavam enfeitando o quarto em que dormiam! Sempre achei aquilo um absurdo! Mas, ainda bem que minha mãe não se incomodava que eu brincasse com a minhas 3 bonecas...


Tivemos a ideia de ir para a varanda da casa das meninas e pegar uma cartolina para que eu desenhasse e montasse as bonecas. Elas recortariam e finalmente poderíamos brincar com o Chá, mas com bonecas de cartolina. Assim, passamos quase a tarde inteira entre a confecção das bonecas e o tal Chá, que não passou na verdade de refresco em pó diluído em água, daquela jarra gigante que aparecia nos comerciais de televisão, e que recebia nome de suco...
Esse episódio foi bem marcante na minha infância. Nunca esqueci aquela tarde, porque depois nos mudamos do bairro e quase não as via mais, somente uma vez ou outra...


Fátima Abreu

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