quarta-feira, 8 de julho de 2015

A TRANSMISSÃO ( conto surreal ) REEDITADO

A TRANSMISSÃO



CAPT I

 

HENRIQUE TECLAVA POR TODA NOITE, NÃO CONSEGUIA DORMIR ESPERAVA UMA RESPOSTA PARA SOLUCIONAR UM MISTÉRIO QUE SURGIRA EM SUA VIDA, QUASE UM MÊS ATRÁS...


No apartamento de dois quartos que ele divida com Cirilo, seu amigo ( aluguel, além dos gastos com alimentação e contas), estava sua razão de insônia:

A tela do pc e da TV ligados e nenhum sinal de contato...

Cerca de quase um mês, ela havia experimentado talvez a maior sensação de sua vida:

Conversar com o pai já falecido, mas, vivo em outra época e quando ainda era jovem!


 

D. Míriam, a doméstica que cuidava do apartamento, gostava de ser chamada de 'secretária do lar'. 
Os dois rapazes sempre bem humorados brincavam com ela a respeito disso:

_ Olha que a senhora vai acabar virando executiva do lar, vai subir de posto!
Ela ria divertida...

Na segunda feira, depois de um tumultuado fim de semana no apartamento, ela chegou como de costume tocou a campainha e Cirilo veio atender.

_ Bom dia, rapaz!

_ Bom dia, D. Míriam. Entre, hoje tem muita coisa para a senhora fazer por aqui...

_ Minha nossa! O que passou por aqui? Um tsunami como no Japão?
A coisa ficou feia lá, você viu o noticiário?

_ Vi, sim...Mas olha, aqui apenas aconteceu um carteado que começou na sexta e se estendeu até o domingo.

_ Ah, sim... Você, o Rick e mais alguém...

_ E duas colegas de trabalho.

_ Muito bem, vamos ao que interessa: Limpeza e arrumação!

Dizendo isso, já foi se dirigindo para a cozinha... Foi um grito só:

_ Uai! E aqui, o que passou, um terremoto?

_ Não, D. Míriam. É que nossas colegas de trabalho cozinharam aqui no fim de semana, mas deixaram bem claro, que não iriam limpar nada, apenas cozinhar... Como a senhora vinha mesmo hoje, deixamos para que cuidasse de tudo...

_ Rapaz, precisavam ter feito tanta bagunça? Olha só pra isso: Louça empilhada na pia, restos de comida na bancada, copos por toda parte, farelos de sanduíche no chão... Deus do céu, que trabalheira eu vou ter por aqui!

_ Ora, não reclame D. Míriam, por isso que a senhora é a nossa secretária do lar do coração!
O que para senhora é bagunça, pra gente é pura diversão!

Ela já não ouvia o que ele dizia: Estava de posse de balde, sabão, detergente e outros apetrechos para limpeza e iniciava assim, mais um dia de trabalho.




Depois de um rápido café da manhã, Cirilo foi trabalhar e deixou um recado para seu amigo Henrique, com D. Míriam:

_ Por favor, peça ao Rick quando acordar, que abra o arquivo que deixei para ele no pc. 
É importante que ele leve gravado para o trabalho ainda hoje.

_ Tudo bem Cirilo, eu dou o recado.

Cirilo saía antes de Henrique, porque mesmo trabalhando na mesma firma, tinham turnos diferentes: Ele pegava às 8:00h e largava por volta das 14:00h, quando passava o serviço para o amigo.

Se encontravam no refeitório da empresa.
Comiam rapidamente e trocavam os dados.
Cirilo saía dali e resolvia as coisas de rua, como pagar contas, fazer compras para abastecer a casa, etc...
Era um rapaz muito tranquilo, sem grandes ambições. 
O oposto de Henrique, que era muito agitado, ansioso, ganancioso...

Davam-se bem desde os tempos do colegial.

Quando Henrique perguntou se ele queria dividir o apartamento, Cirilo não pensou duas vezes, pois seria bom para economizar dinheiro...


 

D. Míriam deu o recado assim que Rick acordou.

Ele fez um copo de café com leite, com duas torradas abastecidas de requeijão. 
Levou o prato para a mesa do computador e ligou o aparelho.

Abriu o arquivo, tratava-se de uma lista que ele teria de colocar em ordem alfabética e gravar no cd (isso não deu tempo de fazer antes, porque durante o fim de semana, ele se limitou apenas à diversão)...

Realizado o trabalho, abriu então seus e-mails para dar uma espiadinha. 
Depois, lia as notícias via internet, do terremoto no Japão. Tinha um grande amigo lá, e estava preocupado.

De repente, a tela ficou escura e a seguir uma imagem se formou na sua frente:

Era seu pai, jovem ainda como ele. 
Como poderia ser isso, se ele já havia morrido faziam 2 anos e meio?
Ele arriscou perguntar e sem mesmo notar disse:

_ Pai, é você!!!

Do outro lado Milton, ligara sua tv para assistir uma reprise de um jogo do Fla x Flu, quando foi interrompido por uma imagem de um rapaz falando com ele...

Por instantes achou que delirava, talvez fosse alguma coisa que não lhe caiu bem...

Mas o rapaz continuou:

_ Pai, sou eu, o Rick, mas como pode ser isso? Você, vivo e jovem aí na tela?

_ Acho que estou ficando maluco...
Que negócio é esse de pai, e como a imagem de uma tv pode falar comigo?

_ Já sei o que está acontecendo pai:

Estamos em uma transmissão espaço temporal, como nos filmes de ficção científica!
Que dia é hoje aí, pai?

_ Hoje é 13 de março de 1981, e não sou seu pai!

_ É sim, você se chama Milton Esteves. Foi criado pela sua madrinha, quando sua mãe, que era solteira, morreu dois dias depois do parto.

_ Sim! Isso é verdade! Como sabia disso?

_ Porque você me contou isso, pelo menos umas 3 vezes quando eu era pequeno...


O diálogo terminou ali, a transmissão caiu.

Nos instantes seguintes, Milton teve uma tontura e depois desmaiou batendo com a cabeça na mesinha ao seu lado.
Do outro lado, Henrique batia no pc, como se pudesse fazer com que a transmissão continuasse... Nada!

Ficou apenas um gosto de saudade no ar.


 


CAP II

 

O barulho do escritório estava incomodando Milton. O 'tec tec' das máquinas de escrever,
( em 1981 não havia a informatização de hoje ) estava dando dores de cabeça.

Aliás, desde que bateu com a cabeça na mesinha, no dia que falou com Rick, que as dores vinham de vez em quando...

Relembrava:

D. Geisa sua madrinha, o achou desacordado e machucado na região das têmporas. 
Correu ao armário de remédio no banheiro, molhou um chumaço de algodão em tintura de arnica e colocou sobre o ferimento dele.

Depois disso, passou vinagre nos pulsos e perto do nariz, para inalar. 
Ele voltou a si.
Meio atordoado ainda perguntou:

_ Madrinha, o que houve?

_ Não sei meu filho, achei você aqui desacordado...

Mílton olhou repentinamente para tv que estava ligada, o jogo já estava nos últimos minutos do segundo tempo. 
Nada além do jogo! Então deveria ter sido tudo imaginação, deduziu...



Henrique estava ansioso, um mês havia se passado, e nenhuma transmissão. Chegou a ligar várias vezes o pc durante as madrugadas e a tv também: 
Imaginava que qualquer tela, poderia lhe trazer a imagem de um passado onde ele ainda não existia...
 

Cirilo chegou primeiro em casa naquela noite, (como sempre) e cerca de 30 minutos depois, vinha Henrique abrindo a porta. Gritava:

_ Liga a tv, liga!

_ Nossa! O que houve Rick, que aflição é essa?

_ Não pergunta, apenas ligue a tv. Hoje tem um jogo do Fla x Flu.

_ Ah, é por isso?

_ Sim, mas o meu interesse é outro...

Cirilo não entendeu e deu de ombros.
Pegou o controle remoto no sofá e ligou a tv no canal. 
Já estava no início do jogo.

Henrique estava de mãos suadas de nervosismo, e Cirilo notou o seu transtorno. 
Arriscou uma pergunta:

_ Mas o que tem esse jogo de especial? É um clássico como vários outros...

_ Não é o jogo, já disse... É o que vem por aí!


 

A tela da tv ficou escura, uma imagem se formava lentamente...

Sim! Era ele: 
Mílton seu pai, do outro lado.

Cirilo ficou de boca aberta sem entender porque pararam a transmissão do jogo e colocaram aquilo que deveria ser algum filme de época, pelos móveis que ele percebia na sala...

_ Caramba! Não acredito que vão trocar um clássico, por um filme com uma imagem dessas...

Rick não percebia o que o amigo dizia, estava esperando seu pai lhe falar.

_ É meu pai, Cirilo, fica calado um pouco!

_ Mas como cara? Você tá maluco, seu pai morreu... Também fui no enterro, lembra?

_ Olha bem para o rosto dele, está mais jovem, mas mostra os traços do homem que você conheceu como meu pai.

Cirilo chegou bem perto da tv e teve um susto, ao confirmar o que Rick dizia!

Era ele com certeza, anos mais jovem e vivo! 
Como poderia ser tal coisa? A imaginação começou a trabalhar: 
Universo paralelo? 
Distorção do espaço tempo?

Ele lia muito sobre Física Quântica, e tentava explicações para o que acontecia naquele momento.


Mílton ligara a tv para se distrair com a série "AS PANTERAS", que era sucesso desde o fim dos anos 70. 
O corte de cabelo de Farrah Fawcett era copiado pelas mulheres, e muitas aprenderam defesa pessoal estimuladas pelo seriado.

Sem esperar, tudo recomeçou:

A tela escureceu e já se formava novamente a imagem de Rick, à sua frente. 
Mas, agora ele via que tinha mais alguém do lado...

Talvez fosse um amigo, parente...

Foi interrompido em seus pensamentos pela voz que veio a seguir:

_ Pai, estamos de novo juntos! Ansiava por conseguir isso novamente...

_ Você... Não sei o que dizer, pensei que minha mente havia imaginado tudo isso!

_ Olha pai, a transmissão pode cair a qualquer momento, então eu quero te dizer que pode ficar rico, se eu te der os resultados da loteria esportiva dessa época. Assim, eu também já vou nascer rico aqui!

_ Como faria isso?

_ Pai, aqui é 2011! A tecnologia desenvolveu muito: Temos uma ferramenta chamada de INTERNET, que nos leva a pesquisar qualquer coisa nos computadores.

_ Nossa! E eu aqui, com o barulho dessas máquinas de escrever do escritório!

_ Pai, vou pesquisar os resultados dessa semana que está em 1981, e repassarei...

_ Mas como vamos nos comunicar novamente? Isso está sendo sem esperar...

_ Pai, eu ainda não sei, mas vou dar um jeito com a ajuda do meu amigo aqui, o Cirilo. Ele estuda bases da Física Quântica, vamos nos apoiar em alguma coisa.

A tela escureceu...
Não deu tempo de dizer ao pai, quem seria sua mãe.

CAPT III

 

Milton decidiu arriscar os 'palpites' da loteria esportiva que seu filho do futuro lhe passara...
Foi até a casa lotérica e fez a aposta.
Quando saía, percebeu que um mau elemento o encarava, tratou de apressar o passo.
Atravessou a rua e se dirigiu à um orelhão, ligaria para casa, queria saber como a madrinha estava, andava acamada com problemas de infecção urinária. 
Não chegou a completar a ligação:

O indivíduo que o acertou, foi embora tão rápido quanto chegara ali.
Uma pequena poça de sangue se formava na calçada. Alguém na rua, passou e chamou uma ambulância...

E durante 15 dias, ficou em coma num hospital.

A aposta, foi na carteira...
Quem seria rico? O ladrão!

 


Dias antes, Cirilo e Rick acharam uma maneira de passar os resultados dos 13 jogos para ele, independente se haveria jogo do Fla x Flu, lá no passado ou cá...
 

Cirilo leu muito sobre imantação da nossa essência, sobre objetos, móveis, etc...
Pensou então em pegar um objeto que tenha ficado por muito tempo com Mílton, imantado pela energia dele, servindo de "ponte" para a transmissão.

Perguntou à Henrique se ele tinha um objeto do pai, de uso contínuo, como um relógio de pulso...

Rick assentiu.

Sua mãe havia deixado com ele várias coisas do pai, por ser filho único. 
Seria como se fosse uma herança, já que bens de valor ele nunca teve: 
Até a casa que ela ainda morava não era deles, sempre foi alugada.


 

Rick foi até seu quarto, abriu a gaveta da escrivaninha que também tinha sido de seu pai, e pegou o antigo relógio. 
Nunca havia dado corda no relógio do pai, e estava marcando a hora da morte dele, curiosamente...

Levou o relógio para a sala, perguntando ao amigo:

_ O que faço agora, Cirilo?

_ Esfregue o relógio e mentalize seu pai, eu ligo a tv enquanto faz isso...


Dessa vez a tela não ficou escura primeiro, e sim azul!
Puderam observar a imagem de Mílton se formando no passado...

Sem demora, (porque os minutos passariam rápido) ele foi logo falando para o pai anotar os resultados dos jogos.

Mílton achava que sua mente estava criando coisas, mas mesmo assim anotou.

PELO SIM PELO NÃO, NAQUELA MANHÃ ELE FOI O PRIMEIRO A CHEGAR NA CASA LOTÉRICA, ANTES MESMO DELA ABRIR.

Quando o funcionário abriu a loja, ele foi se posicionando para ser o primeiro apostador, porque logo a loteria estaria cheia.

Infelizmente, a aposta se foi com a carteira.
Mais uma vez sua cabeça estava machucada...


Dias sem notícias do pai, Rick estava mais nervoso do que nunca! O que teria acontecido no passado, o que não dera certo? Usou do artifício que Cirilo sugeriu antes: 
Pegando novamente o relógio, mentalizou o pai, e ligou o pc dessa vez...

O monitor ficou vermelho, ele estranhou, mas aguardava ver a imagem do pai, nada aconteceu...

Ele estava de coma no hospital não teria como realizar o contato. Em lugar disso, pode ver a sala da casa que seu pai morava, e a madrinha dele passando...

Então, reparou numa coisa que nunca havia notado nas fotos antigas:

Geisa, a madrinha que criou seu pai, se parecia muito mesmo com a sua mãe, estranhou tal semelhança...


 

DESLIGOU O PC, NÃO ADIANTARIA CHAMÁ-LA: PODERIA DESMAIAR COM O SUSTO, ISSO ELE NÃO QUERIA.
 
Mais uma semana se passou até que finalmente eles reativaram contato... Mílton já estava em casa. Tinha saído do coma sem sequelas aparentes.

Geisa era ‘toda cuidados’ para seu afilhado, cuidava dele como se fosse dela. 
Era muito amiga da mãe dele ( Clara Mia ): 
Quando ela mais precisou de amparo, Geisa a colocou dentro de casa, cuidou dela quando seus pais a expulsaram no momento que souberam da gravidez.

O rapaz, pai da criança que ela esperava, havia sumido sem deixar rastro...

Entretanto, as complicações depois do parto fizeram com que Clara Mia viesse a falecer dois dias depois.

Geisa adotou o afilhado, deu-lhe nome e sobrenome, ele viria a substituir alguém; porque isso um dia lhe foi negado...


 

Henrique foi logo perguntando apressado:

_ Pai, o que houve? Tentei contato e nada!

_ Olha, estive internado no hospital aqui perto. Sofri um assalto e me deram uma pancada forte na cabeça que me deixou em coma por 15 dias.

_ Minha nossa! Essa daí eu nunca soube...Estranho nunca ter mencionado esse assalto, quando contava sua vida para mim...

_ É fácil saber: Porque se você não tivesse me dado os resultados, eu nunca teria ido até a loteria e nada disso aconteceria.

_ É isso mesmo... Se tivesse morrido, eu nem chegaria a nascer!

_ Pois então, esqueça isso de enricar, pode valer a sua vida aí...

_ Certo, certo... Aprendi com isso, que não dá para mudar o que é destinado para cada um.

_ Bom! Tudo nessa vida é lição.

_ Pai, mas uma coisa eu sei que não posso deixar de te dizer:
O nome da minha mãe é...

A transmissão cessou.



CAPT IV

 

Mesmo tendo se restabelecido, Mílton ainda sentia tonteiras frequentes. 
A pedido de sua madrinha foi ter com um médico especialista. 
O médico passou vários exames e o resultado foi preocupante:

Mílton tinha dois aneurismas!

Ele nada disse à Geisa, não queria preocupá-la, ela já tinha os próprios problemas de saúde...

Dias depois, ela veio com a pergunta:

_ Filho, e os resultados dos exames, você ainda não foi buscar?

_ Madrinha, eles vão direto para o médico que fez o pedido. Depois eu marco nova consulta e fico sabendo.

_ Faça isso logo Mílton. Estou preocupada, quero saber de tudo...

_ Sim madrinha, pode deixar.

Ele não tinha a menor intenção de fazer isso.

FINGIU QUE TINHA IDO AO MÉDICO, E QUE ESTAVA TUDO BEM.


 

Não havia muito tempo para acontecer, Henrique teria de falar com o pai sobre a explosão que iria atingir a casa onde ele morava com Geisa.

Nas notícias de 1981, naquela data, houve o acidente no bairro de Vista Alegre, e Rick leu tudo pela Internet:

"UM PRÉDIO E DUAS CASAS, SITUADOS EM VISTA ALEGRE, FORAM DESTRUÍDOS ÀS 9:30H QUANDO O REFERIDO PRÉDIO EXPLODIU ( POR RECIPIENTES COM GÁS ESCAPANDO ), DEIXANDO SEUS DESTROÇOS CAÍREM PESADAMENTE NAS CASAS VIZINHAS."

Não deu tempo. Enquanto ele pensava, em 1981 a explosão acontecia...


Mílton tinha ido na cozinha preparar o café da manhã para surpreender a madrinha, que estava nesse dia muito abatida e não conseguiu levantar cedo para fazer, resolvera ficar mais um pouco na cama até se sentir melhor...

Quando ele viu o teto desabar, atingindo em cheio a sala e os quartos, correu para procurar a madrinha nos destroços.

Ela estava visivelmente machucada, e havia concreto e vergalhões atrapalhando sua retirada dali.

Mílton foi para a rua, onde já havia tumulto. 
Pediu para que chamassem os bombeiros. 
Os vizinhos se apressaram em cuidar disso.
Quando os bombeiros chegaram, foi preciso cerca de 40 minutos para conseguir tirar Geisa dos escombros. 

Ela foi levada ao hospital mais próximo, (o mesmo que Mílton ficara internado semanas antes) e ele aguardou no corredor que já estava tomado de gente.

Queriam saber notícias de parentes que estavam feridos, tanto do prédio, como das casas e também dos que passavam pela rua, no momento do acidente. 
Foram 12 feridos no total, sendo 5 fatais.
Geisa estava entre eles.

A enfermeira veio informar:

_ Quem aqui é parente de Geisa Esteves?

_ Eu! Sou

_ Sinto te informar, Mílton, mas ela acaba de falecer, não resistiu aos ferimentos da cabeça e costelas, ainda teve uma hemorragia interna e duas paradas respiratórias. Os médicos enviaram aqui o laudo, para que os parentes possam agir com os trâmites do enterro...

_ O problema é que não sei como começar a cuidar disso. Você entende alguma coisa a respeito do que eu tenho que fazer a partir desse laudo?

_ Olha, Mílton, daqui a pouco eu saio do meu plantão; se quiser esperar, eu posso ir com você. Ajudarei a expedir os documentos para o enterro, resolver a capela, liberação do corpo, flores, essas coisas...

_ Nossa! Faria isso mesmo, me ajudaria? Você acaba de me conhecer!

_ Não sei, alguma coisa na sua mãe tocou meu coração... Talvez porque ela me parecia tão familiar, quando a vi entrar, levada na maca...

_ Então está certo, te espero aqui mesmo.


 

Ela ainda falou com os outros que aguardavam ali no corredor, dando as notícias para cada família.

Depois de meia hora ela já estava liberada do plantão e cuidou de tudo com ele.
Após desse dia terrível para Mílton (que se viu sem família nenhuma), a presença de Taís na sua vida foi frequente...

Com passeios amistosos no início. Entretanto, a atração era mútua e se davam muito bem. Era já impossível deixarem de se encontrar... 
Namoraram um tempo até que ele fez o pedido:

_ Taís, quer casar comigo?

Ela não pestanejou:

_ Quero!!!

A data foi marcada, seria em 15 de janeiro de 1982.


Apesar de amar Mílton, um segredo do passado ela não quis revelar:
Ela viveu a infância toda em um orfanato. 
Seus avós maternos a deixaram ali desde que tinha nascido. 
Nunca soube direito como foi...


 

A mãe de Taís, uma mocinha muito bonita tinha 15 anos na época que ficou grávida, e tentou esconder de seus pais (que eram ricos) até o quinto mês de gestação. 
Com a barriga já aparecendo, não deu para esconder mais. 
Eles quiseram saber onde estava o pai da criança.

Ela disse com voz trêmula:

_ Foi embora daqui, assim que soube.

Eles não pensaram duas vezes: 
Levaram-na para a fazenda da família, e lá ficou durante os 4 meses restantes, até o dia do parto. 
Para a sociedade local, ela estava passando um tempo na Europa.


 

Taís tinha muita vergonha de ter sido rejeitada pela sua família, abandonada em um orfanato...
Esse segredo ela não diria a Mílton, porque doía muito...


 

Mílton também manteve segredo sobre as circunstâncias do seu nascimento. 
Não revelando a Taís, que foi adotado por Geisa. 
Apresentara-se como filho dela, afinal carregava seu sobrenome. 
Além disso, ela foi mesmo a única mãe que havia conhecido na vida!



CAPT V

 

Desde que a casa fora destruída pela explosão do prédio ao lado, Mílton passou a morar numa pensão. 
Mas com o tempo, Taís o chamou para morar em sua casa. 
Afinal, já iriam casar mesmo...
Então ele levou todas as suas coisas para lá.

 


Em 2011, Henrique não sabia o que tinha acontecido ao certo, pois se estava vivo, era porque seu pai no passado, ainda estava também!

Sentiu uma sensação de alivio, ao lembrar disso.
Mas, queria entrar em contato com ele, mesmo que fosse apenas mais uma vez. 

Pediu a ajuda de Cirilo, que sugeriu o seguinte:

_ Rick, você tem aqui uma escrivaninha que pertenceu ao seu pai. Faça uma carta, deixe dentro de uma das gavetas e ele poderá encontrá-la cedo ou tarde, pela conexão: 

A escrivaninha está aqui e no passado também!

_ Como não pensei nisso? Você é um gênio, Cirilo!


_ Nem tanto, apenas me esforço para entender a metafísica da vida, do tempo, blá, blá, blá...




Rick deixou que ele falasse, mas já estava de posse de caneta e papel. 

Faria a carta de próprio punho.
Nada de computador, queria que seu pai ficasse com a lembrança da letra dele.

" Rio de Janeiro, hoje, 29 de dezembro de 2011 "
Pai:
 

Queria te rever porém, não consigo mais; as transmissões de sua tv cessaram.
Meu amigo Cirilo, sugeriu essa carta que agora lhe faço com saudade...
A essas alturas, Geisa já está morta, correto?
E pelas minhas contas, já deve ter conhecido minha mãe, Taís.
Vocês vão casar em janeiro. Eu sei, é o que a certidão aqui diz... 
Vi o álbum de família várias vezes também.
 
Olha pai, entre as fotos achei várias de Geisa, quando era bem jovem, acho até que era adolescente ainda, estava grávida! 

Mas se você nunca conheceu a criança, onde estará? A foto foi tirada numa fazenda, em algum interior desses...
 
Repare pai, na semelhança entre D. Geisa e minha mãe, Taís...
Percebeu isso? Envio a foto que me referi, para que faça a comparação dentro desse mesmo envelope. 


Investigue pai, pode ser que haja algum segredo.
Deixo aqui meu abraço apertado de filho, cuide bem da minha mãe, e não esqueça de me contar tudo isso de novo, quando eu já estiver com meus 4 para 5 anos.
 

A propósito: Vou nascer em 24 de abril de 1985.
Se um dia ler mesmo essa carta, fique na certeza de que nunca o esqueci.  
Do seu filho: 
Henrique S. Esteves
 

 

FINAL

 

Curiosamente, a carta desapareceu depois de 2 horas que Rick havia colocado na gaveta da escrivaninha...
FICOU SATISFEITO AO CONSTATAR ISSO, PORQUE CERTAMENTE CHEGARA AO SEU DESTINO: O PASSADO!


 

D. Miriam estava limpando o apartamento como de costume, quando o celular de Rick tocou, ela ficou na dúvida se atendia, resolveu entregar diretamente a ele. 
Entrou apressada pelo quarto adentro e disse:

_ Toma, Rick que esse celular não para de tocar, já está dando nos meus nervos! 


Ele pegou.
Era sua mãe, Taís.


_ Alô, mãe? O que foi, você quase não liga para o meu celular.


_ Meu filho, é urgente... Estou passando muito mal, venha logo para me levar para uma clínica...


_ Já estou chegando, aguenta aí, mãe!


Ele saiu do jeito que estava vestido: Apenas de camiseta, short e chinelos.
Pegou o carro e enquanto dirigia, outra coisa acontecia...


Em dezembro de 1981, Taís abria a porta do quarto para limpar o recinto. 

Passou a mão pela escrivaninha, viu a quantidade de pó. 
Foi então buscar uma flanela e óleo de peroba para limpar.

Abriu as gavetas para passar internamente também, foi quando encontrou a carta escrita por Henrique.
 

Ela começou a ler pela curiosidade, quando enfim entendeu o teor de tudo, olhou a foto e percebeu que tudo se encaixava! 
Concluiu sem pensar muito, que era irmã mais velha de Mílton! 
Ela sabia que ele era mais novo que ela 5 anos...
 

Aos poucos foi tomada de intensa dor no peito.
A cabeça latejou e de um minuto para o outro, tudo escureceu...
 

 Em 2011, Rick desaparecia.


Cirilo chegou em casa e procurando D. Míriam, perguntou:


_ E aí, minha 'secretária do lar', tá tudo certinho por aqui?


_ Tá, Cirilo. Olha meu rapaz, tá na hora de você começar a dividir esse apartamento com alguém. Aquele quarto vazio, me dá nos nervos...


Nada que um dia pertenceu à família Esteves, existia mais.
Nem a lembrança.

FIM
                                                 FÁTIMA ABREU

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