segunda-feira, 27 de abril de 2020

Livro 28: Pelo Sol do Entardecer

Pelo Sol do Entardecer




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A ex escrava balançava o bebê num cesto feito de cordas, forrado com muitas cobertas de linho, para tornar afofado o local onde a criança dormia.
O calor daquele verão estava maior do que os anos anteriores, no estado da Bahia.
Ela voltou os olhos para Marina que já dormia.
“Era um anjo no corpo de uma menina.” Pensava, enquanto embalava a filha da dona da casa...
O parto da senhora tinha sido difícil, quase morreu naquele momento. A boa mulher que agora estava com o bebê, foi a sua parteira, e era meses antes, ainda escrava...
A sua liberdade foi justamente conseguida, devido ao chamado "milagre" de ter salvo mãe e filha.
A mãe da criancinha, estava ainda na casa dos vinte e poucos anos, era muito bonita e educada.
Não tinha o buço característico das portuguesas, pois, não herdara isso de sua mãe, tampouco os cabelos negros do restante de sua família materna.
Sobre seus ombros caíam cachos muito bem arrumados, de um ruivo intenso.
Sim, ela era a única que herdara geneticamente, os cabelos de sua avó paterna, a francesa, Marguerite.
Dulcina não tinha título de nobreza, mas, vinha de uma família rica, que preferiu deixar Portugal naqueles tempos difíceis, para tentar a vida em novas terras. O Brasil era o foco agora.
Seus pais deram à mocinha, uma educação voltada para as Artes, embora ela preferisse estar atenta aos inventos que apareciam no mundo naqueles tempos.
Tempos depois, já casada com seu primeiro esposo, foi levada à uma reunião, onde conheceu o próprio D. Pedro II! Dessa maneira, soube das novas invenções que ele trazia para o país.
Como o telefone, por exemplo. Foi na chamada Exposição Mundial (ou Universal) dos EUA, onde esteve presente, que conheceu e experimentou, o aparelho de Graham Bell.

* Nota: Um erudito, o imperador estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, da cultura e das ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
Dulcina se encantou com as histórias que o imperador contava naquela noite, dos muitos países que visitara:
Pedro II chegou à Nova Iorque em 15 de abril de 1876, e de lá viajou pelo interior do país; indo até São Francisco no Oeste, Nova Orleans no Sul, Washington, D.C, no Noroeste, e Toronto, no Canadá.
Sua viagem foi um "triunfo completo", tendo Pedro II causado uma profunda impressão no povo americano por sua simplicidade e gentileza.
Depois atravessou o Atlântico, onde visitou a Dinamarca, Suécia, Finlândia, Rússia, o Império Otomano e a Grécia.
Em sequência foi para a Terra Santa, Egito, Itália, Áustria, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Países Baixos, Suíça e Portugal.
Ele voltou ao Brasil em 22 de setembro de 1877.
Em sua estadia nos Estados Unidos, Pedro II visitou o presidente Ulysses S. Grant; nesse mesmo período, na Filadélfia, Pensilvânia, visitou a primeira Exposição Mundial dos EUA. *
Foi quando descobriu muitas invenções que despertaram sua curiosidade. E o telefone passaria despercebido para muitos, se não fosse o interesse do respeitado imperador brasileiro, pelo objeto.
O Brasil foi um dos primeiros países a fazer uso de telefone, graças ao interesse do imperador pela invenção. Seu espanto quando usou a primeira vez, foi mostrado na frase que proferiu:
"Meu Deus, isto fala!"
Certo era, que o monarca tinha muito interesse nos assuntos envolvendo Ciência, e também desenvolvimento arquitetônico, social, literatura e Artes.
Dulcina desejava ardentemente que seu marido continuasse a amizade com o amigo em comum ao imperador (que os levou até ali), para outras vezes poder visitá-lo, nessas reuniões.
Mas, o esposo Maurício Noberto Montes, veio à falecer de doença tropical, em uma de suas viagens ao norte do país, para seu negócios, onde contraiu malária.
Dessa forma, Dulcina enviuvara cedo, aos 20 anos. Visto que se casara aos 18, teve a vida de burguesa em ascensão, por apenas dois anos.
Os pais tinham se mudado do Rio de Janeiro para o interior de São Paulo, logo depois de casar sua única filha.
Dulcina que não queria ficar sozinha, pensava em voltar ao lar paterno, mudando-se para outro estado, onde nunca imaginaria viver antes! E deixaria finalmente a Corte do Rio de Janeiro, que considerava o passaporte para uma vida de conhecimento e cultura...
Os pais de Dulcina ainda eram jovens: O pai tinha 42 anos, e a mãe 40. Aventuraram-se na compra de uma fazenda de café no interior do estado de São Paulo (pois, era o ouro daquela época), logo depois de casarem a filha.
Dulcina escreveu-lhes uma carta compartilhando a morte repentina e precoce de seu esposo.
Uma carta nessa época, levaria no mínimo um mês para chegar ao destinatário.
Contudo, ela aguardaria a resposta de seus pais (já considerando positiva), para voltar a morar com eles.
Nos dias de espera por correspondência, ela se dedicaria aos estudos filosóficos e científicos, ideias que chegavam ao Brasil, bem avançadas:
Energia limpa, vinda da Tartária. Calçadas rolantes usando energia vinda da atmosfera... E muitas outras novidades, que eram consideradas inimagináveis para esse período da História!
A maioria da arquitetura do Rio de Janeiro, como de várias metrópoles do mundo, também era baseada na da Grande Tartária.


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