sábado, 28 de junho de 2014

Manuela Divide Opiniões



Manuela agora morena, atraía a curiosidade dos fregueses da lanchonete. Aumentou em uma semana de trabalho, a renda do estabelecimento. 
O gerente estava satisfeito e até agradecido ao Dr Alejandro, por tê-la indicado.
Todos queriam dar uma espiadinha na morena forasteira, que viera se estabelecer na localidade...
Sem falar no "disse me disse", que ela criara em torno de si:


Contra as chamadas "normas" da sociedade da época, uma mulher que vivia no mesmo teto que o doutor da cidade, sem estar casada com ele, era admirável e ao mesmo tempo ousada...
As más línguas falavam que eles eram amantes.
Mas, até então, realmente nunca foram...
Ela gostava de provocar a atenção feminina, pois sabia que falavam dela. 
Então ela criou um jeito de nutrir os boatos:  Quando algumas senhoras das mais puritanas, entravam na lanchonete, Manuela desabotoava alguns botões do uniforme que usava, para escandalizar e para rir-se delas depois...

Entretanto, se estivessem homens no local, não fazia isso. Dava-se ao respeito. 
Em uma semana de trabalho, recebeu várias investidas masculinas, e ela simplesmente ignorava, fingindo não perceber.
 Joe De Mers Artist


As opiniões estavam divididas a seu respeito:
As mulheres achavam que Manuela era uma libertina, enquanto os homens a achavam uma mulher de fibra e que não cedia às cantadas, ou seja: Difícil.

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Manuela sempre que chegava na fazenda no fim da tarde, corria para fazer o jantar e deixar tudo bem cuidado. Alejandro sentava-se com ela nesse momento, ouvindo suas histórias e ria-se. 
Imaginava as expressões que as ditas senhoras, fariam ao olhar para o decote aberto de Manuela...

Foi na outra semana, que finalmente Manuela conheceu a senhora que cuidava da roupa de Alejandro: 
D. Eulália.


July 1940. Farm woman washing clothes with her wringer washer. Uma senhora grisalha, que já estava nos fundos da casa lavando a roupa e passando nos rodízios para espremer. A segunda etapa seria estender no varal, e cerca de 40 minutos de sol quente, retiraria tudo e levaria para a área de serviço, para começar a passar... Era sua rotina de todas as sextas feiras.
Manuela aproximou-se e a cumprimentou:

- Olá, bom dia! A senhora certamente é a D. Eulália. Sou Manuela.
- Ah, bom dia. Sim, eu sei quem  a senhora é. A cidade é pequena, todos estão falando sobre a 'forasteira"...
- Sei disso. Tudo é novidade quando numa cidadezinha chega alguém de outras paragens... D. Eulália, vou sair para trabalhar agora. Estou deixando tudo na mesa da cozinha para que faça uma refeição, enquanto espera a roupa secar para depois passar...
- Muito agradecida, mas já venho para cá alimentada. Na minha idade, não se pode sair sem comer, pois dá fraqueza...
- Ah, sim. Bem, de qualquer forma, está tudo lá, caso queira simplesmente tomar um cafezinho  e comer uma fatia de bolo...
- Obrigada, não se preocupe comigo.

Manuela saiu dando um aceno.  Teve certeza que ela não era mesmo uma pessoa para muitas conversas, mas, algo lhe dizia que era extremamente confiável e sincera. 
Como Alejandro dissera mesmo?
"É uma senhora rabugenta, mas no fundo, boa pessoa..."

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Oito meses se passaram... 
Um dia, quando Manuela voltou  para casa no finzinho da tarde, teve uma surpresa ao encontrar Alejandro em companhia de uma mulher bonita aos beijos e amassos na sala.
Passou sem ser notada pelos dois, subindo as escadas para seu quarto.

Forbidden Fruit...Illustration by Lynn Buckham 
Não queria incomodá-los, mas, precisava fazer o jantar. 
Tomou banho, trocou de roupa e desceu novamente, passando diretamente para a cozinha.
Alejandro ao escutar o movimento de panelas e pratos, percebeu então que ela já estava em casa.
Pegou a mão da mulher com quem estava, e a levou para a cozinha para que fizesse as apresentações.
Foi uma noite de provocações...

- Manuela, quero que conheça Esmeralda Santiago, minha namorada.
- Olá, Esmeralda! Boa surpresa tê-la para o jantar. Espero que goste do que estou preparando.
- Se você  trata bem o 'meu' Alejandro, tudo que fizer, eu vou gostar com certeza.
- Ele é um bom amigo. Trato-o muito bem, não é mesmo Alejandro?
Ele percebeu que ela não queria ser tratada como uma "hóspede que cozinha" perante Esmeralda, então afirmou:
- Sim, nos damos muito bem, você é uma amiga para todas as horas.

Esmeralda  meio incomodada com os olhares de cumplicidade que havia entre eles, disse então:

- E seu marido, morreu há muito tempo? É muito bonita, não tem um namorado?
- Prefiro não falar dele. Quanto à sua pergunta: Não tenho namorado algum. Nessa cidade não há homens que me atraiam... Vamos jantar agora?

" Menos mal, assim não terá nada com Alejandro",  pensou Esmeralda.

Manuela foi ajudada por Alejandro, a colocar a mesa. 
Esmeralda novamente ficou chateada com a situação.
Durante o jantar, ela tentou arrancar qualquer coisa que dissesse respeito ao passado de Manuela, porém foi inútil. Percebeu que ela não falaria mesmo de sua vida anterior à chegada na cidadezinha.

Entretanto, Manuela sentiu-se vitoriosa naquela noite, porque claramente Alejandro a colocou na posição de amiga, e nunca de uma hóspede.
Sentiu-se grata por isso.

Agora, uma coisa teria que saber pois muito lhe interessava: 
Alejandro teria planos de casar com Esmeralda?
Caso isso estivesse em sua mente, Manuela teria que se afastar dali: Ir para um pensionato, ou alugar um quarto com banheiro talvez...

Sondaria sobre isso no dia seguinte. 
Alejandro depois do jantar, sugeriu que Manuela escolhesse uns discos para que escutassem . 
Ela rapidamente sentou perto da vitrola e se pôs a selecionar algo que fosse agradável. 
De vez em quando, observava como eles se beijavam sem se incomodar com a sua presença ali. 
Dessa vez, foi ela quem se sentiu incomodada...
Pensou então resoluta:  Teria que decidir seus caminhos o mais rápido possível...

Fátima Abreu







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