domingo, 1 de fevereiro de 2015

Um capt do novo romance de época: UM CONTO DE TEMPO & AREIA






Copiei para cá um capt pequeno, embora inteiro, do meu novo livro.
Isso só para terem uma ideia, meus queridos leitores:

                                                      14
 
 
As crianças souberam por Irina, no fim daquela tarde ensolarada de verão europeu: 
(Lídia não tinha como dizer, pois só fazia chorar sem parar)
 
- Amores da vovó: 
Amanhã o papai vai ter que viajar e pode ser que demore muito... 
Vocês vão ter que ajudar sua mãe a não pensar nisso. 
Vão ser ainda mais carinhosos com ela, 
para que ela se distraia e não fique com muitas  saudades. 
Posso contar com isso?
 
Lanete, respondeu por ela e pelos menorzinhos:
 
- Claro vovó! 
Então era por esse motivo que papai chorava noutro dia?
 
- Seu pai chorou querida?
 
- Sim, vovó. Achei que ele estava com alguma dor, 
e quando perguntei, disse então que resolvia tudo...
 
- Ah, sim... Ele vai resolver. 
Fique tranquila.
Deus há de ajudar seu pai com essa viagem 
e lhe trazendo logo para casa.
 
- Vovó você é sempre tão calma para falar dos assuntos! 
A mamãe chora logo...
 
- Cada um é de um jeito, Lanete. 
Com o tempo, irá entender isso. 
Temos que respeitar sempre o jeito de ser das pessoas: 
Umas são mais frágeis e choram. 
Outras tentam ser mais calmas nas situações de crise. 
E há ainda um terceiro grupo: 
Esse se revolta contra tudo e todos,
como se as pessoas tivessem culpa... 
Manter a mente branda ajuda muito a não agir assim. 
 
A menina fez que sim com a cabecinha, 
e tomando os irmãos pelas pequenas mãos, 
os levou para brincar no parquinho novamente.
Antes, porém, ao passar por Lídia, lhe disse:
 
- Ah, mãezinha não chore mais, faça como a vovó e pense coisas boas...
 Vai dar tudo certo!
 
Lídia enxugou o rosto e tentou sorrir. 
Ali estava uma criança que não saíra de seu ventre, 
mas que ela amava com todas as suas forças.
Decidiu daquele momento em diante, 
que teria de ser como Irina, e dar o exemplo para seus filhos...
 
 
 
Irina interrompeu o pensamento de Lídia, ao chegar perto:
 
- Não, você não tem que ser como eu... 
Basta que seja você mesma, mas, 
com atitudes e pensamentos positivos para passar aos pequenos. 
Por eles querida, tem que ser mais forte, só isso...
 
- Minha sogra lê pensamentos? 
Sim, queria ser forte como a senhora...
Há algo em mim, muito frágil ainda... 
Como consegue?
 
- A vida levou meus pais quando ainda era adolescente.
Eu tive que enterrá-los aos 17 anos, 
e depois peguei minha carroça viajando sozinha, 
do interior para o litoral.
 
Depois, me empreguei na casa de Gaston Verne, 
 pai de Gerard, como arrumadeira. 
Ele foi o melhor amigo que alguém poderia ter: 
Deu-me mais estudos em Letras 
e nunca deixou faltar nada que eu precisasse.
 
Ainda me apresentou a Julio Verne, Alexandre Dumas e Victor Hugo. 
Coisa que poucas pessoas podem dizer que fizeram em suas vidas!
Ele estava apaixonado. Pena que eu não. 
Tinha por Gaston, muita gratidão, 
companheirismo e uma grande e linda amizade.
 
Cuidei dele com muito carinho, quando teve a encefalite... 
Depois disso, ele passou de apaixonado a totalmente louco por mim...
Em dado momento romântico, 
tivemos nossa intimidade dividida, e então, engravidei. 
 
Ainda não sabia disso, quando decidi voltar para Nantes.
Gaston atordoado com minha partida, enlouqueceu literalmente. 
Porque já era uma pessoa psicologicamente desequilibrada. 
Acabou por culpar seu tio pela minha partida, 
por não ter financiado a publicação dos meus livros. 
 
Deu-lhe então dois tiros, e um deles, 
deixou Julio Verne coxo até o dia de sua morte. 
Gaston foi chamado de louco, 
e condenado a viver em um sanatório para sempre.
 
Criei Gerard, totalmente sem ajuda de ninguém. 
Mantendo-nos apenas com meu trabalho no atelier de costura. 
Com toda essa bagagem de vida, 
tinha de  ser forte, querida Lídia...
 
 
- Eu sabia vagamente de alguns trechos de seu relato. 
Gerard sempre falou pouco do passado... 
Se já a admirava, agora, muito mais: 
Minha sogra, és uma verdadeira guerreira!
 
- Nem tanto, minha querida... 
Também tive meus momentos de choro, todos tem... 
Já você, dá para entender porque é mais frágil: 
Nunca teve mãe presente, pois ela morreu.
 
Michel por não saber cuidar sozinho de uma menina, 
teve que levá-la para uma instituição. 
Só saindo para esse mundo, com 18 anos! 
 
Natural que não estivesse preparada para a vida fora 
dos portões onde cresceu...
 
Depois, já em Nantes, ainda sofreu aquele estupro... 
Então não se culpe: 
É compreensível seu jeito de ser. 
 
- Ainda assim, me sinto como cristal. 
Quero ser madeira forte, daquele tipo de ‘dar em doido’...
 
Acabaram rindo desse comentário.
 
 
Fátima Abreu 

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