segunda-feira, 22 de julho de 2013

UM CONTO DE AREIA E MAR





Irina era uma doce e linda mocinha, já com seus 17 anos.
Crescera entre montes e vales. Mas ficara órfã recentemente. Querendo mudar de ares, decidiu ir para o litoral.
Sabia pescar muito bem: Aprendera nos rios perto da casa onde nascera, como o pai um homem sério, mas de um coração bondoso. A mãe, era cozinheira de mão cheia. Infelizmente já não estavam mais ali...

Deixou a sua casinha nas montanhas, fechada. Se um dia quisesse voltar teria um teto sobre  a cabeça.
Colocou o que precisava numa carroça que havia pertencido ao pai e foi embora dali.
Antes, deixou um ramalhete de flores silvestres colhidas pela manhã (ainda com orvalho), nas lápides de seus pais, que ficavam no campo bem pertinho da casa, onde viveram felizes, numa vida tranquila por muitos anos, até a varíola os levar desse mundo.

Mudou-se para uma casa menor ainda, pois agora era só. E no litoral, não se precisava mesmo de muita coisa para se viver: Apenas uns apetrechos de cozinha e alguma mobília: uma cama, um baú para guardar suas roupas e uma mesa com cadeira para suas refeições. A roupa seria lavada na tina de madeira que fora de sua  mãe.


Sabia bordar e fazer costuras: Sua paciente mãe, havia lhe ensinado desde bem pequena.
Irina era a imagem viva da mãe, porque tal qual, era dotada de uma beleza natural do interior:
Rosto quadrado, pele aveludada, um furinho no queixo e olhos pequenos mas de um verde estonteante.
O corpo era franzino, porém delineado.
Os cabelos longos e de um castanho que mesclava-se a fios mais claros, beirando o loiro.
Era um pouco mais alta que as jovenzinhas de sua idade, talvez por esse motivo, parecesse magra.
Aprendia tudo com facilidade.

 Chegou à vila de pescadores para informar-se de algum cômodo com um lavabo e pequena cozinha.
Um senhor grisalho e bem acima do peso, ouvindo sua conversa com o quitandeiro, aproximou-se dizendo-lhe:

_ Moça, existe uma casinha nesses moldes, que está fechada bem perto da praia; pertence à uma senhora de nome Ághata. Ela mora bem pertinho da loja de cestarias, está vendo aquela cerquinha amarela ali, com uma casinha ao fundo?  Pois é lá.
_ Obrigada pela informação, vou procurar essa senhora.

Os dois homens ficaram olhando a jovem afastar-se com sua carroça, cogitando o que ela fazia sozinha pelo mundo.

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Abriu a porta da casinha  que alugara da senhora, uma viúva de pescador, e pode perceber que precisaria
de muita limpeza. Ergueu as mangas e cuidou disso por um dia inteiro.
Esquecera-se das horas ...
Já no fim da tarde, quando o sol já se punha no horizonte, o estômago roncou fortemente e deu conta que não havia se alimentado.
Gastou suas energias com a faxina do ambiente e o corpo reclamava agora, com uma fome angustiante: Precisava urgente, de comer algo.
Abriu o cesto que trouxe na carroça e serviu-se das frutas colhidas no pomar, antes da viagem para o litoral.
Acendeu uma vela em cima da mesa (no velho castiçal que trouxera do antigo lar), para tratar de afugentar os insetos da noite.
Leu um pouco mais do novo livro do senhor JULIO VERNE, e depois decidiu
deitar-se: Arrumou a cama com lençol limpo e colocou no travesseiro de penas de ganso, uma fronha com monograma bordado por ela mesma. Pôs também uma coberta de lã  para o frio da noite, pois sabia que perto do mar, o vento era gelado.

Guardou o resto de seus pertences no baú ao lado da cama. Deitou-se enfim.
Mesmo cansada da viagem e do trabalho exaustivo de limpeza durante todo dia, não conseguiu dormir direito: Acordara várias vezes durante a madrugada, os pensamentos em turbilhão:
"Como faria para sustentar-se ali no litoral?

Nas montanhas tinha tudo de que precisava: As galinhas e seus ovos, o leite da cabra Noely que usava também para fazer o queijo, além do pomar com muitas frutas e do peixe que o rio garantia.  Bem, peixe ali não era problema, mas e o resto? Teria que repensar quantas vezes fosse preciso, para achar um meio de sustento imediato naquelas paragens..."

Finalmente tirou um sono mais profundo, quando o raiar do dia já ameaçava, como a primeira claridade.

Continua...

Fátima Abreu


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