(CONTINUAÇÃO DO CAPT ANTERIOR: "A FALSA NOIVA")
A História De Josué
Passados meses, depois de toda a confusão das falsas bodas de Eliane com Josué, um menino que dormia em uma gaveta de cômoda. por não ter berço, finalmente era apresentado ao resto de sua família em Irajá.
O parto fora feito em casa mesmo. Ele recebeu o nome de Adilson. Mas, mesmo tendo nascido no mês de dezembro, entre o Natal e o Ano Novo, foi registrado somente em março.
Como se isso calasse a boca das pessoas. Pensaram que enganariam quem? A vizinhança ao saber que ela estava esperando um bebê, começaram a fazer as contas e aquele bebê apresentado para todos, nunca poderia ser um recém nascido, só te tivesse tomado fermento!
Nesses meses houve mudanças: O doutor, tão amigo antes, se afastou da família de Eliane.
Já Josué, não era bem visto entre os parentes de Eliane.
Mas de certa forma, ele tinha seu valor. Não se deve julgar uma pessoa apenas por um fato; quem somos nós?
Josué teve que passar por muita coisa nessa vida...
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Era um sobrevivente do sertão baiano na cidade grande, e isso custara-lhe a infância:
Aos 9 anos, ele saíra pelo mundo para tentar a vida e conseguir algo mais do que os demais que ficaram.
Em seu lugarejo(não era uma cidade) que se constituída de algumas casas beirando a linha do trem e pequeno comércio: uma mercearia, farmácia, padaria e um bar para se jogar baralho e sinuca, nada se poderia esperar de progresso e melhoria financeira.
LAGEDO ALTO(BA)
Havia também uma escola até o quarto ano, uma capelinha mínima, que mal daria uma dúzia de pessoas dentro, e um posto telefônico para a vizinhança usar, já que não se tinha nem luz elétrica e rede de esgoto, quem diria ter cabos para telefonia doméstica!
Evidentemente, em local afastado, também existia a casa das moças de "vida fácil"(acho esse termo francamente inadequado, já que a vida dessas mulheres nada tem de fácil, estando sujeitas à violência, doenças, etc e tal).
Dessa forma, a vida corria ali como se o tempo tivesse congelado e nada mudou por anos a fio...
Josué fugira de casa, mesmo sabendo-se herdeiro de uma grande e renomada fábrica de charutos da Bahia.
Sua mãe havia se entregado aos "encantos" do patrão. Ficou grávida e se afastou dele. Ao saber que um filho desse relacionamento havia nascido, ele quis reconhecê-lo.
Ela porém, envergonhada por sua origem humilde e sabendo que a família rica do homem, jamais aceitaria que eles se casassem e registrasse a criança em seu nome, tinha se adiantado e registrado o menino como pai desconhecido, tendo apenas o 'Gonçalves' do sobrenome da mãe.
Mesmo sabendo disso, ele quis ajudá-la a criar o menino e os levou para perto da fábrica de charutos, o menino via o pai de vez em quando e começou a embrenhar-se pelas plantações de fumo, quando pegou um parasita no rosto, que o deixou dias com a face inchada e disforme.
Foi o suficiente para que sua mãe o levasse de volta ao lugarejo onde havia nascido.
Por falta de informação, ela temia que outras doenças contraísse, nas terras da fábrica ou que fosse um futuro tabagista...
LAGEDO ALTO (BA)
O pai de Josué, só ficou sabendo dias depois que eles haviam se mudado dali... Estava viajando, quando tudo acontecera. Desanimado e resolvido a esquecer esse episódio de sua vida, casou-se com outra moça das relações de sua família e adotou um menino a quem colocou o mesmo nome do filho, que a vida fez-lhe escapar pelos dedos...
Josué aos 9 anos, com o pé na estrada e pedindo carona para todos os carros e caminhões que passavam, chegou até São Paulo. Ali, ficou como todo jovem migrante: Fazendo "bicos".
Era bem esperto e aprendia cada dia mais, como sobreviver numa cidade grande, criando a malícia necessária para isso... Afinal, estava sozinho e tinha que se manter vivo e alerta!
Desse jeito aprendera dois ofícios, trabalhando como ajudante: Barbeiro e protético.
Não serviu as forças armadas, sobrara. Esse foi um dos motivos para resolver que era a hora de ir embora de São Paulo e mudar-se para o Rio De Janeiro, que era capital federal naquela época.
No Rio, alugou um quartinho com banheiro e foi procurar emprego em uma das duas coisas que sabia fazer, mas, aprendeu outro tanto de coisas e descobriu-se ser bom vendedor também.
Nessa época, conheceu e casou-se com uma jovem de família classe média alta: Eliseth. Tiveram uma filhinha que recebeu o nome de Betina.
Quatro anos depois de seu nascimento, o casamento de seus pais terminou: Ele as levou para conhecer sua família no interiorzão da Bahia, porém durante a viagem, numa parada, mãe e filha foram ao banheiro.
E disso, resultou uma gonorreia para a criança. Ao saber do diagnóstico pelo médico, a mãe da menina, jurou que nunca mais a levaria em nenhuma viagem ao nordeste. Uma briga entre o casal decidiu a ação seguinte: A separação.
Tempos depois, ele conheceu Eliane e seguiu-se todo o resto...
Quatro anos depois do nascimento de Adilson, Eliane engravidou novamente. Nascia outro menino: Ademir.
Esse, foi amado por Eliane, mas não conseguia sentir o mesmo pelo seu primogênito, pois fora por causa dele, que teve que passar por toda aquela farsa(assim ela pensava)...
Josué com sua esperteza, conseguira passar de simples vendedor de títulos e ações da Clínica onde estava trabalhando nos últimos seis meses, a acionista majoritário. Nessa época, mudaram do Irajá (onde moravam novamente) para Niterói, no bairro de São Francisco.
Alugaram uma linda casa com a varanda fazendo praticamente todo o contorno, pegando da frente, até os fundos. Nessa época, Eliane teve uma vez na vida, a sensação de mandar e não, de ser mandada: Tinha duas empregadas ao seu dispor. Os meninos estavam matriculados na melhor escola do bairro e tinham de tudo. Josué comprara seu primeiro carro: Um Esplanada, muito cobiçado naquela época...
Os meninos já com 10 e 6 anos, ficaram encantados com o carro do pai.
A vida ia bem, até que o vício do jogo, pegou Josué de jeito: Fosse no pôquer ou nas patas de cavalo no jóquei...
(Continua)
Fátima Abreu