Conto
Heloísa Helena não era uma moça muito romântica. Lia livros tal qual como se bebesse água. Precisava disso.
Era no mundo do '
Faz de Conta", que ela podia fugir da sua realidade.
Não, ela não era a pobrezinha sofredora dos contos de fadas, que se tornava princesa e casava-se com o lindo e perfeitinho '
Príncipe Encantado'...
Seu enredo de vida era diferente: Ela simplesmente não gostava de nada a sua volta e criava seu mundinho particular.
Os livros, eram fonte de sua inspiração para moldar esse mundo:
Poderia ser uma princesa solitária que continha muitos poderes!
Voar sobre os mares, comer do que ela imaginasse e... Puft! Lá estaria o alimento desejado em suas mãos.
Heloísa Helena, não tinha sobrenome.
Naqueles tempos, as mocinhas só o obtinham com um casamento: Herdando assim, naquele mundo machista, o sobrenome do esposo e não, o do pai.
Seu pai que a criava, quis arrumar-lhe um marido, pois já estava na idade de casar-se: Tinha 17 anos!
Para os padrões da época em que vivia, Heloísa estava ficando para '
Titia', pois suas primas estavam todas casadas, desde os 14/15 anos...
Heloísa não cogitava casar-se com alguém que não pudesse amar.
Aliás, ela não apreciava os homens, achando todos, uns brutos!
Sentia falta de presença feminina em sua vida:
A mãe havia morrido quando ela nasceu, no parto.
As primas casadas, eram uma chateação, pois só falavam de seus maridos e afazeres domésticos...
Não sendo compreendida, ela viajava nos livros...
Considerava o mais fiel dos maridos que alguém poderia ter:
Não reclamava, mostrava-lhe mundo diferentes, ensinava lições preciosas, dizia-lhe poesias doces e além do mais, dormia ao seu lado sem roncar...
Numa dessas leituras que fazia ao ar livre, percebeu a presença de uma pomba ou seria pombo? Não sabia dizer. Ela apenas notou que o pássaro estava lhe prestando atenção.
Assim foi durante uma semana inteirinha.
Heloísa Helena não entendia o porquê daquela bichinho vir todos os dias, apreciar-lhe a leitura.
Certa manhã, o pássaro trouxe no bico, um talismã todo em ouro e nele havia o desenho de um pássaro com inscrições embaixo. Heloísa leu, e ao pronunciar as palavras que ali estavam, o pássaro transformou-se em um bonito rapaz de seus 22/23 anos.
Ao contemplar aquela cena, digna de um dos livros que lia, ficou boquiaberta.
O rapaz aproximou-se, beijou suas mãos e disse olhando bem dentro dos olhos de Heloísa:
_ Tenho a observado todos esses dias. Tinha que conhecer bem, a pessoa que poderia desfazer o encanto que estava sobre mim... Essa, com certeza, teria de ser a senhorita. Peça-me o que quiser, pois sou um mago.
_ Ah, estou ainda absorvendo isso tudo! Nossa, é mesmo um mago?
_ Sim, mas, como não quis casar-me com a rainha das
Terras de Melanie, ela lançou um feitiço sobre minha pessoa, transformando-me em ave.
_ Bem, quero apenas um sobrenome, de resto tenho tudo que preciso.
_ Para ter um sobrenome tem que se casar, senhorita...
_ Sei disso. Mas, como mago, não teria de inventar outro jeito?
_ Case-se comigo, Heloísa Helena, e lhe darei meu sobrenome.
_ Casar-me com o rapaz? Eu acabei de conhecê-lo! Precisaria amar para me casar...
_ Já sei então! Peça-me para que a faça me amar. Então, lançarei um encantamento e tudo será resolvido!
_ Bem, até que não é má ideia! Assim calo a boca das minhas primas fofoqueiras e de meu pai...
_ Concorda então?
_ Sim, faça o encantamento.
Combinaram um encontro para o dia seguinte, pois o mago traria uma poção para que a mocinha tomasse e ficasse apaixonada por ele, para enfim ser realizado o casamento.
Durante o trajeto, o mago parou para tomar água numa fonte, mas deixou cair a poção quase inteiramente quando se abaixou. Levou o pouco que tinha, para dar à Heloísa Helena.
A moça já esperava ansiosa no local.
O mago que tinha o nome de
Ciro Leão da Esperança, deu-lhe de beber do frasco e recitou palavras mágicas, enquanto ela tomava a pouca poção que sobrara.
Heloísa Helena disse então, olhando-o de modo diferente:
_ Esse pouco que me trouxe foi o necessário para apenas gostar de si. Ainda não o amo. Entretanto, quem sabe se o senhor ao casar-se comigo, for me conquistando dia após dia? De uma forma que depois lhe revelarei...
_ Esperava que dissesse isso. Pois o amor, muitas vezes se conquista dessa forma: Melhor do que poções mágicas, é o sentimento verdadeiro que pode ser semeado e cultivado.
Assim, Heloísa Helena tornara-se senhora Leão da Esperança.
Mas, nas horas de intimidade matrimonial, seu esposo tinha que se transformar em uma bela jovem como ela, pois só dessa maneira, ela conseguia amá-lo com toda intensidade.
Fátima Abreu
Imagem retirada do Google