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terça-feira, 23 de julho de 2013

Conto De Areia & Mar- Capt 2


Já eram nove horas da manhã, quando Irina despertou. Afinal, durante a noite quase não dormira e o sono só veio firme mesmo, ao raiar do dia...
Fez um desjejum com as frutas que ainda tinha e  bebeu uma xícara de chá com torradas do pão que havia assado um dia antes da viagem.
De súbito, sentiu falta da cabra Noely: Seria delicioso tomar seu leite amarelinho ou comer do queijo.
Lavou o rosto no pequeno lavabo e saiu ainda de camisola para olhar a praia.
Os barcos pesqueiros iam longe. Haviam saído nas primeiras hora da manhã. Era assim que as pessoas do litoral sobreviviam: Pesca e comércio.

Diziam que os negócios melhoravam quando era verão:
Os burgueses e pessoas bem situadas em Paris, vinham passar as férias ali. Sabia-se que o advogado
(formado para satisfazer ao pai, mas sem exercer a profissão) e escritor Julio Verne, havia estado ali muitas vezes, vindo com a família que tinha uma residência em Nantes, quando de sua infância.
O local ficara em evidência desde que o autor começou a ter êxito em seus livros, já conhecidos em grande parte da Europa. O primeiro grande sucesso fora a novela:
Cinco Semanas Em Um Balão,  de 1862.
A fama e o dinheiro apareceram dali em diante.
Irina havia comprado um exemplar e gostou muito pelo "espírito desbravador" do livro.
Soube-se que Julio Verne nunca havia estado no continente africano até aqueles dias, mas descreveu com detalhes, a aventura nesse local, falando sobre animais, cultura, natureza, coordenadas geográficas, etc.

Irina passou a admirá-lo e leu outros sucessos desse autor:
  Viagem ao Centro da Terra  de 1864

 Vinte Mil Léguas Submarinas de 1870

A Volta ao Mundo em Oitenta Dias  de 1873.

Em pouco tempo, ele se tornou sue autor predileto, pois o achava um visionário, um gênio por trás das letras. O seu estilo era algo novo: Nenhum outro escritor ousou tanto com a imaginação até então!

Irina gostava disso, ela também se achava uma jovem além de seu tempo, tinha ideias inovadoras para as mulheres, e adoraria poder escrever sobre tudo que em sua mente se passava:
Mostrar ao mundo o que uma moça humilde do interior poderia criar e a diferença que isso poderia fazer na sociedade.
Sonhava transformar sua vida e de outras pessoas, assim como os livros que lia.
Queria  conhecer lugares, culturas e pessoas diferentes, para escrever sobre eles.
Ter uma visão global do resto da Humanidade.
Infelizmente até aquele momento, nada mudara...

Entretanto, o primeiro passo havia dado: Saíra do interior, e fora para o litoral onde a proximidade com o porto, reservava muitas aventuras. Soube que isso também havia inspirado Julio Verne anos antes, fazendo com que ele escreve as "20.000 Léguas"...
Primeiramente, teria de arrumar uma fonte de dinheiro para seu sustento. Depois, procuraria alguém da família de Julio, para que  fosse possível um contato posteriormente com o autor. Para que lesse seus escritos e desse sua opinião (o que para ela, era de extrema necessidade).


Foi até a vila e conversando com a sua senhoria, a viúva Ághata, soube que precisavam de uma arrumadeira na casa de  Gaston, sobrinho de Julio Verne( filho de seu irmão Paul).
Era um rapaz desequilibrado. Diziam à "boca pequena" que talvez fosse louco mesmo. Isso não a desencorajou, muito pelo contrário!
Se ele fosse assim, seria uma fonte de estudo da psiquê humana para ela.  Irina gostava de teosofia e lia muito desse assunto.
Teosofia era em síntese " conhecimento divino".
Estava sendo difundida pela Sociedade Teosófica , em livros como: Ísis sem véu (1877), A Doutrina Secreta (1888). Como as demais doutrinas espiritualistas, a Teosofia quer a evolução humana para o Bem, o amor, a paz entre as pessoas, o altruísmo, além do sonho 'utópico' do fim da pobreza, ignorância,  violência e desigualdade.
Para Irina, a psiquê humana estava diretamente influenciada pelo "mundo invisível" que temos ao nosso redor.
Suas ideias não agradariam aos leigos, mas aos estudiosos do assunto como Helena Blavatsky, poderiam até interessar.

A viúva deu-lhe o endereço da casa de Gaston, mas alertou-a:
 _ Minha jovem, tenha cuidado: Ao menor sinal de desequilíbrio desse homem, vá embora!
_ Não se preocupe senhora, isso não me assusta,  porque sei me cuidar, meus pais ensinaram isso desde pequena, já prevendo que eu fosse ficar sozinha um dia...
A senhora deu de ombros... A mocinha tinha uma personalidade forte, e pelo pouco tempo que se conheciam, já dera para perceber.

Irina saiu com um aceno e dirigiu-se à quitanda para comprar alguma comida, lá também saberia com detalhes como era Gaston.
Era certo que o quitandeiro soubesse alguma coisa, afinal, ali a burguesia e o povo compravam seus mantimentos, compotas, legumes e hortaliças.
Natural que Gaston também abastecesse sua casa.

Continua...

Fátima Abreu



2 comentários:

  1. Boa noite prima querida com paz e amor esse é um belo trabalho, parabéns e seja feliz!

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    1. Obrigado primo Gelci. Com esse incentivo, vou em frente... Abraços daqui.

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