A conversa continuou. Micaela e Jordan não percebiam o tempo passar. Trocaram então cartões de apresentação.
Ficou uma promessa no ar de um novo encontro, desta vez seria marcado por telefone.
Jordan pagou a conta, mesmo Micaela dizendo que não precisava. Ele leu em seus olhos a necessidade que a moça passava...
Há coisas que não precisam ser ditas, basta uma olhada a mais do observador para serem notadas.
Despediram-se. Cada um seguiu seu caminho naquela tarde. Mas, o pensamento de que aquele 'encontro casual' era obra de alguma força maior, passou por suas mentes...
**************
No passado...
Mirthes dava a luz a um casalzinho de gêmeos. Uma cabana no meio da floresta, foi o palco do nascimento. Apenas um instante de felicidade para Mirthes:
Roger seu esposo, havia morrido dias antes dos filhos nascerem. Viúva e chorosa, ela só teve a companhia de sua irmã Corine, nos últimos dias da gestação.
Corine fizera o parto. E também cuidou da irmã deprimida e dos sobrinhos recém nascidos.
Mas, Mirthes aumentava visivelmente sua depressão. Corine, percebendo isso, disse-lhe certa noite ao embalar o gêmeos no berço:
_ Irmã, você não tem melhorado em nada. Ademais, os bebês precisam de carinho e atenção. Isso você infelizmente não tem dado... Não seria melhor ficar apenas com um deles e doar para uma família que queira um filho, o outro?
_ Sabe Corine, eu já havia pensado nisso. Estava amadurecendo a ideia... Mas se tiver que doar, farei com os dois. Não é justo que dê carinho a apenas um deles. Então, para que nunca se encontrem, você leva o menino para onde quiser: um orfanato, casa de família... A menina, eu me encarrego, pois sei quem vai querê-la: Um casal que perdeu sua única filha no ano passado.Ouvi dizer que estavam pensando em adotar. Farei então a proposta.
_ Está certo. Levarei o pequeno quando você achar melhor. Deixarei no orfanato da cidade. Lá vão se encarregar de lhe dar uma boa família, com certeza.
_ Na semana que vem.
_ Já? Não quer ficar mais um pouco com eles?
_ Quanto mais cedo melhor. Pois não quero correr o risco de me afeiçoar aos bebês.
_ Sim, essa decisão é sua. Então farei isso na próxima semana. Agora vamos banhar as crianças...
*************
O orfanato era totalmente discreto: Havia ainda o sistema da 'RODA', para que doassem as crianças sem saberem de quem e de onde provinham.
A RODA, ficava do lado de fora, com uma saída/entrada para dentro do orfanato, por uma portinhola.
Uma pessoa trazia a criança, depositava em uma das partes acolchoadas e girava a roda para que ela entrasse no orfanato. E assim, alguém do lado de dentro, recebia a criança e a levava para a direção, onde era feito um registro de chegada.
Foi dessa forma que Jordan chegou ali. Numa fria manhã do comecinho do inverno...
Coberto por mantas e apenas um bilhetinho preso, com os dizeres:
"CUIDEM DE MEU SOBRINHO".
Com lágrimas nos olhos, Corine saiu, perguntando dentro de si, se agira bem, quando deu força para que a irmã tomasse essa decisão... Era necessário, repetia para si mesma.
Afinal, Mirthes estava desequilibrada, e poderia por em risco a segurança dos pequenos, quando Corine voltasse para casa e a deixasse sozinha com os gêmeos.
Além disso, Mirthes não poderia sustentá-los, pois nem a ela mesma saberia como fazer de início, já que era o falecido marido que trazia o 'pão de cada dia' para casa...
Agora, teria que deixar passar o resguardo e depois sairia procurando um emprego. Pegaria qualquer coisa, estava decidida! Tomou um gole de café, abriu o jornal e começou a procurar...
(continua)
Fátima Abreu
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