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quarta-feira, 21 de novembro de 2012
MARIBEL NÃO TINHA OLHOS COR DO CÉU- FINAL
FINAL
Maribel estava numa sessão de fotos, quando Jairo chegou para lhe dar a notícia da ida ao Oriente Médio. Ela se desculpou com os colegas pedindo uma parada por instantes, para falar com seu marido ( nessa época, já haviam casado ).
Tomada de surpresa, ficou abatida, com medo do que poderia acontecer ao amor de sua vida. Parecia adivinhar o desfecho trágico que viria a acontecer...
_ Não fique assim, Maribel. É um trabalho como outro qualquer que eu já tenha feito no exterior.
Disse Jairo, cobrindo de beijos sua face.
_ Mas, amor... Morro de medo só de pensar que te aconteça algo.
_ Tudo vai dar certo, fique calma. Não quero que isso atrapalhe suas fotos, você está tão linda nesse vestido branco, transparente!
Ela sorriu. Jairo lhe deu um abraço apertado e saiu para acertar os detalhes na redação do jornal.
***************
Agora parecia para ela, uma cena de novela, depois de tanto tempo...
Saiu da cafeteria e foi para sua casa, onde as memórias eram ainda mais vívidas. Tudo na casa, 'respirava' o amor que vivera com Jairo. Ela foi incapaz de se livrar de coisa alguma. Estavam intactas todas as coisas dele, como se ainda vivesse ali.
Depois de 4 dias do encontro entre Maribel, seu amigo Miguel e Horácio Magalhães, ela finalmente assinou a papelada que precisava para colocar seu livro nas livrarias e bancas. Uma tarde de autógrafos na semana seguinte, encerraria a maratona de eventos que ela precisou estar presente.
Foi nessa tarde, que enfim tudo veio à tona:
Maribel, sentada atrás de uma mesa semi circular, de madeira bruta, dava seus autógrafos forçando sorrisos.
Horácio Magalhães e Miguel, recebiam as pessoas e lhes indicavam onde sentar, para que ao término dos autógrafos, Maribel, lesse o primeiro capítulo do livro para todos ali presentes.
Entrara na sala, um rapaz de seus 15/16 anos. Sentou-se perto do editor.
"Nada estranho", pensou Horácio.
O rapaz até o fazia lembrar alguém, mas não sabia dizer quem, exatamente...
Maribel sorriu abertamente, ao perceber a presença do rapaz ali.
Começou a leitura então. Ao terminar, recebeu aplausos. Em seguida, as pessoas foram dirigidas ao coquetel de praxe. Nesse momento, Horácio que havia se levantado, foi até Maribel cumprimentar o sucesso do evento e a venda segura de muitos livros ainda.
Maribel apertou sua mão e sorriu agradecendo. Chamou então o rapaz, para as devidas apresentações.
_ Este é Jairo Júnior. J J, fale com seu avô.
Horácio a olhou espantado, com os olhos quase a saltar das órbitas!
_ Mas que brincadeira é essa, Maribel? Não estou entendendo onde quer chegar...
_ Não é uma brincadeira, é a mais pura realidade!
O homem começou a respirar com dificuldade e sentou novamente na cadeira onde estava antes. O rapaz afrouxou a gravata do avô. Isso lhe dera certo alívio.
Maribel continuou:
_ O senhor teve um relacionamento clandestino muitos anos atrás, com uma certa moça, de nome Amália Torres de Almeida, lembra disso?
_ Sim, sim... Amália era minha assistente de produção na editora, que estava começando ainda.
_ Pois então. Ela soube que era casado. Resolveu se afastar, pediu demissão. Mas já levava no ventre, Jairo, o homem da minha vida e pai de J J. O que lhe faz avô dele... Esse é seu neto, e não poderia deixar ser apresentado por mim, sua mãe. Prometi para Jairo que se ele não voltasse do Oriente Médio, o senhor um dia saberia da existência do neto e de toda a verdade.
_ E o que aconteceu com Amália?
_ Ela morreu há 8 anos atrás, vítima de uma cirrose, pois passou a beber todos os dias. Nunca lhe esqueceu senhor Horácio, isso a fez tornar-se 'escrava' do vício.
Horácio levantou com dificuldade, ainda sem ar. Agora, se reconhecia naquele rosto jovem em sua frente.
O rapaz era sem dúvida alguma, seu neto...
Apoiou o braço no ombro de J J, dizendo:
_ Perdi a vida de um filho sem saber, mas ganho a partir de hoje, um neto e uma nora. Lamento pela desgraça que fiz na vida de Amália, isso não poderei deixar de pensar nunca...
_ Tudo já é passado senhor Horácio. Estaremos rumo ao futuro agora.
Disse Maribel, dando um breve sorriso.
J J, que estivera calado todo o tempo, finalmente falou:
_ O que aconteceu antes não me importa. Poderemos ser amigos, senhor Horácio. Sei que meu pai gostaria que assim fosse.
Mas as forças do velho decairam, e ele de súbito desmaiou. Chamaram o médico dele, mas teve que ser levado ao hospital mais próximo, e antes de dar o último suspiro, olhou para o neto que acabara de conhecer e disse arfando:
_ Que você J J, nunca cometa os erros de seu avô. Que sua mãe um dia se recupere da perda de seu pai.
E o livro dela, seja um sucesso. Procure minha família, minha esposa já faleceu, mas tenho 2 filhos, você é sobrinho deles J J, quero que receba parte da herança que lhe caberá, como meu neto.
_ Não se preocupe com isso. O senhor vai melhorar e vai me apresentar para meus tios.
_ Não, sei que não, J J...
Horácio virou a cabeça para o lado, fechou os olhos e morreu.
Maribel subitamente teve um sentimento de culpa. Afinal, se nunca houvesse contado a verdade, ele não teria passado mal...
J J, como e lesse os pensamentos da mãe, deixou que as palavras dessem o tom certo ao momento:
_ Mãe, a verdade tem que ser dita. Não há como fugir dela. A senhora fez uma promessa ao meu pai e a cumpriu, isso que importa. Não se culpe quanto ao meu avô. Ele já estava doente do pulmão e coração, devido ao cigarro. Fiquei sabendo pelo médico dele, ainda agora, no corredor do hospital.
Maribel abraçou o filho, pensando como apesar de tudo era feliz:
Tinha ao seu lado um jovenzinho esperto, saudável, era tão bonito quanto o pai um dia fora, que a amava e respeitava muito.
Maribel não tinha olhos cor do céu, mas tinha o céu por testemunha de sua vida.
Fátima Abreu
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