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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O "V" da Vingança- Reeditado

CONTO POLICIAL

Cap 1


Gabriele tinha 'flashes' daquele momento triste da sua vida:
Se via criança, na casa dos seus sete anos. Estava em seu quarto, acabara de acordar, mas não chamou a mãe, pois ela sofria de insônia, Gabriele não queria incomodar o pouco de sono, que a mãe ainda tinha, era uma menina boa...
Ficou ali quietinha, lendo um livro de contos de fadas, até que os pais acordassem e a chamassem para o café da manhã...

Dois homens entraram na casa: Cláudio, era branco e tinha tatuagens por quase o corpo inteiro, estatura mediana, cabelos loiros, mas ralos...  Uriel, que era de raça negra, forte e alto.
Penetraram pelo corredor que levava aos quartos, já colocando na sacola que traziam, tudo que achassem de valor.
Ao chegar no quarto do casal que ainda dormia, deixaram uma luminária que estava sobre a escrivaninha, cair. Brenda acordou com o ruído. Em seguida, o marido Maurício.
Ao notarem a presença dos dois bandidos no quarto, começaram a gritar, e Cláudio não pensou em mais nada:
Sacou da arma que trazia consigo e atirou no casal, deixando a cama banhada de sangue...
Gabriele, que ouvira os gritos, correu de seu quarto e chegou no exato momento em que Cláudio assassinava seus pais...
Ela ficou catatônica, não se movia, não falava, e esse trauma levou-a a um sentimento de vingança, que seu coração pueril nunca sentira antes...
Uriel ao perceber a presença da menina, tentou escondê-la de Cláudio, para que ele não viesse a matá-la também, mas foi em vão, porque ele já a tinha visto parada na porta do quarto. Pegou na mão dela e disse dirigindo-se para Uriel:

_ O que você estava tentando fazer, queria esconder a menina?
_ Ela é só uma criança, não tem porque morrer, Cláudio.
_ Mas serve para vendê-la para uns 'carinhas 'no exterior...
_ Não faça isso Cláudio, deixa a menina aqui, depois alguém vai chegar e cuidar dela.
_ Nem pensar! Aí ela diz para a polícia como nós somos, eu já tenho ficha, eles vão logo saber que fui eu quem matou o casal.
_ Tá certo, mas vamos cuidar direito dela, ok?
_ Anda, cara. Deixa de conversa e vamos embora, os vizinhos já devem ter escutado os tiros e chamado a polícia...
Dito isso, pegou a menina e a levou dali... Ela nunca mais esqueceu aquele momento...

Esteve em cativeiro durante uma semana, enquanto Cláudio negociava a venda dela para o exterior, certamente para algum 'trambiqueiro', que a levasse para algum casal rico que não tinha filhos ou coisa pior: Como escrava ou ainda para retirada de órgãos.
Esse pensamento deu um arrepio na 'espinha' de Uriel...
Afinal, em uma semana cuidando dela, tinha se afeiçoado à menina...
Não poderia deixar que Cláudio cometesse tal coisa! Decidiu libertá-la.
Fugindo antes que Cláudio voltasse, ela teria chance de não ser pega por ele de volta.
Virou-se para Gabriele e disse:

_ Gabizinha, foge agora, antes que Cláudio volte com os caras.. Vai, e não para de correr, até achar alguém que te ajude e te leve sã e salva. para as autoridades.
_ Mas e você, Uriel? Cláudio vai te matar, se souber que você me deixou ir!
_ Não se preocupe lindinha, eu sei me cuidar, sou bem mais forte que Cláudio...
Disse isso, mostrando os músculos bem trabalhados que tinha...
Ela sorriu... Sabia disso, só o tamanho de Uriel, já assustaria qualquer um!
Ele a pôs no colo e deu um beijinho no rosto dela, depois disse colocando-a no chão novamente:

_ Vai, Gabi , agora!
_ Tá... Não vou te esquecer Uriel, você foi bom pra mim... E não foi você quem matou meus pais, foi o Cláudio, e ele, eu não vou perdoar nunca!
Saiu chispada dali, correndo, até encontrar um DPO, e dali em diante foi o resto de sua vida...
Mas Uriel não teve sorte:

Quando Cláudio chegou procurando a menina, soube de imediato que ele a havia deixado escapar.
A briga foi rápida, Uriel tinha vantagem nítida sobre Cláudio, mas uma fatalidade aconteceu:
Recebendo um golpe mais forte, caiu e bateu com a cabeça na mesa de granito, e com o traumatismo craniano, veio a falecer...


Cap 2


A menina de antes, já era agora uma mulher.
Tinha escolhido a vida de policial para poder um dia, com sorte, prender o assassino de seus pais.
Cada dia, era alimentada pelo sentimento de vingança. Em seu coração, não havia lugar para o amor até aquele momento. Apenas o ódio a nutria.
Enquanto não colocasse o assassino na cadeia, não sossegaria.
Gabriele seguia pistas já um bom tempo, mas não conseguia prender o bandido, ele escapava, como areia entre os dedos...

Cláudio tinha um filho: Joseph.
Ele fora criado por sua mãe e a família. A mãe, Ângela, o mantinha longe de qualquer contato com o pai, por ser um marginal. Temia que o filho se deixasse levar pela sedução do crime. Mesmo assim, ele sabia das atividades do pai pelos noticiários, jornais e vizinhança...
Dentro da mente de Joseph, se passava um 'orgulho às avessas', pelo pai famoso, inteligente, que sempre escapava da polícia.
Mas no fundo, era mais do que isso:
Joseph era um psicopata, atos criminosos para ele eram coisa diária...
Ninguém imaginaria o que ele fazia nas horas que não estava trabalhando, ou com a família e estudando com os amigos da faculdade...
Tinha fama de excelente rapaz, era gentil com a vizinhança, bonito e sedutor, trabalhador e inteligentíssimo, tanto que iria se formar bem antes do resto dos amigos de turma...
'Um sujeito acima de qualquer suspeita', como se diz por aí...
Mas esse é mesmo o perfil de um psicopata: inteligente e sedutor.

Joseph fazia suas vítimas de forma fácil, através de sedução para levá-las a beber ou comer qualquer coisa que ele servisse, onde já estava preparado um narcótico.
Assim, 'caíam por terra', e ele as levava para uma casinha que havia sido esquecida pela família, numa propriedade rural.
Ali, ele as depositava no porão. Quando elas finalmente acordavam, já estavam presas nas pilastras, com um tampão na boca, pés e mãos atados.
Seu maior prazer era a tortura. As vítimas gritavam ( ele retirava o tampão para ouvir os gritos ),  e se deliciava, como se isso fosse uma sinfonia...
Suas vítimas eram moças e rapazes, e já contavam cinco:
Dois homens e três mulheres. Todos seduzidos pela beleza de Joseph...
Ele tinha dois ajudantes para os raptos, que eram seus amigos de faculdade.
Eles o viam como "um ídolo", participando sem pestanejar, de tudo que ele fazia.

Uma das moças que fora raptada, já estava totalmente sem cabelos porque ele raspou sua cabeça, pois sabia que sua maior vaidade estava ali, sempre trocando de cor e corte... Em outra, ele queimou os braços, e na terceira, cortou o lábio superior.
Com os rapazes, ele açoitava com um chicote e os fazia pedir clemência.
Nunca alguém acharia que ele tinha alguma coisa com os raptos da cidade.
Mas ele tinha um motivo que despertou o seu 'lado negro', até então escondido dentro de seu ser:
Desde que viu pelo noticiário, que seu pai foi morto pela troca de tiros com Gabriele e seu companheiro de ronda, ele jurou vingança, tal qual ela no passado, fizera...


Final


Joseph passou a deixar um envelope todos os dias, na caixa de correio da casa de Gabriele.
Dentro do envelope, apenas um coração desenhado, com um "V" cortando, numa folha de papel.
Ela sentiu o 'cheiro de ameaça' no ar. Ficou mais atenta, alguém estava certamente de olho nela, talvez alguém que ela prendera e tinha saído da prisão...
Enquanto isso, Ângela notou nos dias decorrentes que o filho estava agindo diferente, andava saindo muito, pouco estava com a família, e quando chegava em casa, mesmo aparentando tranquilidade, via um brilho estranho em seu olhar... "Mãe sabe dessas coisas", pensou.

Um dia, ele decidiu segui-lo. As saídas de Joseph, já estavam sendo a qualquer hora, até de madrugada.
Deixou que ele e os dois amigos saíssem e arrancou com seu carro atrás, mantendo distância, para que não percebessem sua presença.
Viu que se dirigiam para a casa do pequeno sítio. Estacionou o carro distante da porteira.
Seguiu andando até chegar na casinha, e viu os sons que vinham do porão:
Eram gritos de socorro! Ângela olhou por uma fresta e viu as pessoas presas lá dentro, sendo torturadas por seu filho e seus comparsas...

Ficou aterrorizada com a cena, saiu dali correndo para pegar o seu carro e chamar a polícia.
Na delegacia, falou diretamente com Gabriele, porque era a encarregada do caso dos raptos na cidade.
E quando Gabriele soube que Joseph era filho de Cláudio com Ângela, entendeu os envelopes que chegavam todos os dias em sua caixa de correio:
Era um "V" de vingança, pela morte de seu pai, Cláudio, e o coração cortado, representaria o seu, que seria magoado...
Não existia mais dúvidas. Tratou de pedir reforços e uma ambulância para as vítimas seriamente machucadas.
Ângela foi com ela, para acompanhar tudo. Mal podia acreditar no monstro que seu filho havia se tornado!

Gabriele entrou na casa com os outros policiais, sem que Joseph e os amigos esperassem, foram assim, facilmente rendidos.
Ângela deixou o choro cair enfim... O filho herdara a criminalidade do pai, o que ela mais temeu por anos a fio...
Os olhos de Joseph fitaram por instantes, Gabriele. O ódio contido ali doeu-lhe até a alma...
Foram levados Joseph e seus dois amigos para a delegacia, e perguntado pelo delegado, porque cometera tal coisa, ele respondeu com frieza:

_ Gostava de ouvir os gritos de desespero das vítimas, era como se fossem de Gabriele...

Depois de um julgamento que não demorou a acontecer, foram condenados.
As vítimas, primeiramente foram para o hospital, e dias depois da alta, tiveram a assistência de psicólogos para ajudar no tratamento do grande trauma que passaram...
Meses depois do acontecido, Gabriele já pensava em abrir seu coração para o amor, conhecer alguém e formar uma família...
Mas seus planos foram deixados para o futuro:
Ao ligar a TV naquela manhã, viu no telejornal, a notícia da fuga no presídio onde Joseph se encontrava, ele estava na lista dos fugitivos...

Fim

Fátima Abreu

NOTA: ESSE CONTO, FIZ PARA ATENDER UM DESAFIO QUE ME FIZERAM, MAS, NÃO É O TIPO DE COISA QUE EU GOSTE DE ESCREVER, QUERO DEIXAR BEM CLARO ISSO.



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