Capt I
AS VISÕES
Januário, tinha apenas 20% de visão, o diabetes causado pelo uso contínuo de corticóides, devido a uma doença, fez com que ele gradativamente fosse perdendo a visão, além das cataratas nos dois olhos..
Mas ele enxergava além da visão natural dos seres humanos:
Podia visualizar outras dimensões paralelas, ao orbe terrestre...
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Certa vez, estava ele em seu quarto, quando se sentou na beira da cama, e olhou fixo para um ponto do armário. Dora, sua esposa, perguntou porque fazia isso, ele disse para que ela ficasse quieta uns instantes pois estava vendo uma coisa linda ali!
Dora sentou-se ao lado, e esperou...
Ele colocava a mão direita para o alto, e dizia estar passando a mão do outro lado, em uma dimensão diferente, podia ver a paisagem, podia tocá-la, tudo era muito colorido, mas os tons de laranja e vermelho claro, eram a maioria... Ele via montanhas, vales, três luas no céu... Disse que era como uma pintura fresca, gelatinosa talvez, como se fosse a matéria ali, fácil de se desfazer...
Ele podia sentir tudo que se passava ali, do outro lado, onde sua mão tinha passado. Depois de instantes de contemplação, ele recolheu a mão, e disse ter acabado a visão...
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Outras vezes, ele enxergava épocas distantes do passado da Terra, se via no Império Romano, como um centurião, ou ainda, um monge que vagava por ruas escuras com uma lamparina clareando seu caminho...
Uma vez, disse que estava em pleno deserto do SAARA, e nesse momento ele realmente falou uma língua diferente, que para os ouvidos de Dora, era inexplicável!!!
Mas um caso inusitado, foi quando ele e Dora, foram juntos esperar sua filha do meio, fazer uma ultrassonografia uterina, porque naquela época, ela estava grávida de 5 meses. Eles ficaram do lado de fora sentados enquanto ela fazia a ultra...
Ele olhou casualmente para seu relógio, e viu o bebê ali, como se fosse o visor da ultra! E descreveu para Dora, como a neném estava:
Com o bracinho direito atrás do pescoço...
Ao sair da sala da ultra, a filha deles, disse:
_ Agora deu para saber o sexo!
Ele respondeu:
_ É UMA MENINA QUE POR SINAL, ESTAVA COMO O BRACINHO ATRÁS DO PESCOÇO, FAZENDO POSE...
_ Pai! Como sabe disso?
_ Eu vi... Apareceu bem aqui no meu relógio...
Um silêncio cobriu aquele momento, se olhavam espantados, a prova ali, nas mãos dela: Abriu o envelope, e a ultra foi olhada, lá estava a menina naquela posição!!!
Mistérios...
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Capt II
A VISÃO DA MORTE
Januário com sua paranormalidade, enxergava além do que os olhos do ser humano normal, podiam ver: outras dimensões, outros seres, outras épocas...
O ano era 2001...
Certa vez, Januário resolveu plantar milho no terreno da casa que tinha alugado, até que encontrasse uma para comprar, pois nessa que ele estava, era de 'posse', sem documentação, e ele não iria correr o risco de comprar um imóvel sem os devidos papéis em dia legalmente...
A casa era pequena, mas de grande terreno.
Tinha apenas 1 quarto, sala, cozinha e banheiro, Januário queria comprar uma de 2 quartos, porque ele e sua esposa, tinham uma filha de 4 anos e meio. O ideal era que ela tivesse o próprio quarto já que havia saído do berço...
Mas, voltando ao desejo que ele teve de fazer seu milharal:
Já que a propriedade era grande, comprou os grãos roxos de milho, porque lhe disseram na loja agrícola, serem os melhores para esse tipo de plantação artesanal...
Ele, a esposa e a pequena Catarina, fizeram o plantio durante uma manhã. E nos dias seguintes molhavam na parte da tarde, cuidando com carinho...
Quando o milharal se formou, Januário ficava sentado entre os pés de milho, tomando uma 'fresca' de tardinha e observando sua obra.
Até que chegou a época da colheita...
Januário estava ansioso para colher o produto de seu esforço, e nesse dia, se sentou como de costume, entre os pés de milho para começar a retirada, foi quando algo estranho se deu:
Ele viu a figura mórbida da MORTE!
Tal qual aparece nos filmes, desenhos, contos...
Uma entidade que ele imaginou que fosse apenas fruto da criação humana, mas que estava ali, em sua frente, do outro lado do milharal: De capa preta, rosto enevoado e foice...
Ele ficou nervoso, e achou que isso queria dizer que estava prestes a morrer, revelando para sua esposa, o que havia visto minutos antes...
Certo é que, ele durou ainda, exatos 7 anos,( 2008 ) desde o dia que viu 'A MORTE'...
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Capt III
Januário não imaginava antes, o quanto serviu de equilíbrio para uma história tão bonita sobre o menino Pedro. Usando de sua paranormalidade, aqui ligada diretamente à mediunidade, serviu de aparelho para um espírito aflito e triste se abrir e finalmente alcançar um pouco de alegria...
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O CASO DE PEDRINHO
Ele era escurinho como a noite, seus dentes muito alvos reluziam...
Ficara órfão muito novo ainda, e teve que se virar prematuramente pelo mundo a fora...
Logo depois da morte de seus pais no rio, (quando uma enchente daquelas subiu o nível, eles se afogaram) ele teve que fugir aconselhado por um vizinho, pois o colocariam em um orfanato. Isso para ele era o mesmo que prisão, e só sairia de lá quando estivesse em idade para cuidar de si mesmo... Era muito tempo, não podia esperar!
Quando saiu do cemitério, passou na pequena casa e pegou uma malinha, colocou suas poucas roupas e algum dinheiro que ele sabia que sua mãezinha havia guardado, antes de sua morte, dentro de um pote, na cozinha...
Foi embora dali, olhando para trás, se despedindo do lugaR.
Ali ele nunca mais voltou.
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Pedro sabia ler, escrever e fazer contas, mas apenas isso, pois quando seus pais morreram, ele deixou de estudar e saiu pelo mundo pedindo carona aqui e ali... Muitas vezes, ia na boleia dos caminhões, em outras, na carroceria junto com as mercadorias que os motoristas transportavam. Assim, ele se virava, conhecendo vários lugares do Brasil, fazendo um servicinho aqui e ali para garantir seu "prato feito"
em alguma pensão de beira de estrada...
Pedro estava sempre triste... Sentia-se solitário, sem ninguém no mundo...
Quando contava 15 anos, Pedro morreu, vítima da meningite que estava no nordeste. Ele teve uma fortíssima dor de cabeça e febre, durante 2 dias, e se foi...
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Pedro abriu os olhos, a cabeça ainda doía! Olhou em volta e pode avistar uma senhora idosa, de seus 65 anos, vindo em sua direção. Ao fundo, uma pequena casa, muito bonitinha, um cachorro e uma cerquinha pintada de branco demarcando o pequeno sítio.
A senhora lhe deu a mão para que levantasse do gramado. Disse então, com muito carinho na voz:
_ Olá, Pedrinho! Estava te esperando, venha comigo para dentro de casa.
Ele meio tonto ainda, obedeceu a senhora apoiando-se no braço dela. O cachorro vinha logo atrás deles...
Ao abrirem a porta, ele foi logo perguntando:
_ Senhora, onde estou? Pensei até que estava morto, pela dor e febre que ando sentindo...
_ De certa forma está, Pedrinho. Pois não pertence mais à Terra... Aqui é o seu novo lar, o que foi designado para você, juntamente comigo e Rex, o cachorro...
_ Mas se estou falecido, porque falo, sinto, ouço, vejo?
_ É a realidade do espírito. Ele não morre, apenas o corpo.
Ele nada disse mais, ficou somente olhando cada detalhe de onde estava. Havia muitas dúvidas em sua cabeça:
Por que não vieram seus pais para lhe acolher? Onde estavam? Por que não escurecia, pois já estava um bom tempo ali, e não vira em nenhum momento, traços de anoitecer... Essas, eram apenas algumas das muitas questões para serem respondidas pela senhora.
Ela leu seus pensamentos, começou então, respondendo a primeira pergunta:
_ Seus pais não vieram Pedrinho, porque há muito tempo já voltaram para a Terra, estão encarnados novamente. Quanto aqui não escurecer, é porque você está num bom plano astral, sofreu seus bocados na Terra, merecia ter um bom local para viver, e só tem escuridão nos planos mais baixos, que são dos espíritos em atraso espiritual: como assassinos, suicidas e outros... Não cabe a ninguém julgar, apenas as forças superiores.
Você se acostuma com o tempo com essa nova vida, olha, pode experimentar coisas que na Terra, preso pela carne, não podia, quer ver?
_ Sim, mostre alguma dessas coisas, senhora.
Ela volitou em sua frente. Pedro ficou de boca aberta, espantado.
_ Isso se chama volitar, Pedro. Como voar, flutuar...
E pegando a mão dele, o levantou do chão, para mostrar que ele podia fazer o mesmo, naquele momento...
_ E como a senhora sabia, o que eu estava pensando antes?
_ Aqui também desenvolvemos a telepatia, Pedro. Além disso, podemos 'plasmar' algumas coisas, para agradar a nossa vida, veja...
Ela plasmou com seu pensamento, um buquê de flores, e deu de presente para Pedro.
Ele ficou encantado!
Com o passar do tempo, foi descobrindo muitas coisas nessa nova realidade, onde estava... Mas de vez em quando, uma triteza lhe batia:
Gostaria de ver mais pessoas, além da senhora e do cachorro Rex... Achava-se muito só, sem ter alguém de sua idade para conversar, jogar uma bola... Certa vez perguntou para sua mentora:
_ Senhora, porque nas 'colônias' tem muitos espíritos, fazendo várias coisas, e aqui somos apenas nós? Porque não saímos daqui para visitar outros lugares desse mundo espiritual?
_ Sabe, Pedrinho, é um pouco complicado te responder... Mas pense assim: Nas colônias estão vários grupos, realizando diversas funções para que foram determinados, como numa grande cidade da Terra, e aqui, é como se estivéssemos no interior desse município, cuidando da nossa vidinha pacata do sítio.
Mas, se quiser ir até a Terra, você terá permissão, quer olhar como o mundo mudou, desde quando você desencarnou?
_ Sim, quero senhora! Pelo menos saio um pouco daqui...
Ele descobriu nas suas andanças de visita, que os médiuns poderiam enviar mensagens ditadas pelos espíritos... Procurou um médium que vibrasse na mesma sintonia que ele, e achou Januário.
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Januário passou a servir de aparelho para Pedrinho. Mas sempre ele vinha muito triste...
Passados meses, a senhora, sua mentora, disse-lhe:
_ Se prepare Pedrinho: Logo passará pela 'câmara do esquecimento', para regressar através da reencarnação, à Terra...
_ Quer dizer que vou finalmente sair daqui? Vou renascer?
_ Sim, vai. Desta vez, será feliz! Pois merece acabar com essa tristeza em que sempre viveu...
Pedrinho usou de seu aparelho Januário, mais uma vez, deixando a mensagem:
_ Estou me despedindo, agradeço muito a acolhida, mas em breve estarei de novo, no mundo dos vivos, vou reencarnar...
Mesmo assim, ele chorou...
Perguntado por um familiar de Januário, por que chorava, ele respondeu:
_ Esse choro agora, é de alegria: Representa o fim da minha tristeza...
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Nunca mais se ouviu falar de Pedrinho, porque ele já havia reencarnado:
Um menino ou menina, que andava agora com sua nova família, em algum cantinho do planeta Terra...
Fátima Abreu