Manuela encontrou uma cozinha que precisava de arrumação.
Certo, primeiro comeria ao lado de... Quem ele era mesmo?
Percebeu que ainda não sabia seu nome, e ela por sua vez, também não havia se apresentado!
Ele puxou uma cadeira para que ela se sentasse, dizendo:
- Sirva-se do que quiser: Temos café, leite, suco de laranja, bolos, pães, geleias e biscoitos. Só não tenho frutas no momento...
- Ora, não se preocupe: Isso tudo é mais do que esperava para meu primeiro 'café da manhã', em um novo estado! Pensei que tomaria um simples café expresso e umas duas torradas com geleia, em alguma lanchonete...
- Ah, veio de outro estado?
- Sim, sou professora de classes infantis. Busco um novo emprego aqui. Mas se não arrumar outro, continuarei professora mesmo... O que me aparecer primeiro, eu agarro 'com unhas e dentes'! Precisarei me manter...
- Compreendo... Olha, por acaso tem uma vaga na lanchonete de um conhecido...É no centro comercial, estaria disposta?
- Oh, sim! Tenho que trabalhar o mais rápido possível, porque como pagaria algum aluguel e comeria?
- Quanto ao aluguel não se preocupe. Pode ficar aqui na minha fazenda, não cobrarei nada. Tem quartos de sobra! Apenas peço que quando puder, dê uma ajeitadinha nessa cozinha. Já deu para perceber que precisa de uma alma feminina por aqui...
- Só isso, cuidar da cozinha? Não tem mais nenhuma outra coisa que eu possa fazer, para agradecer pela estadia em sua fazenda?
- Não precisa, porque tenho uma pessoa para lavar e passar a roupa para mim.
- Ah, sim... Mas não tem arrumadeira. Pois se tivesse, a cozinha estaria um "brinco"!
- É verdade... Arrumadeira eu não tenho. As moças não gostam de trabalhar na casa de solteiros, sabe como é... Tem medo que eles tentem algo com elas...
- Então a pessoa que lava e passa sua roupa, é uma senhora, presumo...
- A D. Eulália? Ela poderia até ser minha mãe! É uma senhora rabugenta, mas no fundo boa pessoa...
- Está combinado então nos meus termos: Cuido da cozinha e do resto da casa, quando não estiver no horário de trabalho da lanchonete. D. Eulália continua com as roupas.
- Certo. Se quer cuidar da casa também, que seja! Mas, fica registrado que eu não te pedi isso!
- Sim, sim... Faço porque, afinal, gosto do trabalho doméstico também.
- Deve ter sido uma boa esposa para seu falecido marido...
Disse isso, olhando a aliança que ela ainda usava.
- Ah, sim...Ele que não foi bom para mim... Mas isso é passado. Quero recomeçar a vida aqui, quem sabe eu até seja feliz?
- Espero sinceramente que sim. Pois noto um tom de amargura na sua voz...
- Deixe isso esquecido, certo? Não falemos de tristezas... Ainda não me disse seu nome!
- Tampouco disse o seu.
- Sou Maria Manuela Ramirez. E agora, você é...(?)
- Alejandro Hernandez De Castillo, médico.
- Ah, muito prazer, Señor Doutor Alejandro...
Manuela disse com um sorriso debochado, e apertaram as mãos se cumprimentando.
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No comecinho da tarde, Manuela foi até a farmácia da cidadezinha para comprar tinta para seu cabelo.
Depois, pensando melhor, aproveitou o resto de suas economias para ir ao cabeleireiro:
Além de pintar, iria cortar o cabelo. Entrou então, em um dos dois únicos salões que a localidade tinha.
Por esse motivo, estava lotado.
As fofoqueiras 'de plantão', notaram logo que a moça loira, de cabelos longos que entrara ali, era uma forasteira.
Manuela queria mudar sua aparência antes de se apresentar para a vaga na lanchonete no dia seguinte.
Deixando assim, a antiga dona de casa e professorinha no passado.
Alejandro ficou surpreso ao reencontrá-la já à noitinha: Parecia outra pessoa! Como um corte de cabelo atualizado, e uma tintura, podem deixar uma mulher já bela, mais linda ainda!
Percebeu que durante o tempo que ela esteve em casa, fizera o jantar, dando finalmente o 'jeitinho' na cozinha, que somente uma mulher saber dar: Tudo estava organizado e limpo.
A comida deliciosa...
Alejandro então, no final do jantar lhe disse:
- Manuela, faz muito tempo que não como um prato tão saboroso! Lembrou a comida caseira da minha mãe...
- Porque é comida caseira, ora! Só não deu tempo de fazer uma sobremesa, porque estive no salão bastante tempo. Mas, no jantar de amanhã, teremos uma torta de maçã bem apetitosa, garanto!
Riram juntos...
Depois, ela lavou a louça, e Alejandro enxugou enquanto conversavam animadamente.
O telefone tocou e Manuela foi atender. Era alguém do hospital dizendo ter uma emergência para o Dr. Alejandro. Ela passou o fone para ele, que balançando a cabeça afirmativamente, disse:
- Prepare a maca. Já estou indo para o local do acidente!
Imediatamente, ele pegou sua maleta e vestiu o jaleco branco para sair. Acenou já na porta para Manuela e disse:
- Obrigado pelo bom jantar, durma bem.O dever me chama.
Ela fez que sim com a cabeça. Foi para a sala, assistiu um pouco de televisão e depois já com sono, seguiu para o quarto que havia escolhido.
No dia seguinte teria de estar bem descansada: Sabia que para trabalhar numa lanchonete teria que ser muito rápida e eficiente.
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Quando Alejandro finalmente chegou em casa, lá pelas seis horas da manhã, ela já estava de pé com o café prontinho. Cansado, foi tomar um banho para sentar-se com ela e fazer a primeira e mais importante refeição do dia.
Depois ele dormiria um pouco... Antes porém, deixou uma carta de recomendação prontinha para que Manuela apresentasse ao gerente da lanchonete. Deu-lhe o endereço do local também.
Ela agradeceu e arrumou novamente a cozinha, lavando a louça usada, para depois trocar-se para ir ao centro da cidadezinha.
Mas subitamente, Alejandro voltou-se para ela dizendo:
- Acho melhor eu mesmo levá-la até meu conhecido, o gerente.
- Não é preciso, vou caminhando até lá! Durma, porque está cansado: Foi uma noite muita longa trabalhando no hospital.
- Imagine! Pior deixar que ande dois quilômetros na estrada, e chegue suada para apresentar-se!
Sem dar tempo para que ela dissesse algo mais, ele a pegou nos braços, saiu porta a fora, e a colocou na caminhonete que usava para carregar o feno.
Foi o começo do segundo dia juntos...
Fátima Abreu